Por Alan Caldas – Editor
Astor Reinaldo Ranft nasceu em 24 de maio de 1958, em Dois Irmãos. Seu pai era Albino Ranft, natural de Rolante, e foi agricultor lá e aqui, mas se tornou sócio na Indústria de Calçados Travêsso. A mãe se chamava Ilga Engelmann Ranft, e era costureira de sapato. Astor teve 3 irmãos: Rubem, Laerte e Marlise.
Ele cursou o Primário e o Ginásio entre a Escola Luterana e o Grupo Escolar de Dois Irmãos. Findo o Ginásio e ainda não havendo o 2º Grau na cidade ele fez, por correspondência, o curso de Secretariado através do Instituto Universal Brasileiro. Quando surgiu o 2º Grau ele se matriculou e lembra de ótimos professores, entre eles Valdomiro Rörig, Irineu Canali e Remi Petry.
Em 1978 fez vestibular na Unisinos. Gostava de matemática e suas 3 opções foram Engenharia, Arquitetura e Economia. Passou em Economia. Durante o Básico, nas 5 cadeiras de acesso à universidade, Astor fez um Teste Vocacional, onde apareceu sua aptidão para análise de mercado. Ou seja: ele estava no curso certo. Concluiu Economia em 6 anos, estudando 4 cadeiras por semana no turno da noite.
Aprendeu a dirigir num Corcel do pai. Na primeira tentativa, bateu numa goiabeira. Na época da faculdade, ele e os irmãos Rubem e Laerte compraram um Fusca, que facilitou as idas para a Unisinos. No Fusca, além dele e do irmão iam os amigos Cesar Nienow, Marino Vier e Heitor Auler, que “rachavam a gasolina”. Astor se graduou em 1985.
Um detalhe sobre o Astor: ele sempre foi um excelente aluno. Do primário à faculdade, só tirava boas notas. Perguntei “de onde” vinha esse desempenho dele. Ele respondeu que parte se deve ao início da sua vida escolar, pois nos dois primeiros anos de escola ele estudou “duplamente”.
O seu Albino e a dona Ilga eram luteranos, e o Astor foi matriculado no turno da manhã na Escola Luterana, onde recebia a educação primária. Mas eles também o matricularam na parte da tarde no Grupo Escolar, onde, num segundo turno, ele estudava a mesma coisa que havia estudado pela manhã. Estudando de manhã e à tarde a mesma matéria, ele sabia tudo “muito bem”. Tornou-se aluno destacado. Sempre elogiado. E quando os demais anos escolares vieram, o Astor não queria de jeito algum perder aquela posição de “melhor aluno”. Se matava estudando. E, como resultado, ia sempre muito bem, obrigado.
Formou-se em Economia em 1985. Já trabalhava nos Calçados Travêsso. E seguiu trabalhando lá, onde o pai era sócio. Ficou na empresa até 1994. Mas sempre pensando na ideia de ter a sua própria empresa. Por fim, em 1989, e conversando muito com o irmão Rubem e com os amigos Valdir Engelmann e Egídio Schacht, resolveram abrir o Calçados Pegada.
Astor tinha experiência de duas décadas em sapato. Começou no Travêsso quando a fábrica ainda era ao lado da casa do seu pai. E passou por todos os setores da indústria: cola, lixa, esteira, almoxarifado, cronometragem etc., e por fim Programação e Custos. Assim, quando pensou abrir a empresa Pegada, ele e os demais sócios já tinham vasta experiência no meio calçadista. Por fim, decidiram que fabricariam sapatos masculinos. E surgia assim, 34 anos atrás, numa área na casa do seu Albino Ranft, a Indústria de Calçados Pegada.
A ideia inicial era abrir apenas uma esteira, para 1.200 pares. Mas o destino era outro. E a realidade foi muito além do sonho. A empresa cresceu. Hoje tem 5.400 empregados. E, em várias plantas no estado da Bahia, produz em torno de 30 mil pares de sapato por dia. Se tornou uma marca-referência nacional em calçados masculinos. E partiu para a exportação, ganhando o mundo. A base de operações e logística da Pegada permanece em Dois Irmãos. E a partir de seu computador o Astor e demais sócios estão conectados o tempo todo com cada uma das plantas na Bahia.
Sua vida amorosa começou quando ele trabalhava nos Calçados Travêsso. Ele tinha 21 anos. E certo dia, quando fazia Cronometragem, viu numa das esteiras uma colega de trabalho muito bonita e tímida. Uma garotinha de 15 anos.
