Por Alan Caldas (Editor)
Jurados absolvem suposto mandante e matadores do médico Marco Antônio Becker
A decisão foi surpreendente. E é vexatória para a polícia, que supostamente investigou o crime, e para o Ministério Público Federal, a quem cabia acompanhar as investigações, acusar e condenar os culpados. Os quatro réus acusados do assassinato a sangue frio do médico Marco Antônio Becker, em 2008, foram absolvidos pelo júri.
No sábado (1º), os jurados que integraram o Conselho de Sentença (que é quem julga se o acusado é inocente ou culpado) reuniram-se com o juiz da 11ª Vara Federal de Porto Alegre, Roberto Schaan Ferreira, para o veredito. Após as leituras e votações de todos os quesitos, os 7 jurados decidiram inocentar os acusados. Ao longo da semana tinham sido ouvidos 15 depoimentos de testemunhas, os réus, o Ministério Público e as defesas. A decisão foi proferida às 19h40min de sábado. E foi de tontear, porque algo “muito errado” transparece nela.
Eram acusados pelo crime:
– O ex-médico andrologista Bayard Olle Fischer dos Santos, então apontado como mandante do crime;
– Um assessor dele na clínica de andrologia, Moisés Gugel;
– Juraci Oliveira da Silva (o Jura); e
– Michael Noroaldo Garcia Câmara, o Tôxa, que seria um dos que tripulava a moto usada pelos assassinos do médico.
O assassinato do doutor Marco Antônio Becker foi um dos crimes mais comentados na imprensa gaúcha. Nascido em 5 de abril de 1948 na localidade de Lomba Grande, distrito de Novo Hamburgo, o Dr. Becker formou-se em Medicina pela UFRGS em 1973. Atuou como médico oftalmologista e teve formação e participação nacional e internacional, na Espanha e nos Emirados Árabes. Tornou-se Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul, o Cremers, cargo que exerceu por mais de uma década. Quando foi brutalmente morto a tiros, em 4 de dezembro de 2008, o doutor Marco exercia o cargo de vice-presidente da entidade médica.
No Cremers, o doutor Becker se notabilizou por uma supervisão implacável sobre o exercício ético da medicina e de clínicas médicas. No período dele, profissionais que não atuavam de acordo com os normas legais e éticas perderam o título de médico. Também clínicas que atuavam de forma contrária aos preceitos da boa medicina foram fechadas no Rio Grande do Sul. Esse controle permanente sobre a conduta ética de médicos e clínicas lhe “rendeu” inimigos fortíssimos. Um desses desafetos teria encomendado o assassinato do doutor Becker.
Marco Antônio Becker era meu amigo. E afirmo que no convívio diário era pessoa muito tranquila, alegre e sorridente. Sendo natural de Lomba Grande, aos sábados ele sempre vinha a Novo Hamburgo tomar café conosco no Luna Bar, no Calçadão. Todos gostávamos dele. Era sempre um bom papo. Se tratava de um homem que, além de médico, era muito bem informado sobre diversos outros assuntos.
Em 2008, o assassinato dele nos deixou todos estupefatos. Era uma crueldade e brutalidade que ninguém esperava. E, agora, 14 longos anos depois à espera de Justiça, nos vem essa absolvição que nos deixa a todos novamente boquiabertos. Boquiabertos e pensativos, pois considerando que os jurados raramente erram, fica essa dúvida de “onde” foi o erro.
Foi na investigação da polícia, que instruiu mal o processo?
Ou foi na má atuação técnica do promotor federal?
Seja como for, sobra, então, a pergunta:
– Quem mandou matar e quem matou o doutor Marco Antônio Becker?
O pior de um crime é quando a verdade fica encoberta pelos escombros da mentira!