Por Alan Caldas (Editor)
O Bierplatz é o restaurante referência na região alemã. E o homem na cozinha por trás do Bier é “o Beto”. O Luiz Alberto Alles.
Beto nasceu em 20 de março de 1965, no hospital de Dois Irmãos. Filho dos moradores da localidade de São José do Herval, Selvino Alles e Lúcia Luiza Alles, ele teve mais 4 irmãos: Paulo, Antônio, Marco e Juliana. Logo após o Beto nascer os pais se mudaram para Boa Vista do Herval, onde seu pai trabalharia no Frigorífico Haubert.
Quando ele tinha 12 anos a família foi para Novo Hamburgo. Beto tirou a carteira de trabalho e passou a trabalhar nos Calçados Puhlmann. Sua função era dobrar caixinhas de sapato. Aos 14 anos os Alles voltaram para Dois Irmãos e ele começou a trabalhar nos Calçados Maide. Na época a empresa ficava na avenida 25 de Julho.
Beto queria estudar e “pegar um escritório”. Nem lhe passava pela ideia ser cozinheiro. Muito menos que seria dono do mais destacado restaurante da região alemã. Ele cursou o Primário na escola 10 de Setembro e o 2º Grau na escola estadual que havia junto ao Colégio das Freiras. Lembra com alegria de professores como Ieda Scholl, Remi Petry, Waldomiro Rörig e Irineu Canali. Gostaria de ter feito faculdade, ele admite. “Mas não tinha condições financeiras”. Seguiu na Maide, se aperfeiçoando em calçados e aguardando quem sabe a chance de entrar no escritório. Mas ela nunca veio, porque antes viria o destino do Beto, que era a cozinha.
Quando fez 18 anos e trabalhando desde os 12, Beto conversou com o pai e comprou seu primeiro carro. A conversa com o pai era porque todo dinheiro que ganhava ele entregava para a família. O pai e a mãe concordaram e ele comprou um Chevette praticamente zero. Tirou Carteira de Habilitação em Dois Irmãos, na Delegacia de Polícia. Lembra que “o seu Ari”, que era o policial responsável, pediu para ele “fazer um balão” na frente do prédio e o Beto saiu de lá habilitado.
Aos 21 anos o Beto saiu da Maide. Foi para o escritório da empresa Wendling e também auxiliava nas bombas de gasolina de vez em quando. Um ano antes, 1985, ele havia conhecido Márcia Adriana Johann. Ela era irmã de uns amigos dele e colegas da empresa Maide, com os quais o Beto ia num bar ao lado da casa da Márcia.
Se apaixonou por ela. E não querendo perder tempo, a pediu em casamento. Ele tinha 21 anos quando casaram, em 1986. Cerimônia na Igreja Católica. Festa no bar, ao lado da casa da noiva. “E foi o único dia em que usei terno”, brinca ele. O casamento foi também a independência financeira dele. Até então, tudo que ganhava ele entregava ao pai. Dali para frente era ele para ele. Foram morar na Travessa 18 do Forte. Tiveram dois filhos, que trabalham com o Beto: Rodrigo, que lhe deu a neta Manoela. E Rainier, que lhe deu a neta Alice.
Foi na época em que saiu da Maide que o destino do Beto começou a se apresentar. Numa tarde ele estava em São José do Herval, conversando com os pais. Junto estavam os irmãos Marco, Antônio, Paulo e Juliana.
Sentados ao redor da piscina eles debatiam a possibilidade de abrir um negócio em Dois Irmãos. Mas o que? Um bar? Um restaurante? Uma choperia? Decidiram por um restaurante e choperia. O irmão Paulo tinha o dinheiro. E fez um empréstimo de 5 mil dólares para os irmãos Beto, Antônio e Marco, e para a mãe, dona Lúcia. Quando a empresa engrenasse eles devolveriam. Surgia assim o Bierplatz. Era o ano de 1991. Beto seguiu trabalhando na Wendling até 1994. E só então foi para o restaurante.
Naquele ano de 1994 o Beto não era nem de longe um cozinheiro. Sua experiência em cozinha era mínima. Vinha dos seus 8 anos de idade, quando era ele quem fazia arroz, batata e fritava carne, preparando o almoço enquanto a família ia na roça, lá em Boa Vista do Herval.
Porém o Beto é perfeccionista. Chega a ser chato, confessa ele. Tudo precisa estar no lugar e posição certa. Ou ele reclama. E assim foi que mesmo não sendo o cozinheiro ele ia na cozinha do Bierplatz e dava sugestões de como fazer melhor. E como não faziam certo, ele mesmo ia lá e fazia. Foi se tornando o Chef de cozinha respeitado que é hoje. Com a chegada do Beto começaram a fazer pizza. E iniciaram uma revolução ao inaugurar a tele-entrega na cidade.
No ano 2000 o economato do restaurante Santa Cecília ficou em aberto e a dona Lúcia assumiu. O Beto ficou sozinho na cozinha do Bier e passou a pagar um valor X por mês para a mãe e pai, começando a se tornar proprietário único do restaurante. Logo depois, o irmão Antônio assumiu o Quiosque do Careca e mais tarde assumiria o Bier Bifes, na Galeria Ranft. Por essa época o irmão Paulo também abriu o El Paradiso, na propriedade que originalmente era da família, em São José do Herval.
Em 1999 a vida familiar do Beto dá uma guinada. Ele se separou da esposa Márcia e foi morar com a atual companheira, Vera Marlise Becker. Com ela o Beto teve a filha Rafaeli, que um mês atrás lhe deu o neto Arthur. Os dois filhos do primeiro casamento, Rodrigo e Rainier, cuidam agora do setor financeiro do Bierplatz. E Rafaeli é quem leva jeito para a cozinha, diz o Beto, se sentindo imensamente feliz com a presença da filha junto dele nas panelas.
A vida de cozinheiro é puxada. O horário de trabalho do Beto é das 5 da manhã até as 15 horas. Aí ele tem um descanso de duas horas, quando vai no Bar do Johann ou no Lui, ver amigos. Retorna ao Bierplatz às 17 horas e só sai às 22 horas. Vai para casa. Deita cedo, 22 ou 23 horas. E acorda cedo, às 3 e pouco já está em pé.
Desde 1994 não teve férias. Tirou 7 dias para ir a Cancun. Outros 7 para Punta Cana. Depois outros 7 para novamente ir a Punta Cana. E finalmente mais 7 dias em Maceió, que ele adorou. E era isso.
Tem casa em Nova Tramandaí, mas nunca consegue ir com a esposa. Se ele não está na cozinha é a Vera quem atualmente fica. Quando vai é sozinho. Sai na terça à tarde. Na quinta está de volta. Gosta de assistir filmes e séries antigas. Assiste no próprio Bierplatz, lá pelas 10 da noite, entre um preparo e outro na cozinha. Raramente senta para ver. Sua comida preferida é massa, panqueca, lasanha. Tem o sobrenome italiano Balardin correndo pelas veias. E quase nunca come carne vermelha.
Aos que pretendem se arriscar como donos de restaurante no futuro, Beto dá um conselho de especialista:
– Cozinhe o que você gosta. E sirva isso. Se gostarem, vai dar certo. Aceite as críticas. Eu gostava de mais sal, mas mudei. Então faça do seu gosto. E se prepare para trabalhar com a família, porque os restaurantes tendem a ser familiares, já que quase não se consegue mais pessoas para trabalhar nesse setor.