O importante é saber em qual patamar o dólar “vai dormir”, diz Gilmar Weber

29/11/2019
Gilmar Weber

Gilmar Weber

Na segunda-feira (25) o dólar rompeu os patamares de preço que se conhecia. Perguntado pelo Jornal Dois Irmãos sobre “as razões” para esse crescimento meteórico, o operador de câmbio Gilmar Weber, que trabalha na Indústria de Calçados Wirth e que é um profissional com grande conhecimento no setor, elencou várias razões.
Segundo Gilmar, esse aumento no valor do dólar começou com um discurso político do ministro. “Mas há, também, a questão do leilão do pré-sal”, disse ele, lembrando que o leilão não teve participantes além de duas empresas chinesas. E isso fez com que toda essa oferta de dólar que estava por vir, acabasse não vindo ao Brasil, pressionando o preço para cima pela falta de moeda no mercado. Um segundo aspecto que Gilmar diz ser igualmente importante para compreender esse aumento no valor do dólar “é a briga entre Estados Unidos e China, que ainda não chegou a um acordo e que parece não irá ocorrer tão cedo”.
Gilmar, que vive o dia a dia das operações de câmbio, avalia igualmente o cenário político internacional como uma “fonte de pressão e instabilidade” na entrada de moeda estrangeira no Brasil. “Os nossos arredores assustam os investidores”, diz ele, lembrando que a leitura que hoje se faz de sociedades como Chile, Bolívia, Argentina, Colômbia e Venezuela apontam para conflagrações. “E o mercado cambial, que transita livremente pelo mundo, é sensível e assustado com esse tipo de situação, que acaba sempre gerando instabilidade não só social como de legalização financeira. Ninguém deixa dinheiro onde existe grande risco”, sentencia Gilmar.
Sobre a subida no valor do dólar, que chegou a abrir em R$ 4,27 na terça-feira (26), Gilmar lembra que igualmente pesaram as declarações do presidente do Banco Central. O presidente do BACEN chegou a dizer que não iria controlar o câmbio ofertando dólares da reserva cambial brasileira no mercado, e, sim, jogando a taxa de juro para baixo. “Quer dizer, por essas palavras, ele estaria abrindo mão da política monetária para controlar o valor do dólar”, diz Gilmar. E ele também lembra que, logo a seguir, veio o ministro da Economia, Paulo Guedes, informando que era para o mercado ir se acostumando com o dólar nesse valor, porque ficaria nesse patamar por um bom período. “Tudo isso faz disparar o coração financeiro do país”, explica, “e pressiona o valor do dólar para cima”. 


TAXA DE JURO
O operador de câmbio diz ainda que o Brasil tendo taxa de juro baixo, as empresas que vinham buscando financiamento no exterior, ao invés de pegar dinheiro fora do Brasil, estão buscando aqui, porque a taxa de juro a ser pago ficou, digamos, mais amigável.


E como se sintetiza isso?
Gilmar Weber
– Ficamos assim: a taxa de juro mais baixa e a não vinda de capital para investimento inevitavelmente faz com que o Brasil tenha menos dólar. Com o país tendo menos dólares no mercado, a lei de oferta e procura entra em ação e o preço vai subir. 


Qual a preocupação do dólar tão alto?
Gilmar Weber
– O dólar rompeu os patamares que se tinha. Então, tecnicamente para as empresas que exportam e que precisam de estabilidade para continuar produzindo, a questão é saber “em qual” patamar esse dólar irá “dormir”. 


E qual a tendência?
Gilmar Weber
– A tendência é recuar. Mas vai recuar até onde? As empresas exportadoras dependem disso para compor custos e estabelecer preço. Então, o que se vê nesses momentos é uma tensão tal que empresários e operadores de mercado ficam permanentemente com os nervos à flor da pele.


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