Editor Alan Caldas (De Bursa - Turquia)
Ela é como uma loja dos sultões. Foi a primeira capital do Império Otomano, que surgiu aqui ao lado com a união de cinco sultões e a transformou nesta fabulosa cidade onde cada rua tem aroma de história.
Eu, você, qualquer pessoa encontra aqui um traço de si mesmo na história da humanidade. Muitas das comidas típica da Turquia foram criadas a partir de Bursa. Muitos costumes surgiram aqui. Bursa integra a Rota da Seda. E sua seda é finíssima. Tem toque delicado e maravilhosas cores e desenhos otomanos. É tão grande o Bazar de Bursa que se caminha 3 ou 4 quilômetros lá dentro e nem sente. Dividido por setores, no Bazar se encontra de seda a produtos agrícolas, de alimento a eletrodomésticos, de remédio a ouro. É simplesmente incrível. E lá dentro reina um aroma típico porém inexplicável em palavras.
Bursa tem turismo 365 dias por ano. Na montanha aqui ao lado neva horrores entre dezembro e fevereiro, isso transforma a cidade num destino perfeito para o esqui. Tem também água termal, e o turista, principalmente o idoso, vem se aquecer e curar nas piscinas quentinhas e de água sedosa. A grande economia de Bursa vem da produção de veículos, que posiciona a Turquia como um dos maiores produtores de carros no mundo. Aqui estão a italiana Fiat e a francesa Renault.
Tendo sido capital do Império Turco-Otomano, os traços disso estão em cada pedra da cidade. Visitamos os túmulos de Osman e Orhan Gazi, fundadores do Estado Otomano, no século XIV. Visitamos a Tumba Verde e, ao lado, a Mesquita Verde. São os símbolos de Bursa. A Mesquita Verde é construída em mármore branco e seu interior tem paredes revestidas com azulejos verde-escuros. É de impressionar. A Angela não entrou. Estava sem véu e a lei islâmica exige que toda mulher cubra a cabeça ao entrar lá. Eu entrei. É linda. É ampla. E há um permanente ambiente de alegria nessas mesquitas. Fiquei ali por um tempinho, orei pelos familiares e amigos. Mas aí fizeram a chamada para o culto e saí antes para não atrapalhar.
Bursa é um dos lugares mais seguros do mundo. Você esquece bolsa, máquinas de fotografias ou celular e ao voltar, horas depois encontra tudo num banco ou pendurado numa árvore. Na arquitetura ela tem edifícios antigos e modernos vivendo em harmonia. O Bazar alterna arquitetonicamente o novo e o antigo. Ele é permeado por pequenas praças, que são os oásis onde senta-se para descansar, conversar e fazer amizades tomando o tradicional chá turco. Reparo que mesmo não falando turco a gente se entende. É “marabá” para cá é “techêculér” para lá é sorrisos e chás e a conversa flui e todo mundo se entende.
Aqui não se bebe álcool. Tem. Mas ninguém bebe. O Corão não permite bebida alcoólica. Daí ninguém bebe. Mas fumam. Bah... fumam horrores. Fuma homem, mulher, jovens, idosos. O cigarro está em alta aqui. As pessoas são adoráveis. Gentilíssimas. Te convidam para chá. Te dão provinhas do que vendem. Do nada te dão um presentinho. Se tu compras algo e não pedes o “indirím”, o descontinho, eles dão voluntariamente, como símbolo de amizade. Têm sorriso fácil. As mulheres usam lenço o tempo todo e há muita burka. Mas é opção cultural, não obrigação.
As estradas são ótimas. As ruas limpas. As calçadas são verdes e brancas. O teleférico te leva ao alto da montanha Ulu, o centro da Turquia para o turismo de inverno. E Bursa tem algo que nunca vi antes: uma “Política de Proteção de Árvores”. Eles perceberam que as árvores também participaram da história Otomana. Então eles transformaram 833 árvores, que têm entre 100 e 600 anos, em “Monumentos Que testemunharam a História”. Isso NUNCA tinha visto. Mas adorei. Em vista disso, hoje Bursa é conhecida como “Green Bursa”. A Bursa Verde. E tem 833 “Árvores Monumentos”, preservadas e cultuadas como Testemunha da História de Bursa.
O tempo é como um lindo e frágil lustre de Cristal em Bursa. Andando por aqui, percebo que o tempo voou. Não entendo como isso ocorreu, mas tenho essa sensação em cada esquina desta cidade. Ela é diferente. Há passado e presente aqui. E o futuro é o imenso desafio de manter a identidade turca sem ceder demais à “modernização”, que de fato é uma imposição predadora do Ocidente e EUA, que nada mais tendo a dizer aos povos do planeta tentam sobreviver como cultura obrigando todos a ser sua imagem e semelhança.
Estamos indo embora. Tchau, Bursa! Mas já sinto saudade.
Levamos daqui a memória do perfume das rosas que aromatizam tudo. Da Grande Mesquita e das dezenas de outras, espalhadas em cada cantinho desta cidade. Saudade da suavidade da seda de Bursa. Saudade do chá nos oásis do Bazar. Saudades do forte cheiro de café turco, da calma no Túmulo Verde e sua Mesquita. E saudade da imensa simpatia turca, que nos apaixonou em cada ponto e pessoas com as quais conversamos aqui.