Mercados são considerados estabelecimentos essenciais
Dois Irmãos tem mais de 30 comércios de alimento, entre mercados e supermercados. É um setor importante da economia local e o único que, desde o início da pandemia Covid-19, não precisou fechar portas. Hoje pela manhã, o Editor do Jornal Dois Irmãos, Alan Caldas, conversou com três desses supermercados, perguntando para eles, entre outras coisas, a razão do aumento que se viu nas últimas semanas em alguns produtos alimentícios. Acompanhe:
E os supermercados?
IRMÃOS SCHMITZ REGISTROU AUMENTO DE 35% NAS VENDAS
Jonatan Braun é supervisor da rede de supermercados Irmãos Schmitz, e, segundo ele, o setor de alimentos registrou aumento de 35% nas vendas nas últimas três semanas. Os produtos mais comprados foram os básicos, diz Jonatan: arroz, feijão, massa, ovos e farinha. “Nunca se vendeu tanta farinha”. Em contrapartida, a carne diminuiu, especialmente a de churrasco. “As pessoas estão comprando carnes mais baratas”. Houve, também, aumento expressivo na venda de papel higiênico.
Jonatan e sua equipe notaram nas lojas um aumento de pessoas com carrinho. “Antes eram mais cestas, e agora se viu os carrinhos”. Esse é um indicador de que a pessoa está comprando em maior quantidade. A razão, segundo Jonatan, “provavelmente se deve ao fato de as pessoas quererem ir menos ao supermercado e, por isso, fazerem compras para a semana inteira”.
E os aumentos de preço?
Jonatan diz que realmente teve itens que aumentaram bastante. O leite chegou a ter aumento de 60 centavos em litro para o supermercado. Os fornecedores alegaram safra, mas antes não se via esses aumentos, em igual época do ano. Chegou a faltar leite, disse Jonatan, e a saída foi reduzir a margem de lucro para não impactar tanto no cliente, “mas mesmo assim aumentou bastante”. Outros produtos também aumentaram, como ovos, leite, feijão e o álcool, que chegou a aumentos absurdos comparado ao que era.
A forma de comprar também mudou neste período de Covid-19. Jonatan diz que a rede tinha como padrão de venda 50% em cartão e 50% em dinheiro. “Nas últimas semanas, isso mudou para 65% em cartão e 35% em dinheiro”, informa ele. O Schmitz também tem crediário, a famosa venda “no caderninho”, quando o cliente compra e paga depois. Mas esse setor está se tornando preocupante para a empresa, pois já houve quem pedisse prorrogação do pagamento.
Quanto ao atendimento, as regras são as de higienização total, conforme indica o setor de saúde. E o atendimento ao grupo de risco é bem cedo, das 7h30 às 8h30, quando entram normalmente as pessoas de mais idade.
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Segundo João Paulo Fink:
“FARINHA E FERMENTO NUNCA SE VENDEU TANTO”
O movimento no Super Fink estava acima do normal, nas últimas semanas. Mas estabilizou de ontem para cá, segundo o proprietário João Paulo Fink. As vendas que ocorriam em maior volume eram as do básico: arroz, feijão, ovos e também farinha. “Ficando em casa, as pessoas fazem pão e bolo, nunca vendemos tanto fermento, também”. Além disso, se constatou aumento nas vendas de vodka, cachaça e vinho.
Para João Paulo, não há risco de desabastecimento. Alguns fizeram estoque, comprando mais do que compravam, “mas agora vão consumir esses produtos”. Segundo ele, isso vai forçar a baixa nos preços. “Já estamos notando redução em alguns produtos, como carne de porco e frango”. Segundo ele, a carne de gado não baixou a venda devido ao Covid-19, e, sim, devido ao aumento que sofreu em janeiro passado. João Paulo lembra que o aumento do leite e seus derivados, que foi o que teve maior aumento, está muito ligado a seca, que derrubou a produção. “Mas também o leite começa a baixar, porque se as pessoas não consumirem, vai sobrar produto, e como o produto tem validade, o preço vai baixar para não se perder”.
Quem determina o aumento dos preços?
João Paulo responde essa pergunta dizendo:
- Somos meros repassadores de preço. Se a indústria alimentícia sobe, nós temos de subir. Se ela baixa, nós baixamos. É simples assim. Até porque, Dois Irmãos tem uma concorrência fortíssima. Somos, hoje, mais de 30 mercados e supermercados, e isso gera uma estabilização nos preços cobrados.
E as vendas em cartão?
- Também aumentaram. E isso é preocupante, porque é fácil comprar no cartão mas é fato que o Brasil tem o maior e mais vergonhoso juro do mundo no cartão de crédito. Temo que isso lá na frente dê problema para as pessoas.
O Super Fink não criou horário especial para idosos, “até porque acho isso uma discriminação”, diz João Paulo. “As pessoas vêm aqui em nosso horário normal, que é das 7h às 19h30, entram com máscaras, muitos deles, e nós todos estamos usando máscaras e tendo toda a higienização recomendada”.
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Matheus Blauth:
NÃO HOUVE NEM HAVERÁ DESABASTECIMENTO
Mateus Blauth, do Unisuper Dois Irmãos, disse estar preocupado com o que virá pela frente, devido ao desemprego gerado nesta época. Em relação ao consumo, ele analisa as últimas semanas e diz que aumentou, sim, o consumo, em especial na primeira e segunda semana de isolamento. “Mas, desde semana passada já sentimos que o movimento se diluiu durante o dia e agora está estabilizando. Não se formam mais filas nos caixas, como na primeira semana, quando era tanta gente que até parecia Natal”. Agora, conforme ele, “não tem pico” durante o dia.
Sobre produtos mais vendidos, ele informa que eram e ainda são os da cesta básica, com destaque para farinha e fermento. Em relação aos preços, Mateus informa que o supermercado não é, de forma alguma, o vilão em termos de preço. “Nós somos repassadores do preço, que é ditado pela indústria alimentícia, e o que fazemos aqui é fazer ações de baixa de margem para podermos beneficiar e manter o cliente, mas quem entrega o produto a preço alto é a indústria alimentícia”.
“O leite”, por exemplo, diz Mateus, “sofre várias influências e isso pressiona seu valor para cima. Seja porque os produtos são indexados em dólar e, o dólar subindo, isso é repassado aos produtores através do milho e da ração; seja pela seca, que diminuiu a produção. Mas nós recebemos o produto e tentamos adequar nossa margem de lucro a fim de prestigiar e auxiliar o cliente”. Ele lembra que o leite estará baixando em algumas semanas, mas que o que ainda vale é a lei de mercado. A lei de oferta e procura, onde quando se tem procura o preço sobe e quando se tem pouca procura, ele baixa. “O supermercado compra e revende, e tenta fazer o melhor para continuar tendo seu cliente”.
Sobre estoques, Mateus diz que não haverá desabastecimento. “Não houve nem haverá”. O que aconteceu no início, segundo Mateus, quando se viu algumas poucas gôndolas sem produto, não teve a ver com desabastecimento. “Teve a ver com logística tanto do mercado (em repor na prateleira o produto que rapidamente terminou), quanto da indústria fornecedora, que tinha o produto mas não estava preparada para um consumo tão rápido. Mas, assim que se viu isso, o problema logo foi solucionado, e não haverá desabastecimento”. O Unisuper Dois Irmãos trabalha com horário para grupos de risco das 7h30 às 8h30.