Por Alan Caldas – Editor
Arthur José Sbroglio nasceu em 1 de julho de 1951, em Nova Prata. Seu pai era Janir Nelson Sbroglio, proprietário da Concessionaria Internacional de Caminhões e depois da Willys. A mãe é Clara Thereza Astolfi Sbroglio, que hoje tem 95 anos de idade. Ele teve só dois irmãos, o Jeferson e o Renato, este já falecido.
Estudou o primário no colégio Tiradentes, em Nova Prata, e o Ginásio em Guaporé. Então, em 1967 entrou no 2º Grau em Novo Hamburgo, no Colégio 25 de Julho, e nesse período morou com uma tia, em Hamburgo Velho.
No ano seguinte, 1968, foi para Bento Gonçalves, se matriculou no Colégio Marista e fez dois cursos, o Científico pela parte da manhã e o Técnico em Contabilidade na parte da tarde. Concluiu ambos em 1970 e de presente ganhou do pai um fusca ano 1960, que ele e o irmão “incrementaram” e transformaram num quase igual ao do ano 1970. E aí, com 18 anos de idade e já de carro próprio, Arthur era a felicidade.
É importante dizer que Arthur vinha de família com bens e de grande destaque em Nova Prata e região, pois seu pai era dono de concessionárias. Arthur se criou nas mecânicas, entre peças, montagens de motores, pinturas automotivas e em meio a diversos veículos, o que lhe possibilitou aprendeu a dirigir com apenas 11 anos de idade.
Criado com fartura e ganhando um carro ao concluir o 2º Grau, era óbvio que um garoto iria inicialmente olhar mais para as festas do que para o estudo em si.
Então, findo o 2º Grau Arthur começou um período de vestibulares que se alongou.
No início de 1971 ele fez vestibular para medicina em Passo Fundo e na UFRGS, provas como sempre disputadíssimas, e não passou.
Conversou com o pai e mudou para Porto Alegre. Se matriculou no curso preparatório Mauá e passou a morar com 4 amigos de Nova Prata em um apartamento no Centro da cidade.
Cansado de ficar parado, o Arthur resolveu ocupar o tempo e foi trabalhar no Banco Nacional do Comércio, onde ficou por 3 meses e se demitiu, porque o trabalho era monótono demais.
No final do ano ele e um amigo, igualmente bem aquinhoado, resolveram fazer vestibular em Pouso Alegre, no estado de Minas Gerais. Foram de carro. E como lá o vestibular era em 3 dias, aquele foi mais do que um vestibular, foi um evento, uma grande festa. No primeiro dia eles ficaram em Pouso Alegre. No segundo, em Poços de Caldas. E no terceiro em Varginha. Foi uma alegria, mas o resultado foi o esperado: não passou.
Arthur voltou a Porto Alegre e ainda no final de 1971 tentou o vestibular na UFRGS, e novamente não passou.
Resolveu, então, ir fazer vestibular em Uberlândia, e o pai, com o qual sempre teve excelente relacionamento e que era um homem alegre e experiente, brincou com ele, dizendo: “conheça o Brasil pelo vestibular”.
Arthur foi. As festas se sucederam e ele também não passou.
Aí o pai o chamou numa conversa séria e disse:
- Escuta, meu filho, até o teu irmão mais novo está indo fazer vestibular, e isso está ficando chato para ti, não acha?
Chamado na responsabilidade, Arthur ligou os alertas. Largou as festas. Se debruçou sobre os livros. E se inscreveu para o vestibular de janeiro de 1973 em duas faculdades de medicina: na universidade católica de Pelotas e na FURG, de Rio Grande.
Deu um tempo nas festas, estudou e o resultado foi óbvio: passou nas duas com excelente colocação.
Entrou no curso de medicina em janeiro de 1973, na Fundação Universidade de Rio Grande. Foi morar numa república e era o único estudante do 1º ano a ter carro próprio.
Naquela época em que ele chegou lá havia o “trote”. Era um tipo de “bulling” que os estudantes mais antigos praticavam meio que sadicamente com os novatos, quebrando ovos na cabeça deles e fazendo horrores com a gurizada. Mas o Arthur já estava alertado para isso e resolveu reagir.
Ele tinha no porta-luvas do carro um revólver de brinquedo no qual se colocava espoletas que simulavam um forte disparo de tiro. Ele foi para a faculdade, estacionou o carro e entrou. Quando a turma mais velha viu que ele era do “curral”, como eram chamados os novatos, saiu atrás dele para lhe dar o trote.
