Dra. Layla Portes*
Quando a Covid-19 melhora, não é só o mal-estar físico generalizado que persiste. O tratamento deixa marcas na visão. Isso porque casos moderados e graves recebem alta dose de corticosteroides para combater a inflamação vascular sistêmica. O tratamento leva a um distúrbio metabólico, inclusive nos olhos.
Uma evidência deste distúrbio é a flutuação da refração. Aumentou o número de queixas de piora na acuidade visual, mas o exame de refração nem sempre aponta mudança no grau dos óculos. Além da flutuação da refração, o olho seco pós-Covid também é um fator determinante para baixa visual. A única forma de administrar este problema é com acompanhamento médico e a repetição de exames para que possamos prevenir danos maiores à visão.
As consequências da Covid-19 na saúde ainda não estão completamente esclarecidas em nenhum lugar do mundo. Todas as especialidades estão fazendo pesquisas contínuas para manter a saúde dos sobreviventes. Por isso, nunca os exames oftalmológicos periódicos foram tão importantes.
Catarata
Em algumas pessoas a visão embaçada após a Covid-19 pode sinalizar catarata. A doença opacifica o cristalino, lente interna do olho, pela toxidade do corticosteroide e pode surgir em qualquer idade quando está relacionada ao medicamento. Diferente da senil, esta catarata é do tipo subcapsular, ou seja, se forma na parte posterior do cristalino, causando diminuição importante da visão, principalmente nos ambientes bem iluminados. O único tratamento é a cirurgia que substitui o cristalino opaco pelo implante de uma lente intraocular totalmente transparente e aplicação de laser na capsula posterior.
Retinopatia
A retinopatia pode surgir em decorrência da elevação da pressão arterial causada pelo corticosteroide somada à fragilização vascular induzida pelo medicação. Outro fator de risco é o aumento da glicemia e a formação de trombos induzida pela Covid-19.
Independente da causa, o tratamento pode ser feito com aplicação de injeções de antiangiogênicos. Este medicamento também é indicado para casos de edema macular, ou seja, inchaço na porção central da retina, responsável pela visão de detalhes. As aplicações são feitas na cavidade vítrea mediante aplicação de colírio anestésico. O número de aplicações varia conforme o estágio da doença. Diabéticos que seguem o tratamento conforme a prescrição do oftalmologista dificilmente ficam cegos, mas uma vez que parte da visão é perdida não tem como ser recuperada.
Olho seco
A principal queixa nos consultórios pós-Covid é baixa visual e sintomas relacionados com olho seco, como sensação de areia, vermelhidão, ceratite... O tratamento pode ser realizado com colírios lubrificantes, pomadas, luz pulsada. Vai depender da avaliação oftalmológica e necessidade individual de cada paciente. A pandemia deve impulsionar o desenvolvimento de novos tratamentos na Oftalmologia. Hoje, a principal recomendação é a prevenção, já que quando o assunto é visão alguns danos são definitivos.
(*) Dra. Layla Fortes
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