Por Alan Caldas (De Uçhisar - Turquia)
Saindo de Ancara viemos para a Capadócia. São 300 km de lá até aqui. Eu dirigindo. A Angela na navegação. Estrada linda. Paisagem de montanhas. Áridas e secas, no início, bem rochosas, pedregosas e zero verde. Depois, quando íamos nos aproximando da Capadócia, mais e mais surgiam campos cultivados. Feno, suponho. Vimos pilhas enormes de feno ao lado de galpões imensos. Ali criam o gado. E ovelhas. Tudo em confinamento.
A estrada segue e de repente surge um rio. É o Kizilirmak, cuja terra colore sua água e por isso o chamam de Rio Vermelho. É o mais longo da Turquia. Tem 1.182 quilômetros. Começa no Oriente, faz enorme círculo pela Anatólia Central e desagua lá no Mar Negro. Trezentos quilômetros depois, já dentro da Capadócia, chegamos em Uçhisar. Nossa parada. É uma vila. Fica no alto da montanha. Se vê o Vale todo. É incrível. Estamos exatamente ao lado do “castelo”, que não é de fato um castelo. É o pico, a “torre” da montanha onde está Uçhisar.
Esse “castelo” (montanha) é como se fosse um edifício. Você quase não acredita no que vê. Ele tem dois picos e vários andares de apartamentos-caverna. Apartamentos escavados um acima do outro. São apartamentos cavernas. É muito surpreendente. Tem corredores internos com escadas internas para subir e descer. E tudo esculpido dentro da montanha. Tudo em cavernas. É de arrepiar. Estamos ao lado desse monumento da arquitetura e engenharia das cavernas. Daqui onde estou até ali, dá 100 metros se muito. E você não se cansa de olhar. Nem de ficar boquiaberto com o que vê.
O hotel fica na beiradinha do precipício, praticamente encravado na montanha. E a visão é descomunal. Se vê o vale com suas inconfundíveis “chaminés de fada”, que são altas formações rochosas em formato de cone agrupadas neste que é o Vale dos Monges. Lá embaixo se enxerga a cidade de Göreme. É a principal da Capadócia. Pequena. Organizada. Gentilíssima, como tudo na Turquia. De onde estamos, vemos centenas de elevações de terra esbranquiçadas. Eram as moradias humanas nas cavernas de Göreme.
De onde veio isso?
A região da Capadócia foi formada há 60 milhões de anos pela erosão de camadas de lava e cinzas cuspida pelos vulcões. Com o tempo, esse material sedimentou. Então as chuvas e o vento ao longo de milhões de anos foram desgastando às rochas e cinzas vulcânicas. Deram origem a algo parecido com chaminés esculpidas pela natureza na rocha. Isso criou essa linda e única paisagem.
A Capadócia foi imensa, mas hoje se resume a 15 mil km². E tem 1 milhão de habitantes, fora desse Vale dos Monges, em área que quem vem aqui só para ver balão é claro que não vê. Ao longo dos séculos e milênios foram chegando na Capadócia os moradores. Os animais, primeiro. Depois os homens. Com os homens e para se proteger dos animais e do rigor do tempo, que aqui alterna calor e frio intenso, começaram a surgir as cavernas como habitação. Elas eram escavadas nessas rochas macias, oriundas de lava e cinza. Primeiro foram algumas poucas casas caverna. Depois centenas. Então milhares. Pequenas. Grandes. Imensas como o “castelo”, aqui ao lado. Muitas igrejas caverna. Teve de tudo.
Começa assim a história humana na Capadócia. Os primeiros habitantes foram os Hititas. Mais tarde os Assírios. Romanos. E nos anos 300 e fugindo da perseguição em Jerusalém, vieram os cristãos. Os cristãos acharam terreno fértil e em paz nesta área, e isso lhes proporcionou amadurecer o conceito de vida após a morte, que Jesus lhes legara e que aqui se solidificou intelectual, filosófica e por fim teologicamente.
Mas isso é assunto para outra reportagem.