Por Alan Caldas – Editor (De Almería, Espanha)
Quando se olha do alto a cidade de Almería, se vê milhares de construções BRANCAS por toda a cidade. Prédios, você pensa. As famosas “casas brancas” do Mediterrâneo. Mas não é.
Você anda pelas laterais da cidade e começa a ver barracões de estufas de plástico. Estufas gigantes em extensão. E não apenas cobertas “em cima”. TOTALMENTE cobertas. Tão fechadas que nem se vê o que tem dentro. E cercadas. Herméticas. Milhares delas, uma grudada na outra. Sem casas ao redor. Sem escritório.
Só aqui na província de Almería, são 32 mil hectares de fruticultura em estufa. Imagine isso: 32 mil hectares de frutas dentro de casas de plástico. Eles chamam de “produción invernada”. E, detalhe: nenhuma tem nome do proprietário.
Almería tem a agricultura de estufa mais poderosa da Espanha. Produz de tudo, além de frutas. Abobrinha, pimentão, tomate, cebola etc., tudo. De dentro das estufas, sai por ano 3 milhões e 500 mil toneladas de frutas. São 2 bilhões e 200 milhões de euros de faturamento só em produção de frutas. Fora o restante.
Tenho amigos pequenos agricultores e eles sempre reclamam que “a coisa não está fácil”. Pois bem. Quero consolá-los. Os dados econômicos dizem que a província de Almería, no tocante a riqueza vinda da agricultura, está na parte inferior da Espanha: a renda do agricultor aqui fica abaixo de 8 mil euros-ano por agricultor.
A agricultura intensiva não gera riqueza para a população do município. O rendimento médio anual é aqui o mais baixo da Espanha. O setor agrícola na província de Almería emprega 73 mil pessoas. É o território espanhol que mais gera trabalho no campo. Mas a renda média da população rural daqui é a mais baixa do país.
Vizinhos ao redor vivem idêntico drama. Níjar, Vícar, Adra e El Ejido, são cidades que somam outros 22 mil hectares de estufas, e têm média de rendimento ano por habitante entre 8.000 e 7.307 euros. Isso significa 21 mil euros MENOS do que agricultores da região de Madri.
Segundo analistas, há duas explicações:
– Grande economia clandestina, e
– Contratos fraudulentos ou precários.
As fraudes no contrato de trabalho agravam a Segurança Social. Mas não é fácil inspecionar os locais de trabalho ilegal. São centenas ou milhares de estufas sem localização conhecida. E quando chega lá a fiscalização, encontram tudo fechado.
A economia clandestina causa grave consequência ao agricultor. Exemplo: mais de 55% dos desempregados em Almería não recebem subsídio. Foram contratados “frio”, não contribuíram o suficiente para poder se beneficiar do seguro desemprego.
Tudo isto, faz com que Almería, mesmo tendo um produção agrícola esplêndida, siga sendo, na agricultura, a terceira província espanhola com as aposentadorias mais baixas na ESPANHA.