Por Alan Caldas – Editor (De Madri, Espanha)
Segundo o Observatório Nacional, a droga mais utilizada na Espanha é a cannabis.
Nos homens é mais frequente cannabis, cocaína, ecstasy, anfetaminas, alucinógenos e inalantes voláteis.
Nas mulheres, sedativos e analgésicos opioides.
Adolescentes, de 15 a 17 anos, destacam-se pela cannabis, alucinógenos e cogumelos mágicos.
Um detalhe: entre jovens de 15 e 24 anos cresce o consumo de álcool de forma “compulsiva”. Em espanhol, a gíria para jovem que bebe assim é “botellón”. Tanque cheio.
A gíria, segundo analistas, os faz sentir-se “grandes”. Orgulham-se de ser “botellón”.
E há indícios de que em meninos essa prática pode chegar a 18,4%. E em meninas a 12,1%. Assustador!
Uma festa “botellón” (foto) reuniu ano passado 25 mil jovens. Encontro marcado por WhatsApp. E 3 dias bebendo até cair.
A droga “pesada” entra na Espanha via América Latina. Paraguai, especialmente. E o aeroporto de Barajas é a porta de acesso principal.
Barajas é Céu e Inferno. A polícia desenvolveu um “faro”, tipo sexto sentido, para detectar quem traz droga. Têm tecnologia para a detecção. Mas é no “olho” que descobrem quem tem droga.
Olhando eles parados ali nas escadas, você percebe que detêm a prática de prestar atenção do jeito certo, na hora certa. O “foco”, que Daniel Golemann explica em seu livro Focus.
É o modo como a pessoa caminha. A forma como olha. Os gestos. Os disfarces. Tem “algo” que caracteriza e deleta quem traz o ilícito.
Na faculdade de Direito, na aula de psiquiatria forense, estudávamos como o alcóolatra disfarça com gestos e sons o seu vício. E aqui no aeroporto de Madri, quem leva droga tem todos esses traços “disfarçantes”.
De tanto “olhar”, os guardas meio que “adivinham”, sabem como que por osmose entre milhares de pessoas quais transportam o ilícito. É incrível!
A droga vem na mala. E vem no corpo. Mulheres levam metanfetamina na vagina. Rolo de 400 gramas ou mais, introduzido na área íntima.
Apesar da marcação cerrada no aeroporto, ainda assim desavisados seguem transportando e sendo detidos.
No último trimestre, 500 quilos de cocaína detectada.
O transportador via de regra tem sido mulher. Jovem. E pobre. Atrás de dinheiro fácil.
Bobinhas úteis para o tráfico, alegam que ganhariam 5 mil dólares por viagem. Mais a passagem.
É um sonho para jovens pobres. E um jogo para o Sistema, que joga dados e aposta que para cada uma delas que “cai”, passarão ilesas outras 3 ou 4. É o game. A prisão é só efeito colateral.
Em um voo vindo de Assunção, pegaram 9 malas. Nelas, 161 kg de cocaína.
Para os jovens que traziam o produto, o sonho virou pesadelo: não vão ganhar 5 mil dólares, serão detidos, responderão processo presos, cumprirão pena de até 6 anos. E, no final, serão deportados. E nunca mais entrarão na Europa, diz a lei.
Tentam chegar ao Céu pela via rápida. Acabam abrindo a porta do Inferno. Triste isso. A corda arrebenta no lado mais fraco.
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Foto - A revista no aeroporto