Por Alan Caldas – Editor
Havia esquecido. Foi 50 anos atrás. Era o dia 20 de julho de 1969. Nem lembrava. Um primo, Carlos Zócolli, me mandou por Whats a foto do módulo lunar da Apollo XI e um texto, dizendo:
- Lembra disso, Herivelto (meu nome “de casa”)? Assistimos esse pouso na casa da tia Ceci.
Minha mãe é “a tia Ceci”. E a tevê? Era uma Colorado RQ, preto & branco, com “chuviscos” de quando em quando. A hora? Lá pelas duas da manhã. Horário de Brasília. E o mundo olhando Neil Armstrong e Buzz Aldrin alunissarem (pousarem, né?) o Eagle, a Águia, o módulo lunar da Apollo XI, em solo lunar.
Havia muitas pessoas ao redor da pequena tevê. Uns na sala. Outras penduradas na janela, pelo lado de fora. Nossa tevê era a única do bairro, e porque o caso era inédito e rádios e jornais não paravam de falar no “pouso na Lua” que seria naquela noite de 20 de julho de 1969, a vizinhança toda se aglomerava ao redor da pequena casa.
Foi um dia incrível. E sem dúvidas. Hoje, muitos duvidam do pouso do homem na Lua. Duvidam do “pequeno passo para um homem e um grande passo para a humanidade”, as palavras de Armstrong ao tocar com seu pé o solo da Lua. Mas nós não tínhamos dúvida. Estávamos lá. E todos nós, terráqueos, pisamos aquele solo da Lua junto com Armstrong.
Era a glória. O céu estava claro naquela noite de Vacaria, e nos revezávamos um pouco olhando para a tevê e outro pouco olhando para a Lua. Que emoção! Que sensação de felicidade foi aquilo! Cada um de nós conectava-se da Terra à Lua. E sonhávamos.
Sonhávamos com um futuro onde cada um de nós igualmente pisaria por lá, um dia não muito distante daquele dia. Os mais velhos diziam, ponderando: “vocês talvez, mas nós estaremos mortos nesse dia”. E sorriam. E estão, mesmo, todos mortos hoje. Infelizmente.
Não havia dúvida porque não havia as teorias, naquela época. Nada de Terra Plana, como acreditam, hoje, alguns milhões, desafiando a geometria. Nada de Terra Oca, como argumentam alguns. Nada de “isso Deus não permitiria”, como afirmam crentes na divindade descrendo na ciência como presente de Deus. Ninguém pensava isso. Tudo isso seria bobagem, naquela noite.
Naquela noite era o homem pisando na Lua. Muitas teorias de que a foto da marca do pé na lua é forjada foram surgindo ao longo dos anos. Vieram, também, as dúvidas, o “por que” nunca mais foram lá. Vieram os depoimentos de um ex-comandante soviético ligado à astronomia russa dizendo que nem americanos pisaram na lua nem soviéticos orbitaram a Terra. Mas nada nos abalou.
Fomos hipnotizados coletivamente naquela imagem e naquela voz narrando pela TV o módulo lunar alunissando. Foi incrível. Dava vontade de chorar de alegria. Foi o maior impacto visual coletivo do mundo, aquele pouso na Lua.
Mais tarde vieram as dúvidas. Havia selenitas? Gente vivendo lá? É verdade que “discos voadores” acompanharam a Apollo XI? Por que Armstrong nunca deu uma entrevista? Por que um dos três astronautas enlouqueceu? Dúvidas, questionamentos, mas tudo isso depois. Não naquele dia.
Naquele dia havíamos como civilização desenvolvido o motor a propulsão e a capacidade de andar num espaço sem ar, sem gravidade, sem calor, e havíamos descido na lua. Ela já não era só “dos namorados”, era de todos nós, terráqueos. E dali seria Marte. E de Marte seria Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e o espaço profundo. Não havia como não sonhar grandiosamente vendo aquele ato grandioso de pela primeira vez um ser humano subir aos céus, atravessar 286 mil quilômetros de caos e descer na Lua, recolher umas pedras, voltar ao módulo, do módulo à nave Apollo e retornar à Terra. Era a glória. A glória total. A vitória da civilização.
Hoje, passados 50 anos, a vida nos tendo calejado com conhecimentos e dúvidas, ainda penso que sim, pisamos, é claro, no solo da Lua, naquele inesquecível 20 de julho de 1969. Éramos meninos, eu com 12, meus primos mais que isso, e estamos aí. Históricos, agora. Aquele dia nos tornou históricos. Somos o antes e o depois do homem pisar na Lua. E não é que a Guerra Fria entre Capitalismo e Comunismo não possa ter realmente inventado a Guerra nas Estrelas. Pode. Eu sei que pode. Mas me nego a abrir mão daquele momento tão esperançoso, tão grandioso, arrebatador e feliz que foi para toda a humanidade um de nós homens ter ido até lá e plantado uma bandeira na Lua. Pode não ter ocorrido. Acho que ocorreu. Mas pode não ter. Insisto em não abrir mão desse que foi o momento mais coletivamente feliz da humanidade. Naquele instante valeu a pena viver, eu lembro bem. A partir dali era a Terra “e o Universo”. Não era só mais Vacaria ou outra cidade qualquer. Nãããão!!! Depois daquilo, havia não só outras cidades e países para se poder ser feliz ou infeliz. Havia um espaço sem fim à nossa disposição. Lugares incríveis e perigosos. Outras vidas. Outras civilizações. E nenhum de nós que estava lá, em sã consciência vai abrir mão dessa esperança de expansão da curiosidade. Eu sei que muitas vezes a curiosidade mata o rato. Mas aquela noite cravou uma marca tão profunda na alma e consciência de cada um de nós, que nem a morte nos põe medo. Afinal, foi ali naquele 20 de julho de 1969 que nós, a raça humana, finalmente nos colocamos de pé diante do Universo. E disso, me desculpe, mas não tem como abrir mão.