Por Alan Caldas – Editor
Bellarmino Arandt nasceu em Dois Irmãos em 30 de dezembro de 1938. Sua mãe foi Lidvina Bickel Arandt, uma agricultora que em fins de semana era cozinheira na Sociedade Atiradores e no 1º Café Colonial da cidade. Seu pai foi o professor Paulo Arandt, que nasceu em Coesfelt, na Alemanha, chegou ao Brasil em 1902 e só se naturalizou em 1948.
Nos primeiros anos escolares de Bellarminio seu pai foi transferido para Pinhal Alto e ele não estudou em escola fixa, mas sim acompanhando o pai nas aulas dele. E recorda de ir na garupa do cavalo até à escola de 9 Colônias, em Linha Imperial.
Em setembro de 1947 o pai retornou a Dois Irmãos e Bellarmino entrou no 4º ano, com o professor Justino Vier. Em 1952 foi enviado para o Colégio Cristo Rei, em São Leopoldo, onde concluiu o ensino Primário. E ali o escolheram para estudar em Salvador do Sul, afim de ser padre. Mas ele tinha apenas 14 anos e não aceitou, então voltou a Dois Irmãos e foi trabalhar nos Calçados Wirth, no setor de corte e costura, onde ficou por 8 anos, até 1960.
Durante esse período ele comprou uma máquina fotográfica e nos fins de semana levava o filme para revelar as fotos em São Leopoldo. Certo dia ele viu uma placa em um estúdio fotográfico que dizia “Sucursal da Folha da Tarde, Correio do Povo e Folha da Manhã”. Passou por ali algumas vezes nas próximas semanas, até que o dono o chamou e pediu para ver as fotos. Gostou das fotos. E o convidou a ser fotógrafo no estúdio dele, onde era, também, a sucursal da Empresa Jornalística Caldas Júnior, em São Leopoldo.
Aceitou na hora. Era seu sonho.
Voltou a Dois Irmãos e de tão alegre nem dormiu naquela noite. Na manhã seguinte falou com o senhor Arlindo Wirth e se demitiu, indo, assim, trabalhar no Estúdio Klein em São Leopoldo, e passou a morar no Hotel Independência na terra dos capilés.
Tinha 20 anos e a felicidade ficou ainda mais completa quando o proprietário do estúdio lhe disse que tudo que ele fizesse “fora do horário” era dele.
Bellarmino comprou uma máquina nova e entre 1960 e 1964 passou a fazer fotos de eventos em São Leopoldo para os jornais Folha da Manhã, Folha da Tarde e Correio do Povo. Virou repórter fotográfico e, na parte da noite, continuou o estudo do Ginásio no colégio Pedrinho. E, mais à frente, também em São Leopoldo ele concluiria o Técnico Contábil, no Colégio São Luiz, e se matricularia em Direito, mas sem concluir o curso.
Naqueles anos de São Leopoldo seu sonho era trabalhar em Porto Alegre com os grandes fotógrafos e jornalistas dos Correio do Povo e Folha da Tarde e da Manhã, jornais para os quais ele enviava fotos e textos que frequentemente viravam manchetes. E era bem quisto, o Bellarmino, pois profissionais como Vinícius Bossle, Alceu Feijó, Ribeiro Pires, Edmundo Soares´e Walter Galvani o elogiavam. O futuro dele como jornalista lhe sorria e aguardava.
Porém o destino tinha outros planos. Numa manhã de 1964 o Bellarmino recebeu em São Leopoldo uma carta do pai que lhe gelou o sangue.
O pai pedia que ele voltasse a Dois Irmãos. Alegou que ele e a esposa estavam idosos, e o filho, disse o professor Paulo de forma prussiana e em letra gótica, tem o dever de cuidar dos pais na velhice.
Bellarmino ainda hoje se emociona ao lembrar daquele instante em sua vida. Ele adorava o que fazia. E ansiava pela carreira.
Sofreu. E sofreu muito. Mas sufocou o sonho da vida dele e, germanicamente, foi cumprir o dever.
Abandonou a promissora carreira de fotojornalista e retornou a Dois Irmãos para cuidar dos velhos pais.
Ao voltar ele foi convidado por Walter Fleck e acabou sendo professor do 1º ano primário, em Morro Reuter. Não era o que ele queria. Mas então, em 1965 a história começou a prepará-lo para o que seria o seu verdadeiro destino.
Naquela época o tabelião da cidade era o senhor Victor Rausch e ele convidou Bellarmino para ser Oficial Ajudante no Cartório. Ele aceitou. Fez prova de conhecimentos perante o juiz de São Leopoldo e assumiu o cargo que o tornaria conhecedor de leis, partilhas e escrituras públicas.
