Por Alan Caldas (Editor)
Cesar Luiz Barbosa nasceu no Brasil quando seus pais moravam na Argentina e cruzaram o Rio Uruguai numa balsa para se dirigir a Porto Lucena, único local onde havia um hospital, e ali o Cesar veio ao mundo no dia 30 de setembro de 1965. Mas nem bem nasceu e já voltaram com ele para San Javier, na Província de Misiones, e ali ele ficou até seus 4 anos de idade.
O pai se chamava Pedro Barbosa e trabalhava numa usina de açúcar na Argentina e no Brasil passou a ser pedreiro. A mãe se chama Vitória Capeletti Barbosa e tem 83 anos. Eles deram 3 irmãos ao Cesar: o Jorge, o Luis e a Luciane.
Quando Cesar estava na idade escolar a família voltou ao Brasil e foi morar em Porto Xavier, e ele estudou até a 6ª série na escola Francisco Xavier. O porto internacional de Porto Xavier recebe barcos e balsas, vindos da Argentina, e ali Cesar encontrou uma fonte de renda. Vendia produtos aos argentinos que cruzavam o rio Uruguai para adquirir materiais que aqui eram muito mais acessíveis do que lá.
Em 1981 Cesar veio visitar seu tio Claudino Capeletti, em Dois Irmãos, e o tio o incentivou a vir morar aqui. Ele voltou a Porto Xavier e com outros 4 amigos veio para cá em busca de trabalho. Naquela época existia o Calçados Dikoro, e o proprietário Jorge Felipe Kirst Neto alugava a casa onde hoje está o Escritório de Contabilidade Wisto, na avenida São Miguel, para colocar alguns trabalhadores da Dikoro. E foi ali que o Cesar e seus 4 amigos ficaram.
Cesar logo se matriculou na escola 10 de Setembro, concluiu o ensino básico e foi para o Colégio Estadual, na escola das freiras, concluindo o 2º Grau em 1985. E como já estava trabalhando em fábricas ele se matriculou no SENAI, e por 3 anos cursou e concluiu Mecânica, Ajustagem e Tornearia.
O primeiro emprego dele assim que chegou na cidade foi no Calçados Travesso. Depois ele foi para o Calçados Segundinho. Então sua prima Elaine Heylmann Capeletti disse que havia vaga no Unibanco, e como Cesar tinha feito curso de datilografia em Porto Xavier, foi lá, fez o teste e passou a ser bancário. Ficou por 1 ano e meio.
Quando saiu do banco, em 1987, ele estava concluindo o curso de Mecânica no SENAI e foi trabalhar na Metalúrgica Daniel, em Novo Hamburgo, na fabricação de fivelas. Ficou 3 anos e então entrou nos Calçados Maide, onde foi trabalhar junto com o chefe de mecânica, Sergio Severo da Silva.
Foi na Maide que ganhou o apelido de “Amarelo”. Alguém disse que a pele dele não era branca nem preta, e puxava mais para o “amarelo”. O Jaime Gassen ouviu a conversa, e, a partir dali, pedia que a telefonista chamasse pelo interfone da fábrica o “mecânico amarelo”. Começou como brincadeira. E pegou. Hoje muitos nem sabem que o “Amarelo” se chama Cesar Barbosa.
Nos Calçados Maide seu conhecimento de mecânica, torno e ajustes melhorou muito, porque toda máquina nova que chegava era sempre mais tecnológica e ele precisava fazer cursos de aperfeiçoamento. Fez dezenas desses cursos em elétrica, pneumática e hidráulica.
Ficou nos Calçados Maide até o fechamento da empresa, em 2007. E, durante esse tempo, no final do expediente ele ia dar assistência nas máquinas em diversos ateliers de sapato, para melhorar seus ganhos. Quando a empresa fechou ele já não queria mais ser empregado, e comprou a loja Oigres, que vendia peças para máquinas de sapato e que era de Sergio Severo, seu chefe na Maide. E assim Cesar Amarelo Barbosa se tornou empresário, com a loja passando a ter também tornearia e atendendo clientes da região e alguns outros estados.
Cesar teve dois casamentos, mas atualmente vive só. Ele tem 3 filhas: a Betheli, de 33 anos. A Morgana, de 27. E a Nathali, de 24 anos.
