Paulo Vicente Bender, presidente do Sindicato Patronal
O Jornal Dois Irmãos conversou com Paulo Vicente Bender, presidente do Sindicato das Indústrias de Calçados de Dois Irmãos, também chamado de Sindicato Patronal, para saber como está sendo 2019 e o que esperar de 2020 no setor calçadista. A seguir, os principais tópicos da entrevista:
Crescimento abaixo do esperado
“A retomada do mercado interno – ou do mercado doméstico, como a gente chama – ainda está muito abaixo do esperado. Na parte da exportação, do mercado externo, a gente sente uma variação positiva, mas também abaixo do que precisamos para ter uma retomada de fato do setor do calçado em 2019. Tivemos alguns índices muito abaixo em 2018, com quedas registradas na produção, tanto para exportação quanto no mercado interno. Agora, em 2019, ainda estamos um pouco pessimistas em relação àquele otimismo que se semeava lá no início do ano, e por uma série de razões, entre elas o fato do novo governo não estar conseguindo realizar todas as suas metas neste tempo previsto, o que não levou ainda os empresários a pensar em reinvestir ou fazer novos investimentos no Brasil”.
Não deve passar de 1,8%
“Em relação à indústria calçadista de Dois Irmãos, o que eu posso considerar é que são empresas tradicionais, muito conservadoras, e que não deve haver um patamar de crescimento. A gente sabe que não houve grandes demissões nem grandes contratações ao longo deste ano, exatamente por essa espera pela reativação do mercado. Por isso, acredito em um crescimento muito abaixo daquele que nós pensávamos que poderia acontecer; não deve passar de 1,8% em relação a 2018. Além disso, estamos ainda dependentes de algumas decisões macroeconômicas no Brasil para que possamos realmente ter uma expectativa maior de crescimento em 2019”.
Sobre exportações
“Para 2020, existe uma expectativa de crescimento, mas este crescimento não deve ser a passos largos, como realmente necessitaria o nosso setor, retomando volume de produção e venda de anos anteriores. O passo mais largo deve ocorrer nas exportações, em razão de uma série de situações ocasionadas pela guerra criada entre Estados Unidos e China, sobretaxando o calçado chinês na entrada para os Estados Unidos. Isso realmente está dando sinais de melhora para o Brasil, porque o Brasil hoje é muito mais ágil na entrega de sapatos pelo volume de pedidos que o mercado exige – não são aqueles volumes grandiosos que existiam no passado. O Brasil tem uma estrutura de fábricas que podem atender em menor prazo a entrega para os clientes dos Estados Unidos. Também tem a questão do nosso dólar hoje ser muito favorável, competitivo, inclusive em preços para a Europa. Se as medidas governamentais forem tomadas, o dólar deve dar uma recuada, não deve ficar nestes patamares desta semana, entre R$ 4,06 e R$ 4,10, mas talvez em R$ 3,95, R$ 3,90. Isso gera uma estabilidade na curva desse dólar para que haja uma forma mais segura de calcular o sapato a ser exportado para os outros países. Neste aspecto, quanto à exportação, estou otimista”.
Mercado interno
“Quanto ao mercado interno, ainda quero acreditar que haja uma melhor perspectiva. Para o Rio Grande do Sul e para Dois Irmãos, se realmente o Governo do Estado conceder um incentivo que está em negociação neste momento, de uma redução da alíquota do ICMS sobre o sapato produzido no Rio Grande do Sul, acredito será um ponto positivo que pode trazer uma melhor competividade em relação a outros estados, como Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e demais estados do Nordeste que tem suas indústrias incentivadas. Isso pode alavancar um pouco a competitividade e melhorar o nosso confronto com outros estados em relação ao mercado interno”.
(Foto: Arquivo JDI)