Por Alan Caldas – Editor (De Torrevieja, Espanha)
Situada na Costa Blanca, região que produz o sal aqui na Espanha, a cidade de Torrevieja é a salina natural mais importante da Europa. Montanhas de sal em sua costa comprovam isso.
A cidade tem duas lagoas imensas de sal.
Uma, a Lagoa Rosa, tem fama internacional pelo rosa e púrpura de sua água. Para quem vê cores, maravilha. Essa tonalidade, dizem biólogos, é fruto de milhões de halobacterias flutuando acima do chão de sal onde repousam as águas da lagoa. É tão intenso o rosa avermelhado dela, que visitantes mais espirituosos comparam sua água com uma boa e bela batida de morango, tal a cor em alguns dias.
A Lagoa Rosa é ainda coroada por bandos daqueles pássaros enormes, chamados flamingos, que recepcionam visitantes. De fato, os flamingos vêm ali para encher o bucho. Querem comer crustáceos que tem no fundo da lagoa. E, com suas pernas grandes e seu clássico tipão de bailarino, os flamingos fazem um bailado espetacular no vai e vem em busca de comida, e tornam a Lagoa Rosa um dos lugares mais lindos e visitados da Costa Blanca (de sal).
Banho é proibido ali. Óbvio. Mas alguns entram. E descobrem porque a chamam de Mar Morto da Espanha. É que o sal é tanto que a flutuabilidade é 100%. A pessoa não afunda. E, se tentar mergulhar, voltará rápido para cima, saltando como se fosse uma rolha. No Mar Morto também é assim. Daí a comparação.
Torrevieja é o maior exportador de sal natural da Europa. Mas nela o que atrai as pessoas é o clima. É um oásis na Europa gelada quase 8 meses por ano.
A terceira idade, quando tem renda vem morar aqui. Porque é lindo. Porque é quente. Porque tem praia. É benção para aposentados. E é por isso que mais da METADE dos 100 mil habitantes de Torrevieja são estrangeiros. É a cidade mais cosmopolita. E a razão maior é sem dúvida a temperatura. A média-ano aqui é 18 graus. Para padrão Europa, com seus Invernos congelante e Outonos quase tal-qual, isso é Paraíso. Caloraço na Primavera-Verão e amenidades no Outono-Inverno.
Exemplo: hoje, 32° de temperatura e 42 de umidade. Perfeito, não é?
A geografia ajuda. Com 20 quilômetros de costa, Torrevieja tem dezenas de praias. Algumas com “gêiseres” naturais. Devido a formação rochosa da costa, no vai e vem das ondas formam-se lindas colunas de spray, que borrifam o desavisado que passa perto.
A praia do “Cura” (do padre) é a mais urbana. Tem bares, restaurantes e pequenas enseadas feitas ou naturais. Muitos lugares aqui têm praia para cadeirantes e pessoas com problema de mobilidade. No Brasil, que saiba só Maceió tem isso. Mas aqui é normal. E isso atrai aposentados, porque velhice e frio nunca combinaram.
Torrevieja não tem construções históricas. É pena. O antigo não existe porque a cidade foi destruída por um terremoto, em 1829. Nem mesmo a “Torrevieja” (que dava nome ao local) resistiu. Tudo abaixo. Foi reconstruída. Mas perdeu estilo. Ficou “moderna”, no mal sentido. Edifícios comuns. Construção urbana que lembra Tom Wolfe e seu livro “Da Bauhaus ao nosso caos”. Prédios que não sobreviverão para contar este período da história. É a realidade líquida.
O prédio católico por sorte ameniza. A igreja Coração de Jesus é moderníssima, angulosa e linda. É uma batida de coração na arquitetura morta da cidade.
O Porto é enorme. Um deck vai quilômetro mar adentro. E 900 barcos de passeio ombreiam com dezenas de barcos de pesca, ainda fonte de renda para parte da população. Um submarino atracado ali virou museu flutuante.