Região de Dois Irmãos e Morro Reuter teve problemas pontuais, mas as consequências da tragédia são sentidas por todos
O Rio Grande do Sul terá um longo caminho pela frente para se reconstruir depois das enchentes trágicas deste 2024. Além do rastro de destruição e mortes, a catástrofe climática deixa lições para o futuro e exige comprometimento de todos.
Na sessão de segunda-feira (13), em Morro Reuter, o vereador Daniel Theisen (PP) chamou atenção para a necessidade de se pensar e planejar a cidade.
– O momento mostra o quanto nossas obras, nossos projetos e nosso Plano Diretor são importantes no que tange a futuras catástrofes que esse Estado pode sofrer. Especialistas dizem que essa enchente poderia ter sido evitada porque era prevista desde 2021; Porto Alegre vem sendo questionada pela falta de manutenção nas bombas. Diretamente, talvez Porto Alegre não tenha nada a ver com Morro Reuter, mas o vereador Lauri (Kaefer) sabe o quanto é afetada a saúde, porque Morro Reuter depende de Porto Alegre. Nós sabemos quantas empresas de Morro Reuter estão travadas porque não conseguem entregar suas mercadorias – comentou.
– Deus tem sido tão bom com Morro Reuter que tem mostrado inúmeros exemplos de como as obras públicas são subestimadas. Se estamos recebendo dinheiro público para fazê-las, espero que sejam feitas com prudência para que a gente não tenha que pagar o preço de ver uma ponte, em que a gente vai gastar R$ 100 mil, R$ 200 mil, R$ 300 mil para reformar, ser levada novamente pelas chuvas. Temos um setor de engenharia que tem que superestimar o volume de água, de peso e estrutura nas obras públicas – acrescentou Daniel.
Por fim, o vereador voltou a insistir na questão do Plano Diretor:
– O nosso Plano Diretor ainda não veio para esta casa, já deveria estar sendo debatido aqui. Tem áreas em que não podemos deixar construir. Temos inúmeros municípios ao redor tendo deslizamentos porque nossa região é de muito aclive, muito morro. Temos casos no nosso município com construção sobre os arroios, ao lado dos arroios. Enquanto isso não for levado a sério, futuramente – espero que isso não aconteça – a gente pode perder vidas de cidadãos porque simplesmente foi deixado construir.
Drama na saúde pública
Lauri Kaefer (União Brasil), popular Caçamba, inicialmente justificou sua ausência na sessão passada por conta de uma pneumonia. Em seguida, destacou a importância do voluntariado na ajuda às vítimas das enchentes.
– Dói no coração ver as pessoas que perderam tudo. Por outro lado, vejo uma solidariedade enorme entre o povo brasileiro. Acredito que de agora em diante podemos esperar uma união maior do povo gaúcho e do povo brasileiro – declarou.
Como motorista da Secretaria da Saúde, ele conhece de perto as consequências que esta tragédia também impõe ao sistema público.
– Nós estávamos levando em torno de 20 pessoas por dia, e essas pessoas estão todas aí, ficando para trás. Não é coisa que se resolve aqui no posto ou em Dois Irmãos e Novo Hamburgo, são coisas mais graves: casos de oncologia, de pessoas que fazem radioterapia e quimioterapia. Além disso, quantas doenças vão surgir a partir de agora? Leptospirose, doenças de pele, doenças respiratórias... Quais hospitais vão suportar tantas pessoas? Quem vai resolver esse problema da saúde? – questionou Caçamba.
Trabalho árduo na economia
Léo Agostinho Weiler (União Brasil) lembrou as imensas dificuldades que a economia terá de enfrentar para voltar aos trilhos.
– A situação não é fácil, nosso sistema de produção foi afetado. Temos indústrias embaixo d’água, a engrenagem principal está bem danificada. Precisamos nos unir, precisamos muito da ajuda dos deputados estaduais e federais, do governo federal, para que a gente possa colocar a nossa linha de produção nos eixos de novo. Houve também muito vazamento de defensivos (agrícolas); temos que fazer uma grande análise para ver se conseguimos plantar ainda nessas áreas. Vamos ter um árduo tempo pela frente – afirmou.
Polarização política atrapalha
Tiago Kolling Werner (PP) lamentou que, não bastasse a tragédia, muitos ainda tumultuam o ambiente destilando ódio nas redes sociais.
– No meio de todo esse caos, um outro problema que não são as enchentes aparece: uma cólera de crítica e reclamação; o brasileiro está cego e polarizado por causa de política. O brasileiro ataca instituições seculares, federais, estaduais e municipais, compostas pelo povo, tudo por polarização política. O povo esqueceu a diferença entre uma crítica embasada e construtiva em relação à lacração e da ‘raivinha’ e da cegueira. Esse tipo de comportamento mais atrapalha do que ajuda – disse ele.