Em 2008 a filha Betheli passou a dançar no grupo da ACTG Portal da Serra, e Cesar decidiu atuar mais no movimento tradicionalista. Passou a fazer parte da Patronagem e foi vice Patrão por 4 vezes: do Ademir Nogueira, do Germano Thomas, do Marcos, e do Marcos Wagner, o Sabiá. E em 2013 ficou Patrão da ACTG Portal da Serra.
Cesar já andava a cavalo desde 2005, e começou a fazer tantas dessas cavalgadas que em 2014 foi convidado a integrar a Guarda de Honra da Chama Crioula, recolhendo a chama pela primeira vez em Charqueadas. E em 2018 se tornou vice-presidente da Ordem dos Cavaleiros do Rio Grande do Sul.
Não sabe quantos quilômetros já fez no lombo do cavalo, mas “com certeza” foi mais do que 10 mil, pois só as “registradas e documentadas pela Ordem”, ele tem mais de 130 cavalgadas de longa distância. Pelas regras da Ordem, essa marca o transforma em um Cavaleiro Monarca. Já teve 4 cavalos crioulos, mas hoje cavalga no Trovão, um exemplar da raça Campolino Marchador que está com ele há 8 anos e que fica hospedado na Cabanha do Bigode, de propriedade do nosso amigo Ernani Lehnen.
Cesar Luiz Barbosa, o Amarelo, tem 1,70m de altura, pesa 87 quilos, calça 41 e seu sangue é A+. Se dá com todo mundo na cidade. Jogou futebol pelo União, nos anos 80. Também jogou pelo Tsanove, pelo Morro Reuter e pela Linha Cristo Rei. Só bebe cerveja. Certa vez quebrou a perna, num jogo. Fez viagens pelo Brasil e em 2016 foi para a Europa, conhecendo Alemanha, Espanha, Suíça e Holanda. Gosta de pescar, e tem uma cabana e lancha em Arroio Grande, mas também pesca no Farol da Solidão. Caminha 5 quilômetros por dia. Nada “para o gasto”, e aprendeu no Rio Uruguai. Sua comida é o churrasco e peixe assado, e na cozinha se sai bem na comida campeira. Só lê jornal. Dorme 8 horas por dia, seu único jogo é canastra e se diz organizado, “mas não em excesso”.
Na vida algumas tristezas nossas acabam gerando o bem para milhares de pessoas. Em 2014 o Luis, irmão do Cesar, sofreu um acidente de moto e o levaram para o hospital de Canoas. Dois dias depois ele teve morte cerebral e os médicos o transferiram para o Hospital São José, em Dois Irmãos, para a família ficar mais perto dele até a morte o levar.
Cesar foi para o São José, a fim de ficar ao lado do irmão naquela noite. E no hospital ele viu que não havia onde sentar confortavelmente. “Era uma cadeira comum”. E ainda pediram que levasse um cobertor, pois estavam sem. Cesar ficou deprimido com o que viu naquele local.
Naquela época ele era Patrão da ACTG e desafiou a turma a fazer um baile para arrecadar fundos para o hospital. Chamou também os CTGs da empresa Herval e do São João e fizeram um baile. Por fim, falaram com o senhor Agnelo Seger, para comprar diversas “cadeiras do papai”, onde os acompanhantes pudessem descansar durante a estada no hospital. Agnelo Seger ouviu isso e disse que se era assim “o preço seria só o custo e nada mais”.
Compraram 18 cadeiras do papai, uma para cada quarto. E ali começou um movimento em prol do hospital que, com apoio do grupo Voluntárias do Hospital, lideradas pela senhora Neusa Hansen, começou uma remodelagem no nosocômio que segue até hoje.
Nesse caminho, o Cesar conheceu o seu hoje amigo Giovani Grizotti, o Repórter Farroupilha, e com apoio dele ampliou muito a ação voluntária, com diversos conjuntos vindo tocar bailes de graça para auxiliar na causa.
Ao falar sobre o movimento de voluntariado, Cesar diz que a cidade acordou para a necessidade de cuidar coletivamente do que é seu. E feliz com o resultado, Cesar conclui, dizendo que o povo é do Bem, “e quando você faz o Bem a Felicidade vem por si”.