Por Alan Caldas
Celestino Graeff nasceu no dia 17 de junho de 1956, em Ivoti, na localidade de Morro do Pedro. Seu pai era Wilibaldo Graeff, que trabalhava na pedreira da prefeitura e já é falecido. A mãe, dona Maria Isella Graeff, era costureira de roupas e atualmente está com 95 anos, gozando de plena saúde. Único filho homem do casal, Celestino teve 5 irmãs: Julita, Leonida, Gireme, Livani e Leonora.
A família mudou para Morro Reuter e aos 6 anos o matricularam na escola Edvino Bervian. Cursou até a 5 série. Depois foi na João Wagner. E parou no Ginásio. Na infância ele ajudava a família. Vendia moranguinhos na rodoviária de Morro Reuter. Também ia na roça. Era uma vida boa mas difícil. Lembra que cuca, por exemplo, só no Natal ou Kerb.
Aos 14 anos foi trabalhar na empresa de calçados Wirth, em Dois Irmãos. E todo salário que recebia na fábrica, assim como quando vendia os moranguinhos, “ia para a caneca”. Nada do que ganhava ficava com ele. Tudo ajudava a casa e o pai administrava. Aos 17 anos ele seguia nos Calçados Wirth. E durante uma operação na máquina de cortar couro se descuidou. E a máquina cortou parte do seu polegar e do indicador.
Entrou no seguro por 6 meses. E por outros 6 meses fez fisioterapia em Porto Alegre. Nesse período arrumou um bico e auxiliava como garçom no restaurante da rodoviária de Morro Reuter. Só recebia gorjetas. E seguia entregando seus ganhos em casa.
Quando completou 18 anos o pai lhe disse:
– Agora tu trabalhas para ti.
Começava uma reviravolta no destino. Ele estava no restaurante em Morro Reuter e passou lá o proprietário da Churrascaria Schneider, de Porto Alegre. Ele estava precisando de um garçom em Porto Alegre. E o convidou a trabalhar lá. Ganharia 2 salários mínimos mais cama, mesa e banho. Era o paraíso. E lá se foi o Celestino para a capital. Por 2 anos e meio trabalhou na Churrascaria Bom Gosto. Então ele e dois amigos compraram uma churrascaria que estava indo à falência. E Celestino tornou-se dono de restaurante na rua Ramiro Barcelos, em Porto Alegre.
Porém, por mais que se esforçassem, após dois anos a churrascaria ainda não tinha se firmado financeiramente. E Celestino deu a parte dele para os dois amigos e saiu do negócio.
O que fazer? Voltar a ser garçom.
Para descansar ele visitou a família, em Morro Reuter. E o destino bateu na porta dele através de um conselho da mãe. Ela disse:
– Meu filho, volte para cá. Se lance como costureiro. Vá juntando dinheiro. E abra uma loja.
Ele não sabia costurar. E para ensinar, dona Isella o levou até a sua mesa de trabalho, pegou tecidos e cortou:
– Uma saia rodada
– Uma saia de 6 panos e
– Uma saia justa
Aí mostrou quais eram as medidas: Do ombro. Da cintura. Do quadril e o comprimento.
Então o abraçou carinhosamente e disse:
– Agora vai, meu filho!
E ele foi. Era o ano de 1979.
Celestino se associou com a irmã e abriu a loja na avenida 25 de Julho, em Dois Irmãos.
Começava ali a história da Michelle Modas.
Dois Irmãos era pequena e conservadora, em 1979. E um homem “costureiro” era uma novidade. A primeira cliente do costureiro Celestino foi inesquecível. Era uma senhora. Queria um terno de tergal. Ele fez. Mas a mulher provou e não gostou. Não comprou.
Chateado, Celestino pendurou o terno verde no fundo da loja. Dois dias depois entrou outra mulher. Ela viu o terno.
– O que é aquilo?
– Vai servir em ti – disse o Celestino.
Ela entrou no provador, vestiu e deu uma gargalhada.
– O que houve? – Perguntou ele.
E ela respondeu: “Eu adorei!”
