
Por Alan Caldas – Editor e amigo do Edmundo
Na tarde de domingo, 1º, enterramos seu Edmundo Laux no Cemitério Evangélico, na nossa famosa igreja do relógio. Ele estava com 91 anos de idade, havia perdido a esposa, 6 meses atrás, e nas últimas semanas sua saúde agravou bastante.
Faleceu na madrugada de sábado, em paz, em silêncio, praticamente dormindo. Não há morte boa, mas essa é uma que qualquer um desejaria escolher, se pudesse.
Seu Edmundo nasceu em Morro Bock, área que hoje pertence a Picada Café. Nasceu agricultor, filho de agricultores, e lidou na terra por muitos anos.
Um dia, já rapazinho, foi a um baile na Linha 4 Cantos, em Picada Café, e lá conheceu uma linda moça, Loena, pela qual seu coração bateu bem, bem mais forte.
Tomando coragem, ele foi falar com ela no baile. Conversaram. Dançaram. Namoraram. Noivaram. E por fim Edmundo a levou ao altar, transformando-a na esposa querida com a qual por quase 70 anos dividiria a sua existência. Loena lhe deu 5 filhos, o Ricardo, a Teresinha, as gêmeas Marli e Marlene, e a Marcia. E foi a companheira e conselheira de toda sua vida.
A vida na agricultura não é nem nunca foi fácil. Tudo é longe. Os filhos começavam a crescer. E seu Edmundo e dona Loena, depois de muito conversar, resolveram mudar de cidade e de vida. E foi assim que vieram para Dois Irmãos.
Embora fosse agricultor, Edmundo desde cedo demonstrava talento para a carpintaria. Sabia cortar madeira. Sabia fazer fundação. Percebeu que por esse caminho poderia engatar uma nova profissão.
Em Dois Irmãos, fez uma parceria profissional com seu amigo Arthur Müller, começando, então, a construir chalés. Esforçado e inteligente que era, em pouco tempo tornou-se um carpinteiro de mão-cheia.
Foi um construtor renomado que nem mesmo os filhos conseguem lembrar o tanto de casas que construiu em Dois Irmãos e região durante sua vida. Seria carpinteiro durante a vida adulta toda.
Ao se aposentar e para ter o que fazer e melhorar a renda, passou a consertar guarda-chuvas e sombrinhas, tornando-se o consertador oficial desses equipamentos no município de Dois Irmãos. Trabalhou nisso até recentemente, um pouco antes de falecer a esposa, seis meses atrás.
Quando morava em Morro Bock, seu Edmundo era integrante da Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Lá casou. Lá batizou os 5 filhos. E quando chegou a Dois Irmãos passou a participar dos cultos e vida religiosa na IECLB da cidade, na famosa igreja do relógio.
Um dia, quarenta e poucos anos atrás, o pastor da época falou com ele sobre cuidar do relógio da igreja. Alguém precisava dar cordas no relógio e seu Edmundo prontamente assumiu essa responsabilidade perante a comunidade.
Tornou-se o homem do relógio. Cuidava como se fosse dele. E por anos e décadas fez esse trabalho, subindo por uma estreita escada até o topo da torre da igreja IECLB. Fez com dedicação, com amor, com respeito e com imensa alegria.
Ontem, na capela mortuária, a família foi surpreendida por um amigo do seu Edmundo, de nome Ivo Korb. Antes de se fechar a tampa do caixão, já nas despedidas dos familiares e amigos, seu Ivo pediu a palavra e disse que tempos atrás seu Edmundo o havia procurado e entregue a ele a chave com a qual durante tantas e tantas décadas ele cuidou do relógio e em parte também do sino da igreja. E ao seu Ivo, nosso amigo Edmundo disse:
– Te entrego a chave porque em você eu confio, Ivo, e quero que quando eu morrer você acione o sino por mim.
O corpo seguiu para o cemitério, ao lado da igreja, e após um lindo pronunciamento da pastora Cláudia, com orações e imposição de mãos para benção dos amigos ao seu Edmundo que partia, a pastora jogou terra sobre o caixão, “da terra à terra, do pó ao pó”, e baixaram o caixão.
Nesse exato momento os sinos tocaram. Não 40 vezes, como é tradição no enterro. Mas 50. E enquanto o túmulo era cerrado, o relógio soou uma solitária e triste batida das 17h30. Aquilo soou como que dando adeus ao grande amigo que por tantos e tantos anos cuidara daquele relógio com o mesmo zelo que sempre cuidou da querida esposa e dos seus amados filhos.
* Nas fotos acima, o casal Edmundo e Loena e a Igreja Evangélica (IECLB)