Pa. Cláudia P. S. Pacheco / Comunidade Evangélica (IECLB)
Recentemente uma notícia me chamou muito a atenção: uma manifestação na praia de Copacabana. Pessoas fincaram cruzes na areia da praia simbolizando as vidas ceifadas pela pandemia. Esse gesto queria além do memorial, chamar a atenção das autoridades para medidas necessárias de enfrentamento. A manifestação foi realizada por pessoas que trabalham pela paz, por uma ONG chamada Rio de Paz. Sabemos que nosso país está imerso em conflitos, opiniões diversas e até divisões. Pois bem, a manifestação suscitou indignação em dois homens que passavam pela praia, possibilitando-nos dois olhares para encarar o fato: Primeiro olhar, o homem que expressou sua indignação “arrancando as cruzes”, atribuindo aos manifestantes a intenção de usar a cruz de Jesus para meter medo nas pessoas. Segundo olhar, o outro homem que expressou sua indignação “recolocando as cruzes”, pedindo respeito pela dor das mais de 40.000 vítimas naquele momento, entre as quais o seu próprio filho estava.
Fiquei com a seguinte pergunta: para que serve a cruz em nossa fé? A cruz de Jesus será um sinal de medo ou de enfrentamento e superação da dor? Certamente, um campo de cruzes impacta como nos impacta estar diante da morte, mas ignorar as cruzes e as dores deste mundo não nos ajudará a destruí-las. Então: devemos arrancá-las ou recolocá-las no centro de nossa fé? Só aquilo que é enfrentado poderá ser superado. Jesus Cristo disse: “e quem não toma a sua cruz e vem após mim, não é digno de mim” (Mt 10.38). Diante da cruz, mediante o reconhecimento de nossa dor e de nossos pecados, desfrutamos muito mais da graça e do amor de Jesus.
Há situações em que a palavra a ser anunciada é a palavra da cruz, palavra profética, palavra de denúncia, de exposição da dor, palavra que queima e transforma. A palavra da cruz nos permite saber e entender o porquê das cruzes erguidas por aí. A cruz revela o pecado e declara o perdão. A cruz aponta para a ressurreição, a razão da nossa fé. Uma fé que nos convoca à esperança. A cruz não é primordialmente portadora da mensagem de morte, mas sim, de vida-ressurreição e do amor de Deus. A partir dela surgem novas possibilidades de vida.