Por Alan Caldas – Editor
É assustador. Parece pesadelo. Tipo surreal. Já nem lembramos “quando” começou o fecha-abre-fecha. O vazio da vida. Vamos remando. Dando braçadas tentando atravessar o rio de problemas. Águas tenebrosas. Buscando com ansiedade chegar à margem. E não se vê a margem. Não se vê o tempo “para trás”. Nem uma data à frente. Cadê o tempo?
Noto, aqui pelo Jornal, que a maioria se deu conta da empreitada feroz que teremos para sobreviver. Há tensão permanente. Mas não brigas. Paira no ar um “o que será do amanhã?”. Sem ontem, sem amanhã, o que é o hoje? Um dia por dia, me diziam, quando pequeno. Nunca entendi. Agora entendo. Um dia por vez. E vejo que o presente é como um “presente” que nos deram. Abra e sorria. Há uma sensação de nunca antes. Apagou-se o passado. E isso gesta um nunca mais.
O Jornal é meu exemplo. Estamos, hoje, com o menor número de funcionários que a empresa já teve. Graças ao Governo Jair Bolsonaro e ao Congresso Nacional que aprovou, fizemos o acordo trabalhista de 70-30, na redução de horário, e não demitimos. Mas é temporário. Três meses, no máximo. Conversamos com cada um, antes, porque somos poucos.
O pessoal percebe que não é férias, que terá de voltar. E que, para voltar, além da economia de Dois Irmãos não poder estar quebrada, o Jornal precisará estar melhor. Por melhor, digo mais vinculado ao leitor, mais próximo das suas angústias e esperança de convívio COMUNITÁRIO. E, para isso, o Jornal precisa mostrar mais pessoas, noticiar mais realidades aqui de Dois Irmãos, fazer mais microcultura, ser e mostrar mais e mais e mais notícias locais. Entrar coração adentro das pessoas da cidade.
É fácil, hoje, saber do mundo. Tudo está à disposição na internet. Mas, e daqui? Como o morador faz para saber o que está ocorrendo aqui? O que deu com o vizinho? Como está o amigo? Como cada um de nós faz para saber onde estão os próximos a nós? O que fazem, como vivem, o que pensam, o que dizem as pessoas do nosso convívio? É a microcultura, noticiada de forma intensa, que pode salvar o Jornal Dois Irmãos e os empregos que ele proporciona, tenho defendido perante nossa pequena, mas guerreira equipe. É morro acima, é com pouca munição, é sob fogo cerrado do inimigo, mas é a nossa guerra, vamos guerrear! É um momento em que a grandiosidade tem de aflorar em nossos corações. Nascemos para isso.
Não é tarefa simples. Mesmo que não consiga ser feliz sem estar integrada ao seu meio ambiente microcultural, ainda assim isso de pensar que é “citizen of the world”, cidadão do mundo, aquece a alma da pessoa. Dá uma sensação de estar integrado. E a pessoa acha mais bacana ser cidadão do mundo do que da comunidade em que concretamente vive.
As novas angústias desse nosso tempo vêm quase todas da incompreensão de que a segurança só pode vir de nós próprios “e” do ambiente próximo em que vivemos. O Jornal Dois Irmãos de certa maneira supre essa carência ao noticiar e conectar pessoas locais que estão próximas a nós. Por isso (e por não usar dinheiro de banco) o jornal chegou aos 36 anos.
Aliás, o Jornal Dois Irmãos tem 36 anos. Fará 37, no próximo 25 de julho. E, antigamente, dizia para mim mesmo que adoraria ver ele completar 50. Hoje me satisfaço com 40. Três anos daqui. E já me parece uma super meta.
É emocionalmente demolidor, esse pensamento. Significa que algo em mim está com medo. E nunca senti medo. É uma sensação estranha e muito complexa de administrar no meu foro íntimo. Por sorte, tenho a bênção da esperança e uma fé inabalável na capacidade coletiva de Dois Irmãos. Em quatro décadas, aprendi que empresários e trabalhadores de Dois Irmãos são capazes de realinhar as peças no tabuleiro e, se não ganhar o jogo, pelo menos seguir jogando. Vi isso em muitas crises, nesta cidade linda e progressista que temos. Somos todos players, aqui, jogadores de banca alta. Olho aos arredores e é isso que vejo: grandes jogadores!
O que penso sobre essa nova realidade estranha?
Ocorreu um paradoxo temporal, eu percebo. É visível a quebra no Continuum do espaço-tempo. Isso afetou a realidade. Era uma e agora é outra. Estamos noutra linha do tempo. Noutra “verdade”. Temos de reaprender a ser o que éramos e tentar voltar a ser o que queríamos ser, antes dessa quebra no Continuum ser provocada supostamente pelo coronavírus. Não tem outra saída.