Por Alan Caldas (De Istambul - Turquia)
Istambul não tem comparação no mundo. E também não há como entender o presente dela sem lhe olhar o passado. Esta megalópole passou pelo domínio de três impérios: o Romano, o do Oriente e o Otomano. Cada um deixou na cidade e alma deste lindo povo suas marcas de grandeza e vitórias históricas e culturais pelo longo dos milênios.
Mas afinal, o que significa Istambul?
Tudo se explica através de uma palavra. E a palavra Istambul vem do vocabulário grego e quer dizer três coisas que significam uma coisa só. Istambul quer dizer: “a cidade” ou “à cidade” ou “centro da cidade”. Ou seja: Istambul “é” a cidade. E ponto.
Mas porque ela é “a cidade”? De onde veio isso?
Conta um mito fundador desta cidade que, na antiguidade, um jovem rei grego estava com problemas em seu reino. Como todo jovem, ele não queria problemas. Queria só esperança e bons sonhos para desfrutar sua juventude. Então ele pensou em se livrar dos problemas daquele local. E a melhor ideia que teve foi abandonar aquele lugar chato e criar uma cidade nova, só dele, sem as más influências do seu passado. Um novo lugar. E melhor do que aquele.
Como todo jovem, ele desejava ardentemente se afastar dos problemas herdados e criar algo novo. Só dele. Uma nova cidade, no caso. E de preferência bem longe daquela em que tinha tantos desgostos. Mas onde seria esse novo lugar? O jovem não fazia ideia. Então ele foi ao Oráculo de Delfos, que era onde a turma da época se aconselhava. Ao Oráculo ele perguntou “onde” seria um bom lugar para estabelecer sua nova cidade. O Oráculo o mandou procurar pela Cidade dos Cegos.
Cidade dos Cegos? O rei não sabia onde era essa tal cidade. Nem mesmo se ela existia. Mas, se o Oráculo disse, estava dito. E, além disso, o jovem rei era adepto da teoria de que “pior do que está não fica”. Ele imediatamente juntou um povo e colocou o pé na estrada. Anda para cá e anda para lá, o jovem monarca chegou aqui nesta área do mundo. Ele olhou e na hora se encantou com o que viu.
E o que ele viu? Viu um local único. Um lugar onde havia a saída para o mar de Mármara de um lado, cercado pelo Chifre de Ouro. E que tinha uma outra saída do outro lado, para o Mar Negro. É incrível, pensou o jovem rei: a água cerca toda esta área pelos três lados e oferece proteção. A paisagem que ele viu era espetacular. Incomparável a tudo que vira antes. Ele ficou encantado. Mas seria mesmo ali o local que lhe fora indicado pelo Oráculo?
Foi nesse momento que fez-se a luz. De onde estava, o jovem rei viu o outro lado do estreito do Bósforo. Ele viu o lugar onde hoje fica o famoso bairro de Kadikoy, que atualmente é a parte asiática aqui em Istambul. Nesse momento o jovem rei lembrou que o Oráculo havia lhe dito para construir sua nova cidade “no lado oposto da cidade dos cegos”. Ele se iluminou. Teve uma epifania. E decidiu na hora erguer ali sua nova cidade. Ele a chamou de “cidade de Byzas”.
Mais tarde a chamariam Bizâncio. Então Constantinopla. E, mais tarde ainda, em 1453, quando o Império Turco-Otomano chegou, eles a chamaram de Istambul. Ou seja: chamaram simplesmente de “a cidade”. E basta! E essa é a estória e a história de Istambul. Este lugar é apaixonante. Não apenas para jovens reis, mas para todos que aqui chegam e, tal qual aquele rei sonhador, imediatamente por ela se encantam, dela se apaixonam e aqui se perdem de amores.