Ex-prefeito Miguel Schwengber
Duas vezes vereador (2001 a 2008), uma vez prefeito (2009 a 2012) e outras duas vezes candidato, Gerson Miguel Schwengber por ora está deixando a política. Aos 52 anos, prestes a inaugurar um novo empreendimento na cidade, ele afirma que não concorrerá em 2020 – apesar da incredulidade e insistência de alguns.
Miguel nasceu em Santa Cruz do Sul, é professor de História e tem pós-graduação em educação ambiental. Veio para Dois Irmãos em 1989 e leciona há 24 anos. É casado com Mara Regina Schwengber e pai de Marvin Rangel, 15 anos. Nesta entrevista, ele faz uma análise sobre Dois Irmãos e conta um pouco do investimento da família na abertura de uma cervejaria na Rua Pedro Gregórius, num ponto privilegiado da cidade.
Como vê Dois Irmãos hoje, aos 60 anos de emancipação?
Miguel - Vejo Dois Irmãos com um olhar muito otimista. Vejo que a cidade tem uma característica de crescimento, fruto de uma população com uma cultura de origem germânica, cuja base é a ética do trabalho, de poupar, de investir. Os dois-irmonense qualifica muito o lugar onde ele vive, e isso torna a cidade diferente. As pessoas que não têm origem germânica, de colonização alemã, acabam sendo influenciadas e pegando esses valores. É uma correia de transmissão, em que esse caldinho cultural acaba se diferenciando na região. Por que tanta gente gosta de vir para cá? Porque é uma cidade arrumada, fruto do povo que zela, cuida e trabalha por isso. Muitas pessoas de bairros não têm renda, mas botam a mão no trabalho da sua própria casa. Tivemos uma migração acentuada nos anos 1970 e 1980, que era do êxodo rural, de pessoas que vieram para trabalhar no calçado. O que nós vemos hoje é outro tipo de migração. Não é uma enxurrada, mas são pessoas que vêm da Região Metropolitana porque aqui é diferente, porque aqui tem uma infraestrutura, é bonito e tem segurança.
Eleito pelo PT em 2008, o senhor rompeu uma unidade de décadas em torno de MDB e PP no município. Qual foi a importância disso para Dois Irmãos?
Miguel - Posso dizer que a gente rompeu um paradigma e construiu outro. A gente deu um ritmo para a administração, implementou muitos projetos que não existiam, que não tinham esse olhar, e colocamos isso em prática. Com muita vontade de trabalhar, a gente implementou linhas que deram um rumo, e muitas delas estão aí, mantidas. Uma das coisas que nós fizemos de novidade, que não existia, foi dar um ritmo de elaboração de projetos para captar recursos, pois havia muitos recursos tanto no governo federal quanto no estadual. Fizemos parcerias com deputados de todos os partidos. Aqui no Estado, por exemplo, estávamos no governo da Yeda (Crusius, do PSDB) e conseguimos R$ 1,5 milhão para o asfalto da Estrada Campo Bom. Colocamos mais R$ 1 milhão e fizemos aqueles 3 km que faltavam. Fizemos parcerias com muitos ministérios que não eram administrados por nenhum integrante do partido. A gente captou em torno de R$ 25 milhões, o que na época era uma coisa totalmente nova.
Isso se traduziu em infraestrutura na educação, por exemplo: foram duas creches, uma no São João e outra no Beira Rio. Nas escolas, com dinheiro próprio, nós fizemos três quadras cobertas (Affonso Wolf, Arno Nienow e Carlos Rausch) e um ginásio (29 de Setembro). Fora isso, teve a compra de uma creche que nós pagávamos aluguel há 12 anos (Bons Amigos) e cinco outras nós ampliamos. Assim, duplicamos o número de vagas numa parceria com a FADI. No meio ambiente, fomos referência no Estado com o Plano Municipal de Saneamento; fomos o primeiro município a fazer. Recebemos muitos recursos, tanto que, na Usina de Reciclagem, tudo que a gente recebeu foi porque fizemos a nossa lição de casa. Tem também a diversificação da nossa economia. Quando fechou a Maide, a gente não teve dúvidas de trazer a Usaflex – fui quatro vezes lá para conseguir. É do ramo calçadista também, mas nós precisávamos de emprego no lugar da Maide que fechou meses antes de eu assumir. Conseguimos fazer o Parque Industrial: tiramos do papel, botamos toda a infraestrutura, as empresas e adquirimos mais de 3,5 hectares para ampliação.
Do que sente mais orgulho no seu mandato?
Miguel - Da habitação, e não é pouca coisa. (Miguel se refere ao Residencial das Flores, no bairro São João, com 240 apartamentos). Nós fizemos, num projeto só, mais habitação do que todos os governos somados, anteriormente a mim e depois também. Mais do que isso: é o melhor projeto nacional para aquela faixa de baixa renda. Comprei por R$ 300 mil dois hectares, uma área ampla que permitiu vagas de estacionamento para todos os apartamentos dentro do condomínio. Nós demos a condição de botar um diferencial na arquitetura; não ficou ‘caixinha de fósforo’. E botamos uma sacada, que não existe em lugar nenhum para aquela faixa de renda. Isso me orgulha muito, mas não foi um trabalho fácil. Tivemos que mudar leis no município, trazer a Caixa Econômica Federal por duas oportunidades para convencer os vereadores, dentro da Câmara, de que o projeto era sério, era bom e era importante. Nós insistimos neste projeto, quando ninguém ousava falar em habitação verticalizada para racionalizar os terrenos.
Qual sua avaliação sobre a atual administração, que vem desde 2013?
