7 de Setembro
No dia 12 de dezembro de 1976, o Sport Club Internacional conquistou o bicampeonato brasileiro, ao derrotar o Corinthians na grande final. A vitória pelo placar de 2 a 0 teve gols de Dario e Valdomiro, num Beira-Rio tomado por mais de 80 mil pessoas.
Pois aquela tarde de sol e forte calor, inesquecível para os colorados, também não sai da memória dos setembrinos. Na preliminar da decisão, o 7 de Setembro, campeão da Encosta da Serra, enfrentou o Clarão da Lua, campeão de Porto Alegre. A partida valia uma vaga no quadrangular final do Estadual de Amadores, numa época em que a competição era dividida inicialmente por regiões.
– Como o campo do Clarão da Lua era mais precário, não estava totalmente fechado, a federação marcou o jogo no Beira-Rio. O público era de 82 mil pessoas. Naquela época, cabia tanta gente porque o Inter tinha a chamada ‘Coreia’ (popular), que ficava ao redor do gramado, do lado do fosso. Se hoje o ingresso custa 100 reais, naquele espaço seria 10 pila. O nosso jogo iniciou às 13h30, e o estádio já estava lotado. A gente não ouvia praticamente nada, parecia um enxame de abelha – conta Geraldo Kolling, 70 anos, que esteve em campo naquele dia.
Na primeira partida, em Dois Irmãos, 7 e Clarão da Lua empataram em 1 a 1. Geraldo lembra que foi um confronto tumultuado, com duas expulsões para cada lado – pelo 7, Quinho e Leonardo, popular Batata, levaram cartão vermelho. No jogo do Beira-Rio, o campeão de Porto Alegre abriu vantagem de 2 a 0 no primeiro tempo, mas os setembrinos reagiram e viraram para 3 a 2 na etapa final, com dois gols de Gallak e um de Idi.
– Era um calorão, início do mês de dezembro, justamente no mesmo dia da Festa Popular da Igreja Católica em Dois Irmãos. Aquela festa lotava, não era como hoje, em que cada bairro tem a sua. E o pessoal estava acompanhando pelo rádio, mas com os 2 a 0 no primeiro tempo 90% não acompanharam depois a virada. Nosso adversário cansou no segundo tempo e nós começamos a jogar. Acho que o nosso massagista (Porto Alegre) nos levou uma água milagrosa no intervalo – brinca Geraldo.
Escalação setembrina
O time do 7 que entrou em campo no Beira-Rio tinha Rudy Scholles, popular Weiss (goleiro), Léo Holdefer (lateral-direito), Cinco Londeiro (zagueiro), Cláudio Dexheimer, popular Mic (zagueiro) e Reinaldo Hansen, popular Naldi (lateral-esquerdo); Paulinho Dilly (centromédio), Geraldo Kolling (meia-esquerda) e João Kolling, popular Piazza (meia-direita); Paulo Rosa (ponta-direita), Idi Silveira (centroavante) e Guerino Gallas, popular Gallak (ponta-esquerda). No banco estavam Jorge, Helio Koch, Branco, Zeca e Neori. O técnico era Nilo Klaudat, popular Chico, e os massagistas, Pepino e Porto Alegre. Suspenso, o zagueiro Leonardo Wendling, o Batata, foi a campo como dirigente.
Com a vitória, o 7 se classificou para o quadrangular final disputado no campo do 15 de Novembro, em Campo Bom, e terminou como vice-campeão estadual de 1976, assim como já havia acontecido no ano anterior.
Memórias do futebol amador
Geraldo atuou como meia-esquerda naquela partida histórica, substituindo Quinho, que estava suspenso. A meia era sua posição de origem, mas ele então jogava na lateral-esquerda. No Beira-Rio, quem atuou na lateral foi Naldi.
– O Naldi foi o melhor em campo naquele dia – diz Geraldo. – Aliás, foi naquele ano que eu comecei a jogar na lateral porque o Naldi estava com terceiro amarelo ou tinha sido expulso, e nós fomos jogar em Taquara. Foi a primeira vez que se ouviu que uma rádio ia transmitir o jogo, 7 x Taquarense. Era um dia de chuva, impressionante o que os caras ‘deram’ em nós, e nós ganhamos. Lembro que numa dessas o Leonardo se machucou, os caras pegaram ele pelas pernas e pelos braços e atiraram numa poça d’água para continuar o jogo. A gente pensou que não ia sair dali naquele dia, mas depois eles vieram nos cumprimentar na copa – recorda.
São lembranças de uma época em que futebol era por amor à camisa, em que ninguém recebia para jogar. Mais tarde, o formato da competição mudou, e o 7 acabou conquistando três estaduais e um sul-brasileiro nas décadas de 1990 e 2000.
No Beira-Rio, em 1976
Leonardo, Léo Holdefer, Paulinho Dilly, Mic, Cinco, Weiss, Naldi e Chico Klaudat (técnico); Paulo Rosa, Piazza, Idi, Geraldo, Gallak e Pepino (massagista)
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PALAVRA DO ARTILHEIRO
“Foi uma emoção quase épica”, diz Gallak, autor de dois gols naquele jogo
Artilheiro daquela tarde de dezembro de 1976, Guerino Gallas, o Gallak, relembra com saudade o momento vivido no estádio Beira-Rio.
– Foi uma emoção quase épica, escutando aquele barulho do estádio cheio. Para nós, era algo incomum. Sem falar na qualidade do gramado de um clube profissional. Nosso campo era aquele cheio de toquinho, ‘barba de bode’ que a gente falava. Lá era outra grama, não tinha como jogar mal – conta, entre risos.
Aliás, para essa turma de craques, os primeiros tempos do futebol eram nos potreiros.
– Bem no início, para poder jogar a gente tinha que limpar o campo com uma pá e carrinho de mão – diz ele, que jogou bola até os 61 anos, participando do Veterano do 7.
Em tempo: quase uma variação do próprio sobrenome, o apelido Gallak foi dado por amigos, inspirado no famoso chocolate Galak, da Nestlé.