Por Alan Caldas (Palermo - Sicília)

A culinária italiano-brasileira, à qual estamos acostumados, é bem diferente da gastronomia aqui da Itália.

Aqui os restaurantes estão ancorados em massa e pizza, com preço praticamente tabelado entre 12 e 15 euros por um prato ou pizza. E a pizza é individual, não pode ser dividida entre duas pessoas na mesa do restaurante.

Em Palermo, porém, capital da Sicília, você encontra gastronomia diferente em diversos “Mercatos”, os muitos mercados a céu aberto que existem pela cidade.

São vários. E todos bárbaros.

Ballaró é o mais antigo deles.

Il Capo é outro.

Borgo Vecchio é mais um.

Il mercato delle Pulci é outro.

E assim segue.

Em todos eles se experimenta algo diferente da pizza e massa, pois ali normalmente é a culinária do mar, embora não só.

Nós fomos ao Mercato Vucciria.

O nome Vucciria vem do termo francês boucherie, que quer dizer açougue, porque, narra a história, no início esse mercado era um açougue de carne bovina e caprina a céu aberto. 

Peixe, frutas e legumes, que é o que tem agora, só chegaram nele bem mais tarde. 

A palavra Vucciria significa confusão, barulheira, gente falando alto. O termo lembra os vuciari, as vozes do povo.

Italianos falam bastante. E falam alto. E muitos deles falando junto vira uma Vucciria, uma barulheira.

O mercado Vucciria se estende por vários bairros de Palermo.

Fomos ao que está mais próximo de nós, porque caminhar com sol de quase 40°C neste clima umido deixa tudo tão quente que põe de joelhos qualquer criatura.

O mercado Vucciria está em uma densa rede de estreitas ruelas e pequenas praças.

O local é colorido pelas extraordinárias barracas e pela atenção e permanente gentileza dos donos e trabalhadores das barracas, bem como dos vendedores ambulantes. 

Nesses “Mercatos” você verá panelas imensas com batatas, polvos grelhados cheios de stigghiola (vísceras), lula, camarões, peixe espada, vieiras, ostras... tudo que se relacione ao mar.

É um cenário único, cravado no verdadeiro coração de Palermo. O aroma de fritura de peixes, alho, cebola, aipo, tomate e especiarias em diversas receitas é incrível.

Assim como a gritaria, a Vucciria, que está em todas as bancas e dá nome ao mercado.

A Vucciria trabalha das 10 às 15 horas. E à noite se transforma em alegre destino para bate-papo, bebidas e comidas rápidas entre amigos.

As bancas são sempre de peixe fresco. E em dialeto siciliano eles dizem que “i balati ra Vucciria ‘un s’asciucanu mai”.

Nem os peixes nem as bancas secam em Vucciria. 

O ditado também é uma brincadeira entre eles, porque os palermitanos usam essa expressão para indicar uma coisa que só acontecerá “quando a Vucciria secar”.

Palermo, como toda capital, é repleta de lugares “para turistas”. Mas esses “mercatos” são a cara e a alma de Palermo. Ali se vê o siciliano exatamente como ele é.