Editor Alan Caldas (De Massada - Israel)
Quem visita o Mar Morto também vai à cidade de Massada. Massada é um monte rochoso, de topo achatado, que se eleva a 520 metros de altura. Fica no alto do platô que mostro na segunda foto e está a 120 quilômetros de Jerusalém. No caminho se passa pelo deserto onde Jesus foi tentado por Satã. Pelo Mar Morto. E pelas montanhas de Moab.
O calor e o ar seco são demolidores. A área está 400 metros ABAIXO do nível do mar. É a mais baixa do mundo. Hoje lá em cima de Massada se vai de teleférico. No conforto. Mas o caminho original é a pé. Caminho das Cobras, eles chamam. Adivinha por que... É uma região 100% estéril. Tudo tem cor de arenito, variando do ocre à argila avermelhada. E é zero planta. É o deserto, mesmo. É pedra. É calor. É seco. Apenas 30 mm por ano de chuva. Quase nenhuma criatura sobrevive aqui.
Nessa área tem essa montanha. Um platô enorme 520 metros lá em cima. E lá é Massada... A construção se deu nos anos de 37-31 antes de Cristo. Os guias contam que Herodes a construiu. E se tornou rei da Judeia jurando servir Marco Antônio e Cleópatra, no Império Romano. Quando Marco Antônio e Cleópatra se suicidaram, Herodes temeu ser substituído no trono. Mas o novo Imperador Augusto o usou para acalmar a Judeia e o manteve como rei. Para se prevenir, porém, Herodes mandou construir esse Palácio-fortaleza.
O local é quase inacessível. E lá de cima enxerga-se o vale inteiro até o Mar Morto. Qualquer um que chegasse seria visto e imediatamente combatido e repelido. Como era para ser uma fortaleza, Massada foi criada para ser autossuficiente. Foram feitas ali 12 grandes cisternas e aquedutos para redistribuir a água às casas sob o platô. As casas eram todas de pedra. Aqui não tem árvores em lugar algum. É o deserto. Só pedras.
Num dos lugares mais secos do mundo, Massada tinha até jardins e piscina. No inverno eles coletavam água da chuva e, nas cisternas, reservavam para o verão e para o caso de um cerco de guerra. Com água abundante, havia o plantio de todos os gêneros alimentícios básicos. Inclusive parreiras, para fazer vinho. Na defesa havia um paiol com “rolling stones”, umas pedras tipo bola especiais para a defesa. Se vinha inimigo, eles rolavam essa pedras platô abaixo e acabavam com os invasores.
Era um Palácio e uma cidade. Herodes ficava lá parte do tempo. Não o tempo todo, pois os Reis da época tinham muitas casas e giravam em seus reinos, ficando um tempo em cada Palácio. Aliás, que eu saiba, Reis e imperador com residência fixa mesmo creio que foram só os chineses. Acontece que essa fortaleza de Massada foi tomada por um grupo de judeus zelotes. Eles se revoltaram contra Herodes e sua subserviência ao imperador romano. Se apoderaram da Fortaleza, revoltando-se contra Roma, e o Imperador Augusto mandou invadir Massada e “dar uma lição” nos revoltosos judeus que servisse para toda a região.
Uma força de guerra imensa foi deslocada até Massada. Era para entrar, prender todos e transformar em escravos. Os romanos só tinham um problema: não havia como subir. O que fazer? Donos de avançada engenharia de guerra, os romanos, usando a mão de obra de 4 mil escravos judeus e outros 4 mil romanos, começaram a construir um caminho de pedras morro acima. Quando os zelotes viram que seriam realmente invadidos, dominados e transformados em escravos, fizeram um acordo entre si e se suicidaram. Numa única noite, 960 judeus de todas as idades que estavam na Fortaleza de Massada um a um tiraram suas próprias vidas. Preferiram morrer como homens livres e não como escravo dos romanos.
Quando o exército romano entrou na fortaleza de Massada, tudo que viu foram os corpos de 960 homens, mulheres, crianças, adultos e idosos. Todos se mataram para não se tornar escravos.Essa é a maior história da resistência judaica em todos os tempos. E o rei Herodes? Herodes morreu de velho. No ano 4 depois de Cristo, em Jericó, cidade que fica bem perto de Massada. Morreu de doença que “fazia seu corpo apodrecer”. Lepra, talvez. Mas a lenda judaica prefere falar em “castigo divino”. É claro. Ele traiu os judeus.
Esse suicídio em Massada com os judeus preferindo morrer a ser escravos seja lá de quem for se tornou um símbolo de educação para a liberdade aqui em Israel. Essa história século após século veio moldando o “Ser” judeu. Contada geração após geração, desde milhares de anos, chegou até os nossos dias com a mesma e grandiosa importância cultural.
LEGENDAS DAS FOTOS (pela ordem na galeria)
1. Uma paisagem absolutamente árida é o que cerca Massada, a cidade construída a 520 metros de altitude no deserto e onde ocorreu o maior e mais trágico ato de resistência judaica à escravidão. Numa única noite, 960 judeus de todas as idades se suicidaram para não se tornarem escravos do Império romano.
2. Agora se sobe até Massada de bondinho. Mas o “snake way”, o caminho das cobras, era a pé mesmo. Ainda dá para ir a pé. A maioria prefere de bondinho. Agora, no verão, é muito quente e seco, e o caminho a pé está fechado. Muitos desmaios e desidratações e até mortes causam muitos problemas à administração do Parque Museu de Massada, aqui em Israel.
3. Vê aquele quadrado lá atrás? Daqui lá é bem longe. E lá ficava o acampamento romano que veio para tomar Massada e dar uma lição de força e subjugação à esta região toda.
4. No caminho para Massada, uma montadinha básica num camelo que agora é só atração turística e não mais um meio de transporte.
5. No alto da montanha se vê várias reproduções de como era Massada mais de 2 mil anos atrás.
6. Lá longe, 4 quilômetros de Massada, vê-se o Mar Morto. Abaixo um pequeno oásis criado ao pé do hoje Museu de Massada.
7. Essa foto mostra como era o aqueduto que, a partir das 12 cisternas, irrigava e abastecia as casas e as plantações existentes aqui em Massada.
8. As montanhas de Moab, lá na distância.
9. Acima o atual bondinho. Abaixo o Caminho das Cobras, por onde se chegava até Massada.