
Por Cláudia Kunst
O último sábado, 5 de julho de 2025 entrou para a história como o último dia em que o Black Sabbath subiu ao palco com sua formação original: Ozzy Osbourne (vocais), Tony Iommi (guitarra), Geezer Butler (baixo) e Bill Ward (bateria). O lendário quarteto, formado em 1968 nos arredores de Birmingham, berço do heavy metal, encerrou sua trajetória com um espetáculo grandioso em sua cidade natal, intitulado Back to the Beginning. Como uma fã inveterada da banda, desde meus 15 anos, acabei assistindo a maratona, ao ganhar de presente o “ingresso” que dava acesso via streaming.
O evento, realizado no Vale Park Stadium, atraiu mais de 40 mil fãs de todas as partes do mundo. O festival de despedida transformou Birmingham em um verdadeiro templo do metal por um dia. Ao longo de 11 horas de música ininterrupta, dezenas de supergrupos e artistas convidados, entre eles Metallica, Gojira, Mastodon, Slayer, Anthrax, Guns n’ Roses, Alice n Chains, entre outros, prestaram homenagem à banda. Um palco giratório de 360 graus garantiu a agilidade na troca dos equipamentos de cada banda, entre as apresentações.
Em diversos sites das quais busquei dados, mais de 1.500 profissionais estiveram envolvidos na produção, entre músicos, técnicos de som e luz, produtores, videomakers, fotógrafos, seguranças, equipe de limpeza, pessoal de bilheteria e lojistas. O impacto econômico para a cidade foi imediato: estima-se que o evento tenha injetado cerca de 12 milhões de libras na economia local, movimentando setores como hotelaria, alimentação, transporte e turismo.
A apresentação final do Black Sabbath, trouxe um setlist com quatro clássicos da banda: Iron Man, N.I.B., War Pigs e Paranoid. Antes, a apresentação de Ozzy foi tão emocionante quanto, fazendo com que muitos fãs derramassem lágrimas em litros. Uma despedida emocionante e contagiante.
Economia Criativa pulsante através do amor à música
Como profissional da cultura e também pequena empresária da área, faço parte do grupo do Ecossistema de Inovação de Dois Irmãos e não pude deixar de fazer um link sobre todo o processo. Abaixo, algumas informações que compilei e que denotam a importância do setor cultural e criativo na economia.
Os ingressos para o concerto se esgotaram em 16 minutos, variando entre 300 e 950 Euros. Todo o evento foi transmitido online via pay-per-view que custou, no Brasil R$82,50. Os lucros do concerto foram destinados a apoiar as instituições Acorns Children's Hospice, Birmingham Children's Hospital e Cure Parkinson's.
O festival reuniu cerca de 300 mil visitantes na região de Birmingham, entre fãs, turistas de música, esportes e gastronomia. Isso gerou um impacto econômico estimado em £ 20 milhões para os negócios locais.
Turismo a partir do evento
Ocupação hoteleira saltou para até 89 %, frente aos cerca de 54 % no mesmo período do ano passado. Foram lançados roteiros e tours, como o “Black Sabbath Walking Tour”, que visitam murais, pubs, como o The Crown, local onde aconteceu a primeira apresentação da banda, e o famoso “Sabbath Bench”, além da estátua de Lego do Ozzy na Selfridges.
O evento foi assistido por 40.000 pessoas ao vivo e por cerca de 5,8 milhões online, com cobertura pela imprensa internacional, colocando Birmingham novamente no holofote mundial. Os roteiros e pontos icônicos (bench, mural, pubs) devem gerar fluxo constante de visitantes ao longo do ano, transformando-se em atrações permanentes.
Legado cultural e herança simbólica
Exposição “Ozzy Osbourne: Working Class Hero” no Birmingham Museum and Art Gallery (25 jun – 28 set), apresenta memorabilia, fotos e prêmios do cantor. As ruas receberam murais (mural da banda na Navigation Street), e outras homenagens como a escultura de Lego e até filhotes de cães policiais batizados com nomes dos integrantes.
A banda foi agraciada com o título de Freedom of the City em cerimônia na Câmara Municipal em 28 de junho — um reconhecimento à contribuição cultural deles à cidade.
A imprensa destacou o evento como o “maior show de heavy metal de todos os tempos” e uma volta às raízes, com a banda sendo considerada os verdadeiros “filhos pródigos” de Birmingham.
Impulso ao comércio local
Mercados, bares, food trucks e lojas aproveitaram o momento com eventos temáticos. Tatuagens, edições especiais de comida e bebida, lançamentos de roupas e memorabilia inspirada no Sabbath. E vários estabelecimentos no Westside e no centro de Birmingham organizaram noites com DJs, edições especiais de bebidas e arrecadação de fundos para caridade.
Mais do que um show, o último ato do Black Sabbath foi a celebração de um legado que moldou o rock pesado e inspirou gerações. Para Birmingham, foi também um retorno às origens, um tributo a uma das maiores contribuições culturais da cidade ao mundo. Além disso, mostrando a importância e a seriedade que a cultura, a música e o heavy metal têm e o quanto devem ser respeitados, inclusive quando o assunto é economia.