Vicente Bender: “Nenhuma empresa vai calcular preço de venda nessa taxa”

29/11/2019
Vicente Bender

Vicente Bender

Vicente Bender é presidente do Sindicato das Indústrias Calçadistas de Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval. O Jornal Dois Irmãos o procurou para que ajudasse a população que vive ao redor das empresas a entender o que significa essa alta abrupta no dólar e quais suas consequências. Eis a entrevista: 


O valor do dólar está indo rapidamente para cima. Como entender isso?
Vicente Bender
– Tem variáveis nisso. São algumas situações internas, como o discurso do ministro Paulo Guedes em relação ao dólar. Tem a insegurança que sente o mercado financeiro em relação ao Congresso Nacional não aprovar as modificações necessárias com a velocidade necessária, tanto na Câmara dos Deputados como no Senado. A anulação da prisão em segunda instância gerou uma insegurança em nível de mundo em relação ao Brasil. E, também, existe a não definição das negociações para livre-comércio entre Estados Unidos e China. Ao meu entender, essas são as razões para o dólar subir ao patamar de R$ 4,26.


Essa subida tem alguma chance de estabilizar na altura?
Vicente Bender
– Acredito que nos próximos meses o dólar deve ficar de R$ 4,10 para cima. Pode reduzir um pouco, mas não acredito que vai descer abaixo de 4 reais. Não vejo que seja uma bolha, essa alta. Para mim é o livre mercado que está determinando esse aumento. É visível que até a terceira semana de novembro as importações (aquilo que compramos no exterior) foram superiores ao que exportamos (vendemos ao exterior), e isso me leva a crer que estamos acreditando em um crescimento, razão pela qual descarto essa possibilidade de ser uma bolha.


Nas negociações a dólar, há quem ganhe (os que vendem) e há quem pague (os que compram). Como o senhor avalia essa questão?
Vicente Bender
– O dólar a valor alto rapidamente não é algo muito realista. Por que digo isso? Porque as empresas calçadistas calculam seu preço de venda geralmente com patamares a um dólar com um valor médio que elas “projetam”. Isso é assim, porque ocorre a venda, aí vem a produção e a entrega é normalmente 120 dias depois. Sendo assim, quem trabalha com segurança não vai usar esse dólar para fins de calcular seu preço de venda. Vai trabalhar numa média, que está abaixo desse valor, dependendo de cada fábrica e da sua política de segurança no seu preço de venda para exportação. 


E tem quem seja mais atrapalhado na produção e venda, devido a essas subidas abruptas?
Vicente Bender
– Essas altas atrapalham quem depende de importações. Por exemplo: a gente sabe que tem fábricas que importam cabedais costurados da China, cabedais que vêm prontos, montados, só para costurar aqui no Brasil. A gente sabe que tem fábricas que compram solas injetadas. Ou tecidos que vêm da China. E para essas empresas, os saltos do valor do dólar para cima acabam prejudicando o preço de venda delas aqui no país.


Em síntese...
Vicente Bender
– É bom para calçadistas que têm dólar a receber e está fechando no câmbio hoje. É ruim para quem hoje depende de importações para compor a matéria-prima do seu sapato. O interessante para todos seria o dólar ficar num valor de meio termo, e por um período mais longo.


Quando se usa o dólar a curto, médio ou longo prazo?
Vicente Bender
– Depende da política interna de segurança cambial de cada empresa que exporta. No setor, certamente tem empresas que estarão trabalhando com valores de 15, 20 ou 30% menos dessa taxa de dólar de hoje. Tenho certeza absoluta que ninguém vai calcular um sapato usando essa taxa de R$ 4,26, por exemplo.


E qual é a taxa ideal, usada para a exportação?
Vicente Bender
– O dólar ideal é um segredo de cada empresa, e nenhuma abre a taxa utilizada para fins de cálculo de preço de venda para exportação.


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