Entraram em uma briga de casal que sequer conheciam e um saiu morto e o outro provavelmente será condenado
Acompanho um caso de morte importante de divulgar para pais e mães. É uma história de tristeza, é a desgraça da ingenuidade dos nossos adolescentes e jovens. Eis o caso:
No dia 15 de dezembro do ano passado, uma moça comum saiu para ir na casa das amigas. O namorado não saiu com ela, disse que iria na casa dos amigos dele. Ela para lá, ele para cá, numa boa, típico desta geração.
No meio da reunião das gurias, no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, as jovens resolveram ir comer cachorro-quente na frente do Bar Alternativo. Sem carro, foram a pé, feliz da vida. Chegaram lá, pediram cachorro-quente e ficaram por ali.
Nisso, lá de dentro do Alternativo sai um grupo de rapazes. E entre esses estava o namorado dessa moça. Ele não avisou ela que iria lá, com os amigos. Ela não avisou ele que estaria naquele local. Um e outro sentiram-se traídos. O ciúme e a desconfiança incendiaram o cérebro e ambos começaram um bate-boca em voz alta com acusações mútuas. Xingamentos. Palavrões. Essas coisas de pessoa traída. Mas não ficou no bate-boca. Entre palavrões e gritos a tragédia evoluiu e as amigas dela entraram na dança e começaram a xingar ele. Vendo que a coisa estava desparelha para o amigo, os amigos dele passaram a xingar as amigas dela. Chegou, então, mais amigos delas e mais amigos deles, e do nada começa uma feroz batalha campal. Não brigaram só ele e ela. Brigou todo mundo, amigo dele ou dela ou amigo de ninguém. Não ficou um sem brigar.
No meio dessa briga generalizada, entra sabe-se lá porque um rapaz pequeno. E entra, também, sabe-se lá porque um cara muito grande, muito alto, gordo e forte. Esse cara grande, não se sabe em qual situação escolhe para bater no cara pequeno. O cara pequeno se defende como pode, e entre socos e tapas de ambos os lados, ele vai recuando, vai recuando, vai recuando. Então ele vê o vigia do Alternativo, lá dentro da guarita, e para livrar-se do cara grande ele corre para lá. E o cara grande vai atrás, sem dar trégua.
O vigia nada tinha a ver com aquela confusão, estava bem quieto comendo uma melancia. E, para cortar a melancia, ele usava uma faquinha pequena, uma faquinha de nada. E viu de repente aquela dupla entrar a socos, gritos e pontapés na sua guarita.
No meio da confusão, o cara pequeno vê a faquinha de cortar melancia e dá de mão nela. E quando o cara grande salta para cima dele ele simplesmente estende a mão com a faca na direção do peito do Golias. Um golpe único. Uma só estocada. A faca atravessa a pele do peito do cara grande e entra direto no seu coração. Acerta em cheio. Sem volta. Uma única facada, com uma faca de nada, mas mortal.
Esfaqueado no coração, o cara grande imediatamente parou. Olhou o cara pequeno. Olhou o peito onde levou a facada. Viu um fio fino de sangue correr. E não dá tempo do cérebro dele elaborar logicamente o que ocorreu ali. Uma só facada. E ele despencou. Caiu morto na mesma hora.
A desgraça do fato?
Nem o que morreu nem o que matou sequer conheciam o casal que iniciou o bate-boca. Não era com eles. Era briga de namorado e namorada. Briga de traídos. Mas eles, vendo o tumulto, ouvindo os gritos, sentindo a adrenalina da briga, os socos, pontapés e palavrões, entraram na onda mental da violência. Não entraram por precisar, não entraram por serem chamados a ajudar. Entraram por entrar. Não precisavam, mas entraram. Um morreu. O outro será condenado ao cárcere em pena que, pelas agravantes solicitadas, poderá chegar a 20 anos ou mais.
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Pais, nunca sabem onde os filhos realmente estão. E os tempos mudaram. Décadas atrás, a vida tinha valor bem maior do que tem hoje. Nossos jovens têm de saber disso.