Por Alan Caldas (Trento - Itália)
Cheguei a Trento. Cidade calma, bonita e com 129 mil habitantes cuja característica é a simpatia.
Longe do turismo, Trento é onde se vê o italiano vero.
Quem mora aqui me diz que morar em Trento é estar preparado para um verão curto e muito, muito quente, e um inverno longo e muito, muito frio, onde se aprende a conviver com a neve.
Trento é ‘íssima’.
Limpíssima. Seguríssima. Civilizadíssima. Simpaticíssima. E tem as incríveis montanhas Dolomitas, que é para onde vão 99% dos turistas, deixando, assim, em paz a cidade propriamente dita.
As Dolomitas são uma cordilheira nos Alpes italianos. Fazem parte dos, cada um mais magnífico que o outro, 50 lugares italianos incluídos no Patrimônio Mundial da UNESCO.
Estão em 401 mil hectares em território que abrange as regiões de Trentino Alto Adige, Veneto e Friuli Venezia Giulia.
As dolomitas decoram – sim, decoram – 5 províncias italianas: Trento, Bolzano, Belluno, Udine e Pordenone.
Nelas estão 18 picos que se impõem como gigantes acima de 3 mil metros de altura.
Não tem como explicar o que se vê, se sente e se imagina quando próximo desses picos.
Mesmo em mim, que, réu confesso, sou meio asiago, mesmo na distância ver eles me causa alegria, medo, tristeza, felicidade, curiosidade, sensação de ser realmente um nada e de ver, neles e dentro de mim, uma imagem de Deus preenchendo os vazios do mundo e o vazio que existe no meu próprio Ser.
É espantoso.
A simples passagem pela estrada já é de encher olhos, mente e coração com uma alegria diferente das alegrias tradicionais.
A mente começa a trabalhar. A pensar que um dia tudo aqui era planície e essas Dolomitas nem existiam. Aí, o planeta se chacoalha, treme, se abre, se fecha e tudo vira aqui um mar de vulcões. A seguir tudo afunda no oceano. Aí Europa e África colidem. Aí surgem essas montanhas Dolomitas. Aí habitantes gigantescos, chegam, os dinossauros. Aí a morte de tudo se impõe, como disse a russa Irene Blavatsky, e novamente tudo vira um mar de lava e de morte. Aí resfria. Aí o tempo anda e anda e anda e vem a raça humana que, ao fim de muito guerrear, morrer e nascer, vai aprendendo a conviver em meio a essa maravilha da natureza.
Então chegamos nós e chegam esses italianos brilhantes e simpáticos que habitam esta terra neste momento.
Estar aqui é como “ver” um sonho civilizatório, geo-antropológico, e do nada acordar em meio a ele e ver que não é sonho, que é real.
É lindo este território. Lindíssimo!
Muitos ítalo-brasileiros tiveram tataravós que saídos daqui foram fazer a vida no Brasil e nunca voltaram.
Os descendentes deveriam fazer um esforço e vir aqui ver de perto o que é esta região para a qual, de coração, só tenho uma única expressão: genial!