Por Alan Caldas – Editor
Para nós aí no Sul do mundo é difícil ouvir falar das Ilhas Canárias, este lugar onde o navio Fantasia fez sua primeira parada após 7 dias na travessia do Atlântico. De nome até se sabe que existem as Canárias. Mas, de fato, que lugar é esse?
A parada do navio é mínima. Uma em Las Palmas. Outra em Tenerife. É foto. Comidinha. Caminhadinha. E já fomos embora. Nós e os demais 4.800 hóspedes do navio. Pessoalmente achamos chato. Gostamos de ver mais. Falar com pessoas. Ouvir sons. Ir mais a fundo. Testar comidas e bebidas. Conhecer bairros. Ver as áreas fora do “cenário” turístico. O mundo real.
Mas em Cruzeiro ... esqueça. É tudo vapt-vupt e se retorna ao barco.
Mas o que são as CANÁRIAS?
As Ilhas Canárias são um arquipélago espanhol composto por 7 ilhas principais: Lanzarote, Gran Canária, Las Palmas, La Gomera, El Hierro, Tenerife e Fuerteventura. Localizado no Atlântico, tem clima temperado o ano todo. Seu ponto mais alto é o “Pico del Teide”, na ilha de Tenerife, e que projeta esta terra vulcânica a impressionantes 3.718 metros de altitude sobre o nível do mar.
As ilhas surgiram como resultado de centenas de erupções vulcânicas ocorridas durante 36 milhões de anos. A última erupção do vulcão aconteceu aqui mesmo em Las Palmas, no ano de 1971. O vulcão ainda está ativo. De vez em quando rosna um pouco. Mas é manso. E tem excursão para você ir lá em cima e ficar “na boca” dele, olhando a cratera. É a paisagem mais exótica que se pode ver pela Europa. Não há nada igual.
Juridicamente as Ilhas Canárias são uma das 21 Comunidades Autônomas da Espanha. No Brasil não fazemos ideia do que seja isso de “comunidade autónoma”. Mas significa que este arquipélago todo rege-se por algumas poucas leis próprias e, no grosso, são governados pela Jurisdição Federal da Espanha, sob a tutela do Rei e respeitam aos mandamentos do Primeiro Ministro espanhol.
Como a Espanha integra a Comunidade Europeia, as Canárias entram junto. E, assim, os cidadãos europeus têm aqui direitos iguais aos dos nativos. E o Euro, a moeda dos europeus, é também a moeda das Canárias.
O padrão de vida é igual ao da Europa. Os preços médios são os mesmos de qualquer país no continente europeu. Pelo que pesquisei e pagamos no pouco tempo em que ficamos, os preços aqui são mais ou menos assim POR PESSOA:
Jantar entre 15 e 35 euros
Café entre 5 e 8 euros
Cerveja entre 1,5 e 3 euros
Vinho de 15 euros até teu bolso...
Táxi do aeroporto é 30 euros
Carro alugado desde 20 euros-dia
Ônibus coletivo por 1,5 euro
Sorvete + ou – 3 euros
Camarão alho e óleo 9 euros
A língua é o espanhol. Mas é área de turismo e se encontra de tudo: inglês, português, alemão, francês, russo etc. O horário é apenas uma hora a menos do que na Europa. E a tecnologia é abundante. Todos os edifícios têm eletricidade de 220v. E todas as ilhas têm cobertura móvel ampla, com WIFI por tudo e gratuito em bares, restaurantes e hotéis.
As Canárias têm sistema de saúde público com assistência europeia e os cuidados de saúde aqui são gratuitos. É como o nosso SUS. Em cada ilha há diversos centros de saúde e hospitais públicos, atendendo 24 horas por dia emergências médicas. O dinheiro aqui vem dos turistas. A renda dos moradores e governo é 80% gerada através do turismo. O restante vem basicamente da plantação de bananas, a principal cultura agrícola do Arquipélago Canário.
A banana é subsidiada pelo governo da Espanha. E é plantada em “microfundio”. Na falta de terra, já que o solo é vulcânico, eles plantam no fundo do quintal, no jardim, na soleira da casa, plantam onde dá. Mesmo pouco, já têm na banana alguma renda. Também plantam tomates e a uva deles, a Malvasia, que séculos atrás deu fama aos vinhos doces das Canárias, está, agora, retornando. É lento. Mas vai indo.
O povo é branco, como os espanhóis. Não são muito altos. Na média são magros, têm cabelos negros e olhos escuros. São todos extremamente bem educados, bem vestidos e muito distintos. A segurança nas Canárias é 100%. E a razão é simples: não há registro de corrupção policial na história da ilha. E, sem as “policias” do Estado apoiando e se beneficiando, o crime não prospera.
A culinária diz muito de uma cultura. E na gastronomia o que as Canárias oferecem além do peixe é batatas com molho picón, um bom Cozido Canário de legumes, um Coelho em Salmorejo que todos elogiam mas não comemos, uma sopa de agrião e um típico queijo meio curado de cabra assado com molho. Ah, e boa parte da culinária deles leva cominho.
Não sei como eram os povos originais, os Bereberes, povos de antes de os Reis Católicos de Castela invadirem a ilha de Las Palmas e travarem uma luta sangrenta por longos 5 anos até subjugar a população e anexá-la à Espanha. Eles não existem mais. Colonialismo, no fundo é genocídio.
Mas, olhando estas terras e este povo, fiquei pensando e disse a mim mesmo:
– Veja como é o karma coletivo...
Naqueles anos de 1500, este local após a invasão espanhola tornou-se um “ponto de parada”.
Aqui passou a ser então uma área de descanso, um local de reabastecimento, de compras e de gastos pelas esquadras que cruzavam o Atlântico. Os barcos paravam aqui, naquela época. E os navios de diversos governos se reabasteciam, comprando mantimentos aqui para, então, ir mar adentro fazer descobrimentos nos “mares dantes nunca navegados”.
Isso foi lá nos anos de 1500. E os navios já deixavam dinheiro aqui. Cinco séculos se passaram. E, agora, os grandes navios retornaram às Canárias. Desta vez, porém, os navios não trazem mais a brutalidade nem a humilhação. Trazem dinheiro grosso. Dinheiro que gera o desenvolvimento. Dinheiro que proporciona grande melhoria no padrão de vida da população das Ilhas Canárias.
Achei essa similaridade histórica muito incrível. O karma sempre me surpreende...