Por Alan Caldas (De Konya - Turquia)
Konya é a cidade mais religiosa da Turquia. E isso se deve em grande parte à tradição Sufi, a corrente islâmica que busca chegar a Alláh através da prática da meditação. Konya é conhecida também como A Cidade do Coração, tal o volume de gentileza, atenção e hospitalidade que existe entre seus 2 milhões de moradores e os visitantes.
O sufismo transformou Konya em um centro mundial de peregrinação muçulmana. Dos ritos muçulmanos, o sufismo é certamente o que atrai mais as pessoas no estrangeiro. E elas vêm aqui prestar sua fé. A peregrinação para Konya se deve ao fato de que a tumba de Mevlana, o famoso místico “sufi”, está aqui. Mevlana fundou a ordem Sufi e morreu em Konya, no ano 1.273. Em vista disso, a cidade virou um super centro de peregrinação dos fiéis sufis que vêm aqui prestar sua homenagem ao grande Mestre da corrente.
No mês de novembro, por exemplo, os Dervixes do mundo inteiro reúnem-se aqui para celebrar a data magna dos Sufis. E dezenas de milhares de seguidores peregrinam para Konya. O Museu Mevlana, onde está o túmulo de Mevlana aqui em Konya, é considerado um espaço sagrado para os Sufis. E ele tem muita história e réplicas de cera dos Dervixes. Tem claustros. Tem o menor livro do Corão do mundo, com 3 centímetros. E sobretudo aqui tem muita paz.
Mas o que é o sufismo?
É uma corrente islâmica. É uma parte da fé muçulmana que procura encontrar uma relação própria com Deus e usa, para isso, a música e dança, que se transforma para eles numa meditação que os faz unirem-se ao divino amor de Alláh. O sufismo prega a tolerância. A compreensão entre os homens e a natureza, através da prática diária da gentileza e da misericórdia. Na vida prática, a melhor representação que se tem para explicar os sufis são os dançarinos “Dervixes”.
Os Dervixes procuram uma relação direta com Deus a partir da música e da dança, que é uma das formas do amor de Deus. E a dança deles é, também, dizem, uma forma avançadíssima de meditação que os leva ao Prana, que seria a compreensão do “todo”. A dança, dizem, os leva à percepção do “porquê” estamos aqui. Do “quem somos” e “para que somos” aqui na terra. Quando os Dervixes dançam, eles sempre começam com as mãos cruzadas sobre os peitos.
Depois começam a rodopiar. E vão acelerando o rodopio. Ficam assim, rodopiando sem parar, por mais de 10 minutos, sempre ao som de uma música contagiante e harmoniosa que é um louvor a Alláh. Uma música que eleva, que faz os neurônios vibrarem numa onda de tranquilidade e paz superior.
Ao dançar, os Dervixes parecem flutuar, tão harmônico é seu movimento e união com a música. É por isso, creio, que se diziam que Mevlana, o fundador, “levitava”. Quando termina a dança nesse constante rodopio, os Dervixes caminham normalmente, sem ficar tontos. Essa harmonia e equilíbrio, dizem, é conquistada porque a dança seria, de fato, a meditação que os torna “um” com o ambiente. Quando começam a dançar, os Dervixes tiram as mãos que estão cruzadas sobre os peitos e colocam as palmas da mão uma para cima, simbolizando a benção de Alláh no Céu, e a outra palma para baixo, simbolizando sua comunicação com a terra. É o “religare”, que significa a palavra “religião”, o re-unir o Céu e a Terra.
Esse religamento do Céu com a Terra, mais o movimento dos rodopios constantes, gera, afirmam eles, uma meditação tão profunda que lhes permite abandonar o Ego e acessar o Prana. O Prana é o “estado” meditativo mais profundo e que não tem como se explicar pois só acessando mesmo ele é que se saberia realmente o que significa. Mas, seja lá o que for, é visível que os Dervixes estão bem mãos próximos de Alláh, de Deus, que a maioria de nós, meros mortais.
Se vier à Turquia, NÃO PERCA isso. Vale a viagem até Konya, que está mil quilômetros distante de Istambul, tem 2 milhões de habitantes e é onde você verá as pessoas mais tradicionais da Turquia. É imperdível, Konya. Dá vontade de morar aqui.