Jornalista Alan Caldas (Do Cairo - Egito)
Chegamos ontem no Cairo às 22 horas e com 36 graus de temperatura.
Olhando as ruas, parecia que os 9 milhões de habitantes tinham vindo passear na avenida Tahir, no Centro. Do hotel fomos à rua e quase não se caminhava. Gente aos milhares e em enorme alarido.
O egípcio é alegre, afetivo e barulhento. A Angela diz que são como os baianos. Buzinam sem cessar, são todo sorriso, falam alto e te cumprimentam, dizendo “obrigado por ter vindo” ao Egito. Eles parecem ser teu irmão ou no mínimo um parente próximo. Há uma linda intimidade coletiva neles. Um bem querer pela pessoa do outro que nunca vi em lugar algum.
Ontem, porém, havia algo a mais.
É que ontem era o importantíssimo Dia de Arafate.
O que é isso?
Esse dia para muçulmanos é como a Páscoa para nós, cristãos: é uma data alegríssima. Arafate é um pequeno monte em Meca onde Maomé fez seu “Sermão de Adeus”, antes de ascender ao Céu.
Em vista disso, os países árabes estabeleceram 4 dias de festa nacional para relembrar e agradecer ao profeta por ter lhes mostrado o caminho da Verdade e da Fé. Há jejum e ritos religiosos durante o dia. E quando o sol se põe, todos vão às ruas para jantar, fazer compras, passear, ver amigos e confraternizar. É um movimento incrível e a festa atravessa a noite.
Então hoje pela manhã havia silêncio total e estava tudo fechado. Mas nos surpreendemos. Na nossa rua haviam centenas de adolescentes indo e vindo. Vinham por todos os lados, numa felicidade maravilhosa. A imensa maioria via que éramos estrangeiros e nos piscavam, abanavam, diziam “hello” e dirigiam palavras carinhosas no inglês que sabiam.
É incrível a amabilidade do povo egípcio. Ontem, três mocinhas muçulmanas tipicamente vestidas estavam fazendo selfies na portaria do nosso hotel. Ao nos ver, elas se dirigiram à Angela dizendo que desejavam uma estadia alegre no Cairo. Você fica bobo diante da delicadeza que eles têm. Parecem anjos. Sério mesmo.
O movimento dos guris nesta manhã se deve ao “Eid El Adha”, me explicou o gerente do hotel. É a festa da manhã seguinte ao Dia de Arafate, que se estenderá por 4 dias. E como funciona? Hoje todos foram para a Mesquita às 6 horas da manhã. Ali agradecem a Alláh pela vida e refazem seu voto muçulmano de ser gentil, caridoso, honesto e de honrar “Alláh, o único Deus, e Maomé, o único profeta”, como reza o Alcorão, o livro sagrado muçulmano. Após a Mesquita, os pais vão para casa e os filhos jovens vão passear pelas ruas centrais do Cairo. Como todo adolescente, eles andam para lá e para cá, numa barulheira de fazer gosto.
O Egito tem 110 milhões de habitantes. E 85% deles são muçulmanos. Então, nestes 4 dias da “Páscoa” muçulmana o Egito em festa celebrará seu profeta Maomé, que recebeu o Alcorão das mãos do Arcanjo Gabriel e trouxe ao povo árabe a esperança do Islã, que significa “a Paz no mundo”.
Então: Salamaleico, leitora e leitor! Ou, em português: “que a paz esteja com você”.
LEGENDAS DAS FOTOS (pela ordem na galeria)
1. Esses aí nos pararam para tirar fotos e agradecer por estarmos visitando o país deles, o Egito. Eles são tão agradáveis que parecem anjos.
2. Mocinhas também andam nessa festa da manhã.
3. Grande movimento de jovens no dia seguinte ao feriado de Arafate.
4. Esse é o Felipe, que é guia turístico e taxista no Cairo.
5. Numa cidade com quase 10 milhões de pessoas ver vazio um dos seus entroncamentos do centro é quase inacreditável. É o efeito da “Páscoa” muçulmana, que celebra a ascensão do profeta Maomé ao céu.
6. Nesta foto o monte Arafate, em Meca, onde o profeta Maomé fez seu discurso de adeus e que originou esse feriado festa dos muçulmanos.
7. Outra foto do Monte Arafate.
8. Uma raridade em países árabes: à esquerda uma mesquita e, ao lado, uma Igreja Católica.
9. É de tirar o fôlego. É ou não é?