Miguel - Depois da minha saída da prefeitura, fiquei satisfeito ao ver que muitas obras que eu tinha iniciado foram concluídas, tiveram seguimento. Muitas coisas que não estavam iniciadas, mas tinham projetos aprovados e recursos pagos, tiveram continuidade. Acho que a marca do primeiro governo Tânia é a de concluir as obras que o Miguel começou, e eu fico feliz que isso aconteceu. Venho acompanhando a administração, e neste sentido acho que está faltando mais ímpeto, iniciativa e vigor para dar esse mesmo ritmo que nós tínhamos implementado. Porque nós temos espaço para fazer mais. Acho que a cidade está bem. Fico feliz que foram realizadas obras que nós deixamos encaminhadas e iniciamos.
O senhor disputou as três últimas eleições. Pensa em ser candidato em 2020? Por quê?
Miguel - Não. Tenho pouca vida partidária, praticamente não estou participando porque estou envolvido em outro projeto, e esse outro projeto me consome inteiramente. Para administrar uma cidade, é preciso ter tempo disponível integral, dedicação plena; não dá para dividir com outras atividades. A atividade que eu estou iniciando vai precisar de mim integralmente também. Honestamente falando, não dá. As pessoas não acreditam que eu estou fora da disputa. Eu venho dizendo que não, mas elas não acreditam: vão na minha casa, me mandam mensagem, perguntam se podem contar comigo, e eu sempre digo, categoricamente, que não. As pessoas insistem, e eu digo que não. E digo por que: porque hoje eu estou à frente de um empreendimento que necessita única e exclusivamente da minha pessoa para tocar, então não posso me dividir.
Sabe-se que o senhor está construindo uma cervejaria na zona norte da cidade. O que pode contar sobre isso?
Miguel - É um projeto que já estava na minha cabeça há mais tempo. O projeto é um ‘Brew Pub’. ‘Pub’ é bar, lugar, estabelecimento onde se bebe cerveja. ‘Brew’ é lugar, estabelecimento onde se produz cerveja. No mesmo lugar, vai se produzir e receber pessoas voltadas para a cerveja. O prédio está sendo pensado desde o início não apenas para fazer cerveja, e muito mais para receber as pessoas. E aí essas pessoas também irão conhecer a cervejaria, as portas ficarão abertas para elas visitarem a fabricação, que fica na parte de baixo. Em cima, vamos receber as pessoas para sentar, degustar uma cerveja e beliscar alguns pratos.
Como surgiu a ideia?
Miguel - Nunca fizemos cerveja para ninguém, a gente só fazia para nós, e isso antigamente. (Miguel se refere a sua família, que é de Santa Cruz do Sul). Com o tempo, foi amadurecendo a ideia do negócio. Lembro que quando eu estava na prefeitura, o Miguel Engelmann veio mostrar o projeto da cervejaria (Hunsrück), e eu disse que também estava pensando em fazer. No ano passado, quando comecei a obra, eu fui lá falar com ele, porque queria que ele soubesse de mim que eu estava começando meu projeto. Aquele terreno (na Rua Pedro Gregórius) é meu há quase 20 anos, e era para fazer a minha casa. Eu moro bem e sou feliz no Travessão, mas sempre pensei em fazer minha casa ali porque teria uma vista muito bonita. Nesse tempo todo, o projeto muda. A gente tem que ter planos e projetos, mas isso não quer dizer que a gente deva morrer com eles. Agora, aquele terreno foi olhado para fazer esse empreendimento.
Quem comandará o negócio e quando será a inauguração?
Miguel - Vou cuidar de tudo. Estou encarregado de tocar todo o projeto. Temos um plano, uma carta de negócios. O prédio em si já está pronto, mas não faço mais previsão de inauguração. Estamos construindo há um ano e três meses, a gente já queria estar aberto, mas uma série de fatores influenciou no contrário. Nossa expectativa é abrir ainda este ano. Já temos o nome da marca, mas por enquanto não posso divulgar por uma questão de estratégia comercial. Os equipamentos já estão na cervejaria e estamos concluindo as instalações. Posso dizer que vamos deixar o ambiente bem bonito para embelezar ainda mais a cidade, e esse é o propósito do projeto desde o início. O projeto tem um apelo turístico muito forte, e a gente vai trabalhar muito neste sentido.
O que esperar dos próximos 60 anos de Dois Irmãos?
Miguel - Acho que Dois Irmãos está fadada a ser uma cidade diferenciada, pelas características que eu já elenquei. Estamos localizados na ‘franjinha’ da Região Metropolitana, com um pé na Serra. Temos aqui um corredor da Rota Romântica, e eu vou valorizar muito a Rota Romântica. Aliás, tem uma surpresa do nome do negócio, que vai homenagear uma cidade alemã. Dois Irmãos é um município que está fadado a dar certo pelas condições que nós temos, pelo povo que tem esta cultura da ética pelo trabalho, de poupar. É aquilo que em economia a gente chama de ter um excedente guardado para utilizar nas eventualidades ou melhorar alguma coisa na propriedade, na casa. Isso faz toda a diferença para esta cidade ser assim bonita. Vejo que Dois Irmãos tende a continuar assim e com uma característica: ela a vai se diversificar economicamente. O calçado não vai ser a nossa âncora como já foi. Éramos 10 mil pessoas trabalhando no calçado quando a população era de 20 mil; hoje, somos 30 mil e não tem 5 mil trabalhadores no calçado. A tendência é o calçado participar menos do ‘case’ de negócios da cidade. Olha o caso de Porto Alegre: não tem indústria; 97% da economia é terceiro setor, serviços, comércio. E essa é a tendência do mundo moderno: menos horas trabalhadas em fábrica e mais horas trabalhadas fora dela.
Prédio da cervejaria está sendo concluído e deve abrir ainda este ano