Por Alan Caldas – Editor / Foto: Marcio A. Blume | Fotoenio
Assim como na vida humana, uma cidade também “amadurece”, e Dois Irmãos demonstra bem isso. Da pequena vila para onde foram enviados aqueles nossos Pioneiros de 1829 (os fundadores da cidade) Dois Irmãos evoluiu para distrito e em 10 de setembro de 1959 emancipou-se de São Leopoldo, buscando seu destino socioeconômico em carreira solo.
De São Leopoldo, Dois Irmãos territorialmente trouxe junto consigo duas localidades, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, que com ela seguiram até suas emancipações, sendo a de Santa Maria em 12 de maio de 1988 e a de Morro Reuter em 20 de março de 1992.
Inauguramos o Jornal Dois Irmãos no ano de 1983, e, de lá para cá, acompanhamos diariamente o pulso desta cidade incrível. Quando chegamos aqui, havia um grupo de grandes empresas que, ainda hoje, seguem aqui, e a elas esta cidade deve praticamente tudo o que conseguiu ser.
O comércio e serviços, no entanto, quando chegamos aqui era deficitário, e muito dependíamos de Novo Hamburgo para adquirir bens e serviços. Mas nesses 38 anos que se seguiram da nossa chegada até hoje, o comércio de Dois Irmãos e seu setor de prestação de serviços cresceram de forma incrivelmente progressista. Hoje, Dois irmãos tem praticamente toda a cadeia de serviços, e tornou-se autônoma e independente das maiores cidades da região.
Isso ocorreu porque, tendo indústrias fortes que proporcionavam empregos e renda, algumas pessoas foram se dando conta que poderiam abrir aqui os mais variados tipos de comércio. O emprego que as indústrias proporcionavam geravam uma renda e esse dinheiro, que antes era quase que 100% gasto em Novo Hamburgo passou a ser gasto aqui. Com isso, ocorreu um incentivo aos demais que tinham talento para ter empresas comerciais e de serviços e a cidade foi surpreendendo a si mesmo com a existência de um grande comércio de vários setores comerciais.
Na questão industrial, vivemos uma concorrência desleal dos estados do Nordeste e uma incapacidade dos governos estaduais em enfrentar o corporativismo tributário e trazer para cá os incentivos que levaram para lá a grande maioria das empresas calçadistas, por exemplo. Os governos do Nordeste se organizaram e conseguiram levar para lá indústrias que eram daqui, porque produzindo lá se consegue melhor receita. E o RS segue tendo o sapato que sai “mais caro” da linha de produção em todo o Brasil, o que leva quase que todas as empresas genuinamente dois-irmonenses a terem, também, uma “operação”, como se diz no jargão empresarial, lá no Nordeste. É um ato de sobrevivência.
Em Dois Irmãos temos, também, o fantástico “Fenômeno Herval”, o grupo que iniciado pelo seu Felippe Seger lá em Walachai acabou, pelo talento dos seus administradores, em especial do senhor Agnelo Seger, tornando-se uma empresa que responde por mais de 50% dos impostos que a prefeitura administra e transforma em benefícios públicos, por exemplo. Esse é o lado positivo. No outro lado, está o fato de que a Herval absorve tanta mão de obra que hoje se uma indústria calçadista abrisse 50 vagas provavelmente não conseguiria a mão de obra. A razão disso é que a juventude deseja empregos mais, digamos, tecnológicos, e já quase não aceita permanecer “parado” numa linha de montagem. E como o Grupo Herval tem muitos diferentes setores e produções, os jovens entram nela e sabem que, com dedicação, esforço e paciência poderão construir nela uma belíssima carreira. Por essa razão, muitas empresas em Dois Irmãos atualmente “buscam” mão de obra em cidades da região.
Nesses 62 anos, ocorreu o amadurecimento industrial da cidade, comercial da cidade e isso se refletiu no Poder Público, pois é visível o engajamento e zelo da prefeitura, da Câmara de Vereadores e do Judiciário com os interesses coletivos.
Em 38 anos de jornalismo atuante e olhando para os 3 Poderes com uma lupa, nunca vimos ou ouvimos falar de um desvio de comportamento ético dos integrantes dos poderes públicos em nossa cidade. Se tivéssemos ouvido ou sabido, certamente o ataque do Jornal Dois Irmãos seria furioso, porque o JDI é a imprensa oficial desta cidade, e sendo 100% independente, seja lá quem ou o que for que agrida a ética político, administrativa e judicial da cidade seria por nós atacado sem trégua.
Isso fez também nossa cidade ser modelo, porque um veículo independente, sem patrão e sem “parceiros”, permite elogiar prefeito, vereador, juiz e as próprias empresas da mesma forma que consegue criticar. Todos os que passaram pela prefeitura, Câmara e Fórum sabem disso e respeitam isso. O que demonstra, também, que aqui os 3 Poderes amadureceram e não enxergam uma crítica (verdadeira) como se fosse uma agressão, e isso é um sinal de maturidade.
Dois Irmãos tem uma estrutura respeitável e madura de educação, saúde, infraestrutura, convívio religioso e social. E se uma cidade chega aos 62 anos com essa característica que a torna destaque na região e no Estado em qualidade de vida, isso se deve a cada um dos moradores. Aqui todos nós sabemos que errar é feio e que é preciso fazer de tudo e mais um pouco para implantar como que o Paraíso aqui na terra. E é isso ao meu ver que nos faz diferentes de tantas outras cidades. Nós temos vergonha de errar, vergonha de não fazer o que é certo, e graças a isso (que é uma herança dos nossos Pioneiros de 1829) estamos ano a ano nos tornando não uma cidade “grande”, mas, sim, uma cidade civilizada, que permite a todos que nela trabalham e vivem, aproveitar de uma vida decente e bonita.