Por Alan Caldas – Editor
Cada cidade tem suas figuras históricas. E Dois Irmãos também tem. Uma delas é João Alberto Stoffel, o Beto, um personagem da nossa vida cotidiana que nasceu no Travessão, em 20 de setembro de 1948, quando o local ainda se chamava Könnigsberg, ou Morro dos Reis.
Filho de dona Maria Scheid Stoffel e de Jacó Stoffel, o Beto cresceu ajudando o pai, como era natural naquela época em que trabalhar não era vergonha e sim uma honra. Seu Jacó Stoffel era verdureiro. Plantava em suas terras e com sua carroça puxada por mulas descia o morro Dois Irmãos e levava para vender de casa em casa ou de armazém em armazém na vizinha cidade de Novo Hamburgo. Abastecia a clientela nos bairros Vila Diehl, São José, São Jorge e outros.
Muitas vezes o pequeno Beto ia junto com o pai, aprendendo a se relacionar com as pessoas, a se comunicar e também a se encantar com o que via na “cidade grande” nos anos 1950. Nessas andanças de venda das verduras, os pais o matricularam numa escola junto ao hoje colégio Alberto Pasqualini, onde Beto estudou durante 7 anos, no primário e ginasial. Continuava morando com os pais, indo e vindo do Travessão, e quando já estava “pronto”, decidiu começar sua vida profissional.
Estava com 16 anos e então seus pais mudaram para o Centro de Dois Irmãos, indo morar na rua Gramado, num chalé quase ao lado da hoje Praça do Imigrante, que naquela época ainda não existia, pois só foi construída em 1985 pelo prefeito Romeo Benício Wolf. Aos 17 anos e já não mais estudando, o Beto começou a ajudar o pai profissionalmente na área de verduras. Nessa época seu Jacó adquiriu uma Kombi e os dois se tornaram uma empresa. Compravam as verduras dos colonos em Dois Irmãos e as revendiam em Novo Hamburgo.
Naquele período Beto conheceu o amor. Encontrou a jovem Maria Venturini e, apaixonados, casaram-se em fevereiro de 1973. Como Beto já era autossuficiente financeiramente, construiu uma casa no terreno ao lado da casa do pai, e lá foi morar com a agora Maria Venturini Stoffel. O casal teve uma única filha, Alessandra Stoffel, que é advogada e funcionária do Banco do Brasil.
Quando a pessoa está marcada para entrar na política não tem quem escape. E João Alberto Stoffel estava marcado para isso. Foi assim que certo dia os candidatos Hugo Antony e Sírio Effting, que iam concorrer a prefeito e vice de Dois Irmãos, procuraram o jovem verdureiro Beto Stoffel e o convidaram para ser candidato a vereador.
Mordido pela mosca azul, como se diz em política, o jovem ficou maravilhado com o pedido dos dois homens históricos do PMDB. E, já se vendo candidato e vereador, foi se aconselhar com o pai. Mas levou um banho de água fria. Seu Jacó não gostava de política. Acreditava que aquilo desencaminharia o Beto do trabalho, onde ele estava indo bem. E a sentença dele foi dada na hora. Ele disse:
– Se você quiser, pode concorrer. Mas eu vou vender a Kombi e aí não vamos mais fazer o serviço para Novo Hamburgo.
O jovem Beto adorava dirigir a Kombi e ir para lá e para cá, e aquele era, também, seu ganha-pão. As opções da vida sempre envolvem custo e benefício. Então Beto decidiu que não iria concorrer. A porta do destino se abrira e logo se fechava. Ele ficou triste. Mas quando é para algo acontecer o destino trapaceia e acha o caminho. E com o Beto não foi diferente.
Dias depois da conversa com o pai, o Beto entrou na Sociedade Atiradores. Lá estavam reunidos diversos homens importantes da política. E eles estavam falando de política e de candidatos. Não viram que o Stoffel estava por ali. E, na conversa, alguém daqueles homens importantes disse que tinha um “tal João Alberto Stoffel” que iria concorrer. E todos na mesa concordaram que ele fracassará. Que faria “no máximo” 30 votos, se muito.
O coração do Beto disparou e ele saiu dali totalmente deprimido. Arrasado, mesmo. Chegou em casa, contou isso para o pai e agradeceu, dizendo:
– Ainda bem que o senhor não me apoiou, pai, pois se eu fizesse só 30 votos nossa família ia morrer de vergonha.
Seu Jacó ficou em silêncio por um minuto. Então perguntou “quem” tinha dito que ele faria se muito 30 votos. João Alberto contou. E então seu Jacó disse:
– Vai agora lá no Hugo Antony e avisa para ele que você vai concorrer sim. E eu vou te apoiar.
Beto concorreu a vereador pelo PMDB. Foi o segundo mais votado no município. Só perdeu para o vereador Eliceu Arno Schneider, do PDS, que era apoiado pelo seu tio, Virgílio, lá da Fazenda Padre Eterno (hoje Morro Reuter) e que era um forte, respeitado e histórico comerciante de batatas.
Ali começava a vida partidária de João Alberto Stoffel, numa jornada que durou sua vida toda. Ele se reelegeu vereador. Ele presidiu o PMDB na grande virada política em Dois Irmãos, quando João Arnildo Mallmann e seu vice Renato Dexheimer se elegeram pela primeira vez, com o PMDB derrotando o até então imbatível PDS.
Como política tem idas e vindas, Beto Stoffel acabou saindo do PMDB. Então foi convidado a ser candidato a prefeito pelo PDT. E iria concorrer. Mas o candidato do PMDB, que era Renato Dexheimer, o procurou e convenceu de que uma aliança entre os dois partidos seria melhor para ambos do que eles concorrendo em separado. Renato mostrou pesquisas e ofereceu ao PDT uma secretaria importante no governo, caso ele ganhasse.
Beto reuniu o PDT, colocou a proposta em votação e abriu, então, mão da candidatura do partido e passaram a apoiar o candidato Renato, do PMDB. Renato ganhou a eleição. E Beto foi secretário de Serviços Urbanos por duas vezes, durante 8 anos nos governos do PMDB. Mais tarde, e por quase 10 anos, Beto cuidou e foi responsável pelo Horto Municipal de Dois Irmãos, onde se produz verduras e legumes para as escolas do município.
O tempo é implacável. E quando a idade foi chegando e o peso dos anos começaram a se fazer sentir em seus ombros, Beto Stoffel resolveu se afastar da vida pública. Já tinha dado sua cota de trabalho para a comunidade, ele pensou. E se afastou da política partidária.
Hoje leva sua vida de forma feliz, junto com a esposa, mas sem jamais esquecer que por 50 anos esteve diariamente no centro da política que construiu a história da nossa magnífica cidade de Dois Irmãos. Foi meio século de vida pública. E meio século ninguém esquece!