(*) Por Ester Reichert
Raiva é um sentimento muito ruim de sentir e que tende a ser negado pela sociedade. Estamos proibidos de sentir raiva, ou ao menos de demonstrá-la; devemos escondê-la.
Não somos ensinados a lidar com a raiva, não só a nossa, mas especialmente a do outro. A primeira coisa que fazemos é julgar.
Mas somos humanos! E, portanto, de tempos em tempos sentimos raiva. E será que negá-la é a melhor forma de lidar com ela, especialmente se buscamos o nosso próprio crescimento?
Quem já não sentiu raiva? Num segundo ela vem como uma avalanche, nos toma e tira a nossa razão. Contorce a barriga, escurece a visão, seca a boca, acelera o coração, esquenta o sangue, treme as mãos, nos faz transpirar. Essa é a raiva explosiva, que aparece sem avisar e que nos coloca em um estado mental que é muito difícil esconder, então extravasamos em forma de sintomas físicos. E que bom. Mas tem aquela raiva já processada, mais próxima da mágoa, do ressentimento, que não nos causa explosão; mas nos acompanha durante anos e pode nos corroer.
Seja qual for a raiva, ela pode ser sua amiga e é muito importante, pode apostar. A raiva pode ser sagrada.
A raiva pode ser uma energia amiga.
Ela nos auxilia em nossa jornada evolutiva, na transformação das nossas fraquezas, do nosso “eu”, em algo melhor. Quando não gostamos de algo em nós, é da raiva que se inicia o movimento de mudança. Quando nos indignamos com o mundo, ela nos traz a força que precisamos para lutar contra o que quer que seja. Quando alguém nos reduz, nos diz incapaz sobre algo ou desdenha do nosso sonho, é a raiva que sentimos que nos faz querer provar ao mundo que somos capazes e continuar caminhando, apesar das dificuldades. A raiva é nossa força de luta e transformação.
“Qualquer pessoa capaz de te irritar se torna teu mestre; ela consegue te irritar somente quando você se permite ser perturbado por ela”. (Epicteto)
Até mesmo nas relações, olhando por um ângulo mais superficial, quem nunca saiu de uma relação amorosa com raiva e usou essa raiva para se redescobrir? Para dar um novo sentido à vida e acabou numa metamorfose maravilhosa? Viu? Aí está a raiva sagrada.
Talvez a questão mais importante seja perceber que não se trata do que sentimos, mas como agimos, quais atitudes tomamos a partir das emoções.
Direcionar a energia gerada pela emoção para um uso positivo pode ser muito libertador, e é a chave que transforma a raiva de inimiga a amiga.
(*) Grupo Vivendo Com Propósito