Irritado, o Arthur correu até o carro, com eles vindo atrás, e lá pegou o revolver e deu dois disparos para cima, botando para correr os “troteadores”. E assim se espalhou na faculdade a fama do “Nova Prata”, como ele passou a ser conhecido na faculdade. E como era estudioso, todos o respeitavam.
Durante a faculdade Arthur conheceu a jovem Vera Terezinha Coutinho em uma festa. Ela tinha amigas que ja conheciam o Arthur e que avisaram a Teca:
- Te cuida com o Nova Prata, ele namora todo mundo.
E não deu outra. Arthur a convidou para dançar e logo começou a dizer que estava chegando de São Paulo e isso e aquilo. Mas a Vera, já de sobreaviso, dançou educadamente a primeira, pediu licença e foi sentar.
Mas o Arthur realmente tinha gostado dela, e ele não desistia fácil.
Quis o destino que a Vera estudasse no colégio das Irmãs, que ficava bem próximo de onde o Arthur morava, e ele resolveu melhorar a abordagem.
Ficava de sobreaviso e quando a Vera saia da escola ele aparecia. As vezes simplesmente abanava para ela. Noutras se aproximava, dava um “oi” e se afastava. E o clima dela em relação a ele amenizou. Dali a pouco virou um namorico. Logo a seguir evoluiu para namoro. E então ficou sério.
No 2º ano da faculdade ele a pediu em noivado.
Casaram no 3º ano, em Porto Alegre, na Igreja do Italiano, no dia 10 de janeiro de 1976, numa linda cerimônia cristã.
Têm 3 filhos. O Andrei, que é odontólogo, a Francini, que é advogada, e a Virna, que é farmacêutica.
A Virna lhes deu os netos Lorenzo, de 15, e Ettore, de 7. Andrei lhes deu a neta Valentina, de 11, e o Pietro, de 7.
Arthur seguiu morando em Rio Grande. E, em 1978, quando entrou no 6º ano de medicina se mudou para Porto Alegre, para fazer formação no Hospital da Criança Conceição.
Foram morar na Chácara das Pedras e nesse período seu horário de trabalho era puxadíssimo, chegando a trabalhar no hospital quase 3 dias corridos.
Adquiriu ali enorme experiência em diversas áreas, mas especialmente em pediatria, que era o que ele queria. E se formou no dia 15 de dezembro de 1978.
Quando estava fazendo vestibular, o Arthur havia prorrogado o serviço militar. E no ano de 1978, o mesmo em que se formou, ele foi convocado.
Como já era médico, entrou no posto de segundo tenente e foi servir em Morretes, que hoje é Santa Rita, e atuou no Depósito Regional de Armamento e Munição.
Até o convidaram para integrar a Escola de Saúde do Exército, no Rio de Janeiro, e seguir a carreira militar, mas ele não queria.
Ficou por 1 ano e 2 meses e saiu do Exército para entrar na vida privada como médico pediatra, que era o sonho dele.
Arthur conhecia Dois Irmãos através do médico Roberto Duris, que era casado com uma prima dele. E foi o doutor Roberto que lhe disse que a cidade precisava de um pediatra.
Arthur estava casado e já com dois filhos, gostava de cidades menores e a proposta final de Roberto era boa. A esposa não queria morar no interior, mas ao final aceitou e o casal se mudou.
Arthur chegou em Dois Irmãos no dia 2 de julho de 1979.
Nesse ano foi fundada a Clínica Dois Irmãos, da qual também participaram os médicos Alexandre Tennennbaum, Delano Schmitz e Roberto Duris.
Arthur atendia no Hospital e na Clínica. Na Clínica ele abriu seu consultório particular, e, pela manhã, só atendia pediatria. Foi o primeiro médico pediatra no município.
Em 45 anos de medicina o doutor Arthur tem dezenas de histórias. Uma delas é a de um menino que nasceu com 6 meses no hospital e ficou na incubadora neonatal, que, por sorte e a pedido do doutor Arthur, havia sido recém comprada.
Era um caso gravíssimo. O bebezinho pesava 1 quilo e 100 e precisou usar sonda nasogástrica, além de receber soro através de uma veia na cabeça. As enfermeiras passavam noites e noites massageando a criança e tentando mantê-la viva.
