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Dias bons, dias ruins.
Dias alegres, dias tristes.
Dias cheios de dor, vazios de esperança.
Dias de puro amor, inocentes como criança.
Dias duros, dias normais.
Dias de quem fica, dias de quem vai.
Dias que mais parecem anos, anos que passam na velocidade de poucos dias.
Dias de fundo do poço, dias de poço sem fundo.
Dias pequenos, que não cabem no mundo.
Dias gigantes, do tamanho de todos os sonhos.
Dias de força, coragem, destemor.
Dias de medo, covardia, seja lá o que for.
Dias em que posso tudo tendo nada.
Dias em que nada me consola ou me acolhe.
Dias em que a gente sofre, encolhe.
Dias em que a felicidade não cabe em mim, em que não existe NÃO, apenas SIM.
Dias de tropeços, dias de recomeços.
Dias sem sal, sem pai nem mãe.
Dias urgentes, dias sem pressa, sem missa.
Dias de sermão, dias de ser mais que um irmão.
Dias invisíveis, sem cor, de meias verdades.
Dias de rancor, que não fazem bem.
Dias de perdoar – os outros e a si mesmo.
Dias de quem sabe, talvez... Dias de com certeza!
Dias de ventania, de cabelo esculhambado.
Dias de rara beleza, para sempre lembrados.
Dias que não existem, que estão por vir.
Dias confusos, dias sem rima.
Dias de poesia, de música para os ouvidos.
Dias de sexo, tesão e atropelos.
Dias de fúria desmedida, sem nenhum zelo.
Dias que merecem um último gás.
Dias que se encaixam, dias que nos afastam.
Dias que queremos, vidas que invejamos.
Vidas que não percebemos, dias que relegamos.
Dias revirados, de embrulho no estômago.
Dias vitais, sem os quais não se vive.
Dias estranhos, com os quais se convive.
Dias para lembrar, dias para sorrir.
Dias para chorar, dias para apenas sentir.
Dias para esquecer – sem conseguir.
Dias turvos, de pouca claridade.
Dias proibidos, dias para todas as idades.
Dias em que a luz se esconde, dias em que o brilho no escuro é mais intenso.
Dias de rabugices, dias de cantilenas.
Dias em que a noite vale uma vida.
Vidas em que não se sabe se é noite ou dia.
Dias de um pouco mais, dias de beeem menos.
Dias de sai pra lá, dias de fica aqui, não vai embora agora, por favor!
Dias de resistência, dias insuportáveis.
Dias em que se começa a desistir, devagarinho, sem nem perceber.
Dias em que olhar pra frente é o único caminho.
Pois é, meu amigo...
Nem todos os dias dependem da gente, mas a gente depende de aprender a lidar com eles.
*
INSTANTE NA ESTANTE
Quando eu estava entrando no sétimo ano, o Chicago Defender, jornal semanal popular entre afro-americanos, publicou um virulento artigo de opinião alegando que a Bryn Mawr tinha passado, em poucos anos, de uma das melhores escolas públicas da cidade a um “lugar decadente”, conduzido por uma “mentalidade de gueto”. O diretor da escola, dr. Lavizzo, logo rebateu com uma carta ao editor, defendendo sua comunidade de pais e alunos e apontando o texto como “uma mentira ultrajante, que parece se propor a incitar apenas sentimentos de fracasso e evasão.
O dr. Lavizzo era um homem corpulento, jovial, que tinha um afro volumoso de ambos os lados da careca e que passava boa parte do tempo num escritório ao lado da entrada do prédio. Sua carta deixa claro que ele sabia muito bem contra o que estava lutando. Muito antes de se tornar um resultado verdadeiro, o fracasso começa como um sentimento. É a vulnerabilidade que gera insegurança e depois é intensificada, muitas vezes de propósito, pelo medo. Esses “sentimentos de fracasso” que ele mencionou já estavam espalhados por todos os cantos do nosso bairro, sob a forma de pais que não conseguiam melhorar de vida financeira, de crianças que começavam a desconfiar que suas vidas não seriam diferentes, de famílias que viam os vizinhos melhor de vida irem embora para o subúrbio ou transferir os filhos para escolas católicas. Enquanto isso, corretores de imóveis predatórios circulavam por South Shore, sussurrando para os proprietários que eles deveriam vender seus imóveis antes que fosse tarde demais, que os ajudaria a sair enquanto ainda dava. A inferência era de que o fracasso estava por vir, era inevitável, e que na verdade já tinha meio que chegado. A pessoa podia ficar presa nas ruínas ou fugir. Eles usaram a palavra que todo mundo mais temia – “gueto” –, jogando-a na conversa como se fosse um fósforo aceso.
Minha história – Michelle Obama (1964)
Um relato íntimo, poderoso e inspirador da ex-primeira-dama dos Estados Unidos