Editor Alan Caldas (Da Turquia)
Na minha infância o azeite de oliva era o da latinha pequena e com biquinho. Só fui conhecer azeite de oliva no início dos anos 80, em Portugal. Ali recebi uma aula tão bem explicadinha sobre oliveiras e seu fruto, a azeitona, da qual sai o azeite, que virei fã.
Porém é aqui na Turquia que impressiona a quantidade de tipos de azeitonas. Numa banca em Konya eu e a Angela contamos 17 diferentes variedades. E haviam muitas mais. Azeitonas de todo tamanho, cor e formato. E embora tenham sabor semelhante, cada uma difere da outra. Existem 700 variedades de azeitonas no mundo, pelo que pesquisei. E 10% disso, ou seja, 70 delas, são encontradas aqui na Turquia. É difícil dizer qual a melhor azeitona por aqui. Provei todas as que encontrei. E comi às bocadas. Sem cerimônia. E, de todas, a que me fez estralar os olhos foi a que serviam no café do hotel na Capadócia. É uma azeitona cor de rosa. Toda rosa. O caroço inclusive é rosa. Nunca imaginei que existia azeitona rosa. É saborosa e de acidez baixíssima.
As oliveiras e azeitonas se incorporam na cultura culinária da Turquia como tradição. E há uma forte razão para isso. É que dizem que a primeira árvore de oliveira no mundo teria sido descoberta aqui na Anatólia Central. Tal fato conferiria à Turquia o título de Mãe das Oliveiras. Eles plantam oliveiras por tudo. Nos parques, à beira da estrada e até no jardim para consumo e não decoração. Industrialmente têm centenas de milhares de hectares plantados. Segundo dados oficiais, existem 175 milhões de pés de oliveiras na Turquia. Sua produção de azeite de oliva é de 200 mil toneladas. Ocupa o terceiro lugar no mundo, após Itália e Espanha.
Na área cultural existe entre eles até o Ritual da Colheita da Azeitona. Ocorre no verão, quando estão maduras. Nesse dia é costume nas vilas do interior os turcos reunirem a família para colher azeitona. Eles colocam tapetes embaixo do pé da Oliveira e caberá sempre ao mais idoso da família dar a chacoalhada inicial, fazendo os grãos caírem no tapete de forma macia, para que não sejam machucados. Em seguida lavam as azeitonas e depois colocam elas na salmoura. Isso vai amaciar a casca e temperar a azeitona, que nos meses seguintes será servida em praticamente todas as refeições das famílias turcas.
Existe também um esporte aqui ligado ao cultivo das Oliveiras. É a luta do azeite. O esporte que começou com os Otomanos, 600 anos atrás, e perdura até hoje. Nessa luta, os homens vestem calças de couro preta e, sem camisa, untam o corpo inteiro com azeite de oliva. A disputa é semelhante ao sumô e vence quem mais rapidamente derruba o adversário. O esporte é praticado em várias regiões, sob aplausos e vaias da plateia.
O clima da Turquia é ideal para cultivo de azeitona. Está entre os 5 maiores produtores mundiais. A maioria das plantações aqui podem ser vistas ao longo da costa marítima. Oliveirais enormes estendem-se aqui do Mediterrâneo até lá no Egeu e no Mar Negro, gerando além de renda para a Turquia, sabor para a culinária mundial.