Lá pelas tantas ele sofreu uma parada cardíaca e chamaram o doutor Arthur às pressas. O doutor Arthur chegou e a parada continuava, apesar de todas as manobras que as enfermeiras faziam.
A morte estava olhando para eles. E, sem mais o que fazer, o doutor Arthur pegou uma injeção de adrenalina e num último recurso antes da morte do bebê levou a agulha até o coração da criança e injetou adrenalina. Era isso. Ou a morte.
Ao redor do médico ficaram todos paralisados e fez-se um silêncio de sepulcro. O êmbolo da injeção desceu e assim que a adrenalina entrou o coração reagiu, voltou a bater, o bebezinho chorou e foi uma explosão de risos, lágrimas e abraços naquela sala.
“Ele está vivo até hoje”, diz o pediatra Arthur, com o olhar iluminado e feliz por segurar na Terra uma criancinha que estava praticamente do outro lado da vida.
Num outro caso, um paciente sofreu tétano e ficou hipersensível ao ruído. Era tão grave a sensibilidade dele ao ruído, que cada vez que ouvia qualquer barulho tinha convulsões e chegou mesmo a entortar os pés. Era preciso cortar todo e qualquer ruído no hospital, e a pedido do doutor Arthur a rua São José, ao lado do hospital, foi totalmente fechada ao trânsito naqueles dias e o paciente sobreviveu.
Num outro caso, uma família inteira sofreu intoxicação por “mandioca braba”, e se não fosse a imediata intervenção do doutor Arthur a família inteira teria morrido. Mas sobreviveu.
Está com 72 anos. Tem 1,85 de altura, pesa 87 quilos, calça 41 e seu sangue é A+. Se dá bem com a tecnologia. Gosta de ler, mas só sobre assuntos científicos e economia. Seu prato preferido é os derivados da massa, e cozinha bem. Todas as quartas-feiras reúne os netos e serve seu famoso tagliatelli à carbonara. Sua bebida é o vinho, malbec de preferência. Não pesca nem caça. Joga pife com os amigos da Confrateria Fratelli nas terças-feiras, das 19 às 21 horas, seguido de jantar. Dorme 6 horas por dia e sonha “mais acordado que dormindo”, brinca ele. É organizado, mas não fanático. É Conselheiro da Unimed. Foi vice-presidente da APAE, com Luis Henrique Birck. Foi vice presidente do Lions clube. É romântico “e passional”, diz ele, sorrindo e lembrando que é racional “para as compras”. Caminha 3 vezes por semana 3 quilômetros em 30 minutos na esteira.
Quem conhece o doutor Arthur nem imagina que ele esteve ali para largar os estudos e ser motorista.
O pai dele tinha concessionárias e ele cresceu entre veículos. Aprendeu a dirigir com 11 anos e nas férias desde cedo lavava peças, desmontava motores e tentava ser pintor de veículos, além de trabalhar na cessão de peças e na contabilidade. E era hiperativo e adorava dirigir os veículos.
O pai tinha uma granja onde ele ia na esperança de dirigir um pouquinho o trator. Na colheita da uva, auxiliava na colheita e bem jovenzinho ainda ia junto para fazer a entrega das uvas, muitas vezes dirigindo o caminhão.
Não queria os estudos, como todo garoto que tem essas chances na adolescência. E um dia ele chamou o pai e explicou que o que ele queria mesmo era ter um caminhão e viajar.
O pai de Arthur merecia uma salva de palmas. Ele fingiu que concordava, e pediu que fizesse uma experiência.
Mandou o Arthur de assessor no caminhão de um empregado deles que ia para Lagoa Vermelha, e disse:
- Vai com ele para conhecer a vida de caminhoneiro e ver se realmente gosta.
No caminho o caminhão aparentemente furou um pneu justo quando atolou no barro.
“Pega o macaco”, disse o motorista, e o Arthur em meio ao barro teve de trocar um pneu fazendo uma força descomunal.
Mais adiante, já em Lagoa Vermelha e obviamente a mando do pai, o motorista fez o Arthur descarregar sozinho o caminhão inteiro, quase se matando de tanto fazer força. Então voltaram.
Quando chegaram, o pai perguntou:
- Como foi, filho?
O Arthur estava completamente curado da ideia de querer ser caminhoneiro. E, se não fosse essa estratégia do pai, Dois Irmãos não teria conhecido o seu primeiro pediatra, um profissional que tantas crianças atendeu e salvou nesses 44 anos em que está entre nós.