Vice-diretora Shirlei Wagner Loeser (Fotos: Arquivo pessoal)
De um dia para o outro, escolas precisaram buscar alternativas para dar continuidade ao ano letivo, sem saber se, em algum momento, ele será retomado presencialmente. Dúvidas e angústias, desde então, rondam educadores, alunos, pais e gestores.
Vice-diretora da escola estadual Affonso Wolf, Shirlei Wagner Loeser reconhece os desafios da comunidade escolar, mas reforça a dedicação dos professores para atender as expectativas dos seus alunos, famílias e de gestores, tudo isso em meio a um cenário de incertezas. “Os primeiros quinze dias nos fizeram crer que retornaríamos ao espaço de trabalho e o quanto antes as relações com os alunos. Palavras de incentivo, cuidado e zelo ecoaram nas interações entre professores, alunos e famílias. Depois, chegou a fase da assimilação e organização para aulas remotas em longo prazo. Neste momento, lidar com as emoções e frustrações tomou a todos”, diz Shirlei, destacando que se iniciava, ali, uma nova rotina de trabalho para os professores, muitos deles precisando, ainda, cuidar dos filhos em casa. “Isso fez com que muitos profissionais se vissem em estado de esgotamento”, comenta a educadora, reforçando, então, o quanto é exigido dos professores, especialmente neste período.
A partir de uma fala da filósofa Viviane Mosé, Shirlei reforça o que quer dizer sobre expectativas. Conforme Mosé, na avaliação da família “se o professor planeja muitas atividades e dentre elas atividades complexas, julga que não é o papel da família auxiliar seu filho, que não estudou nem tem condições para auxiliar. Já se o professor planeja poucas atividades e, dentre elas, atividades mais simples, julga que assim é fácil ser professor, qualquer um o pode ser”. “Como é difícil encontrar este equilíbrio quando a expectativa é do outro, não é? Ouso dizer que o maior dilema deste ano para um educador é lidar com as expectativas dos outros”, completa Shirlei, citando, por exemplo, expectativas sobre o andamento e uso de recursos tecnológicos durante as aulas virtuais. “Nesta perspectiva, o professor lida com alunos e famílias que compreendem o cenário atual e sabem que a soma de esforços de todos os envolvidos é para resultar em menores prejuízos à educação. Por outro lado, há os que lamentam e se frustram, pois seria o último ano do aluno na escola, a conclusão do ensino médio, a formatura que pode não acontecer e a dificuldade que pode enfrentar ao tentar ingressar na universidade. Ou ainda, aqueles que almejavam a concretização da alfabetização e na socialização dos filhos na escola”, exemplifica a vice-diretora.
Além das expectativas dos estudantes e das famílias, Shirlei comenta sobre o que os gestores públicos esperam dos professores. “Esses esperam resultados imediatos, como se escola e os humanos que a compõem fossem esteiras de produção e, ao final delas, todos caíssem iguais, reproduzindo assim tudo e todos em série. E o professor, onde está? Absorvendo tudo isso”, afirma a educadora, destacando que professores se vêem sobrecarregados, “colocando as suas expectativas no bolso, para ouvir, acolher e replanejar a partir das expectativas dos outros”.
Para Shirlei, apesar de todos os desafios, se aprendeu muito até aqui. “Este tempo de suspensão de aulas e atividades remotas tem sido de muito aprendizado para todos, mas especialmente para nós professores, que vimos a sala de aula virar um computador, o caderno de planejamento em ferramentas tecnológicas, o celular como meio de dialogar com os alunos, mas, sobretudo vimos que nada pode substituir a interação real, o olhar no olho, o conforto imediato diante da frustração”, diz ela, comentando sobre a sua expectativa diante de tudo isso: “Espero, profundamente, que a sociedade modifique o olhar de julgamento constante e passe a respeitar mais o papel da escola na construção de uma educação e de concepção de humanidade, o que só é possível quando todos se envolvem na difícil missão de educar. Só assim o legado deste ano de pandemia será cumprido”, finaliza.