Amadeo e Leonice junto ao gado de alta produção leiteira, que produz em tempo normal mais de 50 litros-dia por cabeça
Amadeo Rossa nasceu em Iporã, Santa Catarina. Chegou a Dois Irmãos com 14 anos, junto com o pai e irmãos. Trabalhou na Maide. Fez curso de modelista. Chegou a entrar na faculdade de estilista. Mas, aos 31 anos cansou do setor. Já casado, perguntou para a esposa Leonice:
- Será que a gente não consegue fazer outra coisa? Estou ficando louco.
Queria mudar. E, a fim de espairecer, foi passear na Expointer. E foi lá que ele viu um sistema de pasteurização de leite. O irmão Dirceu já havia voltado para a agricultura, e vendia leite em litrão pet, de casa em casa, no bairro São João. Amadeo falou com ele e começaram a organizar uma agroindústria do leite. Enquanto isso não ocorria, Amadeo seguia na fábrica. E lá ficou até 31 de agosto de 1999, quando sua agroindústria foi aprovada e ele voltou para a colônia, nas terras que tem na Estrada Campo Bom.
Atualmente, Amadeo e a esposa Leonice se dedicam ao negócio do leite. Têm mais de 50 vacas leiteiras que necessitam de cuidados intensos. São animais de alta produtividade, chegando a produzir 50 litros de leite por dia, cada uma delas. “Novilha que produz 40 litros-dia é descartada”, diz Leonice: “não se paga”.
Essa alta produtividade não é de graça. Amadeo e Leonice trabalham de sol a sol em plantações e silagens. Investem sem parar em melhoramento genético do plantel leiteiro.
Tanto trabalho e cuidados, resulta numa produção que chegava em média acima de mil litros de leite por dia. Mas, como todos os produtores rurais, essa realidade mudou abruptamente. E hoje a produção na empresa baixou para 500 litros dia. Caiu pela metade ou até mais.
O que aconteceu? Foi a seca?
Não apenas a seca, diz Amadeo. “Fomos pegos pela seca que não esperávamos. Pelo coronavírus que não esperávamos. E pelos altos preços que também não esperávamos nos insumos, na ureia, no adubo, nas sementes, nos defensivos e em tudo que cerca a cadeia produtiva”.
Mas, e o alto preço do leite?
Amadeo afirma que “para o produtor”, o leite não teve aumento de lucro em seu valor. “Chegou mesmo a baixar”, diz ele. “Essas três dificuldades, água, corona e preço baixo é o que está pressionando e assustando os produtores de leite, neste momento”.
E onde começou a perda?
Na pastagem, diz amadeo. Tivemos uma perda de 80% certo. “Mas não é só na quantidade colhida. É que a grama que não se perdeu, não tem o que precisa ter para nutrir um gado e fazer leite”.
Segundo ele, por causa da seca a planta não tem em quantidade necessária elementos como potássio, proteína e energia. Faltou água. E a água é o veículo que proporciona à planta ter esses elementos fundamentais na nutrição do gado. “Pode se colocar adubo, potássio, nitrogênio, pode se colocar o que quiser, mas se faltar água, falta tudo”, diz Amadeo.
Por falta de uma boa alimentação, o gado da família Rossa que produzia 50 litros dias, está, hoje, produzindo entre 15 e 25 litros. A estiagem causou uma devastadora baixa de 50% na produção leiteira da empresa. E não foi a seca de agora, mas a anterior. O milho plantado em setembro passado e que foi colhido em janeiro, além da perda em quantidade teve uma queda brusca de nutrientes. Amadeo fez silagem com aquele milho e está dando agora como alimento. “Mas essa alimentação está com componentes bem abaixo do que se precisa para bem nutrir o gado”, diz ele, e vem daí a baixa produção na empresa leiteira deles.
Pelo certo, Amadeo deveria comprar alimento para suprir essa carência. Mas o valor da soja está a preço de ouro, e o milho também está a preço de ouro. “Tu te obrigas a tratar o gado com o que tens, mesmo baixando a produção, porque se for comprar para alimentar o gado é quase certo que a empresa vai quebrar”.
É uma balança complicada de equalizar. Se investe em alimento, arrisca falir. Se não investe, a produção cai dramaticamente. E a empresa de Amadeo é um exemplo: dos mais de mil litros normais que diariamente produzia, hoje a produção está em 500 e perigando baixar mais, devido a falta de água escassa, ao preço dos insumos e ao coronavírus, três elementos malignos, que Amadeo elenca como impeditivo do progresso e da agilidade no agronegócio.
(Por Alan Caldas – Editor)