Ficou como Oficial Ajudante até 1972. Então o prefeito Justino Vier o convidou a assumir como Chefe de Gabinete na prefeitura, e ele foi. Estava treinado em leis graças ao trabalho no Cartório, e na prefeitura logo se destacou pois passou a ser ele quem redigia todas as portarias, decretos, nomeações, projetos de lei, ofícios e correspondências oficiais.
O prefeito seguinte, Norberto Emílio Rübenich, igualmente o convidou e Bellarmino ficou por mais 4 anos na prefeitura. Nesses dois mandatos de prefeito ele esteve várias vezes com governadores e, mais tarde, a pedido de Romeo Wolf, esteve em audiência com o Presidente João Batista Figueiredo.
Bellarmino saiu da prefeitura em 1980, e agora estava com larga experiência em Cartório, em leis e em administração pública. E foi aí que o destino o chamou para o que realmente havia sido preparado para ele.
Era o ano de 1980 e o senhor Ervino Becker o convidou para entrar na Imobiliária Becker, um novo empreendimento na cidade. Bellarmino era treinado em leis, escrituras e administração pública, e conhecia a cidade como poucos, era, portanto, talhado para o ofício imobiliário.
A Imobiliária Becker já era nas esquinas da Avenida São Miguel com Avenida 25 de julho, e naquele local existia também a revenda de carros Chico Klaudat e o despachante Ernani Petry. Só mais tarde foi construído o prédio que tem hoje.
Quando ele entrou, ainda não exigiam carteira de Corretor, mas logo à frente Bellarmino prestou prova em escrituras e leis, em Porto Alegre, e recebeu o registro sob o número 5394. Foi, talvez, o primeiro a ter CRECI em Dois Irmãos.
Era uma vida boa, a do Bellarmino, e ele já estava com 30 anos quando resolveu namorar para casar. Ele tinha um grupo de amigos e nesse grupo estava a jovem Clarice. O Bellarmino se interessava por ela, mas a Clarice era 10 anos mais nova que ele. Um dia, e abrindo a porta para o amor, a Clarice lhe deu um livro. E na página 47 ela sublinhou bem forte a seguinte frase: “a onda da vida nos trouxe à mesma praia”.
Era a palavra mágica que Bellarmino esperava. Passaram a namorar. Noivaram em 1969. Casaram em 26 de dezembro de 1970 e ficaram 21 dias em Lua de Mel no Rio de Janeiro.
Tiveram 3 filhos. O Thomas, que é engenheiro químico, a Ingrid, que é arquiteta, e a Hariet, que é bióloga e lhes deu o neto Mathias, de 11 anos, e a neta Thelma, de 6.
Viveram 35 anos em linda parceria, até que, acometida de câncer, dona Clarice tristemente partiu no dia 29 de junho de 2005, levando com ela muito da alegria de viver que o Bellarmino tinha.
Bellarmino sempre foi participativo na comunidade. Em 1959 ele votou Sim na Emancipação de Dois Irmãos. E também se filiou no Partido Libertador. Foi Chefe de Gabinete dos prefeitos Justino Vier e Norberto Rübenich. E Romeo Wolf o queria como Secretário, mas ele já estava na imobiliária e agradeceu o convite. Foi vereador pelo PDS e fez 430 votos, o que, na época, significava 5% dos votos no município. Presidiu a Câmara, em substituição a Albano Hansen, e desgostoso com a política não foi à reeleição, saindo, assim, da vida pública.
Está com 85 anos. Tem 1,68 de altura, pesa 82 quilos, calça 39 e seu sangue é O+. Hoje o passatempo dele é pesquisar na internet. Até a Pandemia fazia hidroginástica. Gosta de música, especialmente samba e bolero. Em 1997 parou de fumar e se absteve 100% de bebida alcoólica. Fez viagens pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Holanda, Itália, Áustria, Chile, Eslováquia e Alemanha. Visitou Coesfelt, a terra natal do pai. Antigamente pescava com vários amigos e uma única vez caçou marrecão. Dorme 9 horas por dia. Perdeu um rim devido a um cisto. É organizado, mas admite que assume muitas coisas ao mesmo tempo.
Foi fundador do Lions Clube. Foi fundador do Grêmio Estudantil Castro Alves. Foi fundador do Departamento Juvenil da Sociedade Atiradores. Foi Presidente e Diretor Social do 7 de Setembro. Foi Cônsul do Grêmio por 20 anos e acompanhou a Garota Tricolor, Janaina Kreuz, bem como teve participação no encaminhamento do atleta Leandro Wendling, que ficou Campeão do Mundo em 1983. Foi idealizador do 1º Baile do Chope na cidade. E do Baile da Rainha dos Estudantes. Foi cerimonialista em dezenas de eventos, inclusive no Natal dos Anjos.
Ainda trabalha. Mas tornou-se um homem caseiro. “Caseiro como o meu pai”, brinca ele.
É um ser humano bom. E é um dos mais típicos descendentes de alemães em nossa cidade.