Por Alan Caldas – Editor
Querida Maya. Temos acompanhado com grande perocupação esse levante social na América. E o Poder aí não parece estar acalmando os ânimos da população. Parece, visto daqui, que o presidente Trump joga mais lenha na fogueira. Ele tem algumas posições assustadoras, que mais parece proposta de briga do que de acalento.
Olhando daqui, percebo que essas pessoas que estão protestando estão como que se sentindo em casa, no protesto. Elas estão ali gritando, xingando, jogando coisas nas vitrines, empurrando policiais, mas vejo nelas uma sensação de “estar bem” ao fazer isso.
Visto daqui, parece que elas estão recuperando nesses protestos não apenas justiça para o que desgraçadamente aconteceu com George Floyd. Parece ter algo mais grave, por trás dos protestos, em especial dos violentos. Tem algo ali de morar mal, estudar mal, trabalhar mal, ser mal visto pelas redondezas, tem algo estranho. Não é uma briga por justiça de “uma coisa” apenas. Parece uma catarse coletiva bem maior do que por uma morte.
As palavras do presidente Trump parecem cínicas, muitas vezes. E ele é visivelmente racista e xenófobo. Olhando daqui, não parece que ele seja a pessoa perfeita para apaziguar essa massa humana que estourou feito boiada e arrasta por diante tudo que encontra. Agora a América precisaria de um presidente apaziguador, e Trump parece mais um guerreiro louco por mais guerra. Quando ele mandou “abrir” caminho a pau entre os que protestavam pacificamente em frente a Casa Branca (e que deu na confusão que deu) mostrou isso claramente.
A América tem muitos problemas para resolver. Tem a pandemia. Tem a geopolítica. Tem queda na economia. Tem esses milhões de desempregados. Ainda é o país que melhor dominou a natureza e a colocou a seu serviço, no meu entender. E essa catarse coletiva é um problema que impede a solução de outros problemas.
Uma coisa é certa: isso precisa parar. Está contaminando o mundo. Já vemos sinais por vários países de atos semelhantes, inclusive aqui no Brasil, e muitos países da Europa e Ásia, todos seguindo o “exemplo América”.
As barreiras ideológicas que sustentam o que vocês chamam de “lifestyle” e nós “estilo de vida” estão se rasgando como um véu. E se rasgar, não tem concerto.
(*) Maya é norte-americana e moradora de San Francisco, Califórnia