Por Alan Caldas – Editor (De Ávila, Espanha)
“Hispanicamente”, a cidade de Ávila foi fundada no século XI, pelo rei Afonso VII.
Mas ela vem de longe.
Com outro nome (Obila) Ptolomeu já a citava em sua obra “Geografia”, escrita 1.900 anos atrás.
A 1.130 metros de altitude, Ávila é a capital mais alta aqui da Espanha. E seu clima corresponde: verões curtos e calorosos, invernos longos, frios e nublados.
Médias de -5 até 30° na temperatura.
Os 57 mil moradores já não cabem na bem conservada muralha, erguida por romanos na antiguidade e com impressionantes 88 torres.
A cidade antiga, dentro da Muralha medieval, é a atração em Ávila. Restaurantes, bares, igrejas, comércio, advogado, dentista, cartomante e tudo mais de consumo se espalha por ruas mínimas. Mínimas mas bem conservadas, diga-se, apesar de cada ruela ter facilmente mais de mil anos.
Árvores, praças e gente atenciosa e sorridente compõem um cenário encantador em Ávila.
Ruas, casas e prédios com centenas de anos mostram ali o passado glorioso e que, conservado, tornou Ávila Patrimônio da Humanidade, desde 1985.
Na origem de Ávila está a pecuária transeunte. Ela era a rota da serra para o porto de Tornavacas.
No século 2, uma tragédia: a “peste” (bubônica) transmitida por pulgas e ratos, dizimou Obila (hoje Ávila), e por décadas o local ficou desabitado. Mas voltou se erguer.
Lá pelos anos 1500, a realeza espanhola se encantou com ela, e Ávila ganha, então, o lustro que a faz brilhar e ter, também, de defender-se dos franceses, que sentindo o aroma da riqueza vieram aqui saquear, e roubaram o que podiam.
No andar do tempo, nasce em Ávila uma menininha linda. Os pais lhe chamam Teresa. Ela é a mesma que, anos depois, por várias visões e importância espiritual, viria a ser chamada de Santa Teresa de Jesus.
A cidade a incensa. Sua escola. Seu convento. Sua casa. Até sua cama. Tudo de Santa Teresa está preservado aqui.
A minha Angela, para ser professora estudou o “Normal” em Livramento em uma escola devocional de Santa Teresa. Olha a coincidência. Então visitamos tudo relativo a Santa Teresa. E assistimos com alegria uma Missa na igreja a ela consagrada, aqui em Ávila.
A cidade de Ávila tem eventos. A Feira medieval, com pessoas a caráter, assim como teatro e artes circenses compõem o cenário cultural da cidade.
Se vê, aqui, a incrível identidade hispânica. Elegância sem afetação. Pessoas de pele morena clara, cabelo escuro, sobrancelhas acentuadas, uma fala bem pronunciada nos “éssexx”. Muitos olhos castanhos claros. Todos com gestos finos e nunca bruscos. É o espanhol típico “do alto”, o que se vê aqui.
E palmas ao Alcalde, o prefeito. Tudo limpo. E organizado.
Noto na população local: uma elegância no vestir. Uma firme doçura no falar. Uma pisada sem receio no caminhar. É uma experiência, Ávila.
O prato típico deles é o “chuletón”. Precisa traduzir? E tem muita carne assada na brasa, aqui.
A Angela pensou (e eu concordo) que pode ter sido destas paragens o legado a nós gaúchos transmitido de carne assada na brasa. Afinal, talvez 50% ou mais do RS tenha no fundo e na base do Ser a cultura espanhola. Daí o churrasco?
A bebida de Ávila vem da uva. É o “Orujo”. Uma aguardente (que aqui vendem em forma de licor) feita com o bagaço da uva dentro do líquido na hora da destilação (e que é o que diferencia o Orujo do Jerez, que é destilado sem a casca e que no fundo é o conhaque).