O Celestino saiu pulando, rindo e dizendo: Agooooora eu sou costureiro! A partir dali nada mais o segurava. Ele tinha achado a estrada do destino. Celestino precisava trazer novidades. Viajou a São Paulo e começou a trazer as modinhas. Roupas coloridas. Modernas. A cidade crescia e muitas pessoas vinham de fora trabalhar aqui e tinham dinheiro. A Michelle Modas logo conquistou clientela. Celestino dava dicas. Fazia consertos. E assumiu o compromisso de que cuidaria da elegância em Dois Irmãos.
Quatro anos depois, em 1983, ele revolucionou a cidade com um desfile de modas na Sociedade Atiradores. Contratou a coreógrafa Lia Fróes, famosa em Porto Alegre. O desfile foi um “uáááu”. Saiu foto até no recém criado Jornal Dois irmãos, que em Editorial elogiou o evento, chamando-o de vanguardista. Num segundo desfile Celestino trouxe o coreógrafo Paulo Behrend. Uma lenda nas passarelas. E a cidade assistia impressionada a versatilidade do costureiro e lojista Celestino.
A partir dali ele fez seus próprios desfiles. E tornou-se coreógrafo, realizando desfiles em Sapiranga, Igrejinha, Campo Bom, Novo Hamburgo e por aí afora. Ele próprio desfilava. E se tornou vitrinista, salvando muitas lojas na região com vitrines bem elaboradas. A dele é impecável até hoje. E a Michelle é sucesso o ano todo.
Seu destino também estava traçado no coração. E ele o encontraria na Sociedade Santa Cecília. Celestino e os amigos tinham uma Mesa Cativa. Era a que sempre compravam.
Num baile com o conjunto Impacto lá foram eles adquirir a mesa. Mas ela havia sido vendida para um grupo de moças que vieram de Novo Hamburgo. E foi aí que Celestino notou entre aquelas moças uma jovem linda. Lá na mesa ele a viu como que cheia de brilho e luz.
Se encantou. E um filme se passou na cabeça dele. Lá pelas tantas os olhos se cruzaram. Ela sorriu discretamente, e com uma elegância que ele nunca vira antes. Então ele vacilou. Era demais, ele pensou. E se desmerecendo, pensou que havia ali rapazes mais destacados que ele. E não foi até ela. Porém a jovem, que se chamava Célia Gehwer, seguia na mesa e Celestino finalmente se arriscou. Falaram. Dançaram. Sorriram. Ficaram a noite toda juntos. Na saída, ele queria levá-la em casa. Ela disse não. Mas antes de o veículo sair ela perguntou
– O que você faz da vida?
– Sou dono daquela loja ali – disse o Celestino.
No dia seguinte Célia ligou para a amiga Liane Dexheimer e perguntou “de quem” era a loja. Na segunda-feira ele ligou para o trabalho dela, em Novo Hamburgo. Se encontraram na quarta-feira. E nunca mais se afastaram. Quatorze dias depois, Célia começou a vir a auxiliar o Celestino na loja. Em dezembro ele a pediu em casamento.
Celestino tinha presa. Muita pressa. Mas Célia só casaria de branco. Era isso. Ou nada. E foi assim que, ao final de apenas 8 meses de namoro, casaram lindamente. No Civil. E no religioso. Na Igreja Católica de Morro Reuter. A festa, para 200 pessoas e com banda e banquete, foi na Sociedade Santa Cecília, onde pela primeira vez se encontraram. O próprio Celestino decorou o salão. E a vida dos dois segue feliz e unida até hoje.
O casal já esteve em 18 diferentes países e vivem literalmente um para o outro, ainda apaixonados. Tiveram dois filhos. A Mônica, que lhes deu a neta Valentina 6 anos atrás. E o Henrique, ainda solteiro e que está igualmente cuidando da loja.
Celestino é um típico homem de família. Adora sua cidade. Fez de tudo para ser o profissional que se preocupa em ver Dois Irmãos mais elegante. Envolveu-se profundamente no projeto Natal dos Anjos, nos primeiros anos, e veio dele a genial ideia de estender um tapete vermelho pela cidade durante o evento. Ele ia fazer na frente da loja e, conversando com a Inês Feltes, o tapete estendeu-se pelo cenário todo.
É bairrista. Conhece muitos lugares pelo mundo. “Mas não troco Dois Irmãos por lugar algum”.