Astor a olhou e algo bateu forte e firme dentro dele. Mas ele seguiu fazendo seu serviço. Porém aquela imagem, aquele olhar que ela lhe dera e o leve sorriso que viu nela quando passou não lhe saíram mais do pensamento.
Então, nos dias seguintes virava e mexia e lá estava o Astor, passando por aquele setor. Sempre compenetrado, mas de olho na mocinha. E onde quer que fosse por dentro da fábrica, ele sempre se pegava olhando justo para aquela esteira e seguindo com os olhos aquela jovenzinha que trabalhava ali.
Astor foi sempre como é hoje: lógico, racional e respeitoso. Mas ele sentia que o coração acelerava quando a via. Então se informou sobre a moça. Quem era? De onde vinha? Que idade tinha? Descobriu que se chamava Ivânia Klauck. E respeitosamente começou a conversar com ela. Se apaixonou é claro. Estava fisgado. E começou a procurá-la.
Marcaram o primeiro encontro em um baile no Salão Wolf, em Morro Reuter. O namoro começou ali. E foi no modo clássico: onde quer que os dois iam estavam sempre acompanhados por alguém da família dela. É o típico namoro que dá certo. Casaram em 17 de janeiro de 1987, num culto misto porque o Astor é luterano e a Ivânia é católica.
E fizeram a celebração e a festa onde? No Salão Wolf, é claro. O lugar onde tiveram oficialmente seu primeiro encontro como namorados.
Dois anos depois, em 1989, nascia o primeiro filho, Gabriel. E em 1992 veio o segundo e último, Gustavo. Ambos trabalham com Astor. Gabriel é gerente de marketing e recentemente lhe deu o neto Arthur. E o Gustavo é gerente comercial.
Astor tem 1,72 m. Pesa 80 kg. E calça 41. É um homem de fé luterana. É simples. É sério. É culto. E é reservado. Tem um poder de análise e síntese dos fatos que impressiona qualquer um que converse com ele. Preza a vida familiar. Suas leituras são ligadas às questões administrativas. Seu passatempo em casa é assistir a programas no YouTube. Sua comida preferida é a típica alemã, ou churrasco de ovelha. Não bebe, mas quando bebe é vinho. Branco e rose no verão, tinto no inverno. Não dança bem. É “pé de chumbo”, diz ele. E música só escuta quando está dirigindo em viagem.
Sempre gostou de esporte. Jogava futebol de salão em Morro Reuter até os 60 anos. E antes da Pandemia de Covid-19 ele fazia caminhadas. Mas parou. Agora só faz sessões de Pilates duas vezes por semana e outras duas vezes vai na academia, sempre com acompanhamento. Sente-se muito bem.
O que ele realmente gosta é caçar. Sempre gostou de caçar. Aliás, os mais antigos da vizinhança ainda lembram que quando o Astor era garoto, ele e a sua funda eram o terror dos passarinhos nas matas ao redor da casa do seu Albino. E segue gostando das caçadas.
Nos últimos 20 anos ele caça e pesca no Uruguai. Tem uma fazenda por lá, em Taquarembó, onde caça legalmente perdiz, pombo, marreco e javali. Seu grupo de amigos é de Dois Irmãos. E com frequência ele os convida para ir lá e serve aos companheiros as caças que fez naquela região. Mas não é ele quem cozinha. Ele caça. E limpa a caça. Deixa prontinha para a panela. Mas não sabe nem fritar ovo, brinca ele, sorrindo alegremente em um raro momento de descontração.
Nem tudo foram flores em sua vida. Por duas vezes ele escapou de morrer. A primeira quando ainda era bebê e foi acometido de meningite. Ficou entre a vida e a morte e seu Albino e dona Ilga chegaram a pensar que o perderiam. A segunda foi aos 18 anos, quando, devido a uma infecção por bactéria nos folículos pilosos ele acabou sofrendo uma infecção generalizada. Ficou em estado gravíssimo no hospital, à beira da morte, mesmo. Escapou, mas ainda lembra com dor no braço de ter recebido mais de 100 injeções. E, depois disso, nada mais. Hoje, aos 65 anos, está 100% saudável.
Pedi para o Astor projetar como será o futuro de Dois Irmãos. E ele disse:
– Vai continuar evoluindo. Mas com o sapato cada vez tendo menos importância. Muita gente virá morar aqui. E vai ser bom. Vai continuar como é: uma ótima cidade!