Para falar com criança, tem de falar “com criança”.
Homens e mulheres não fazem “curso” para casar e ter filhos. E quando os filhos chegam, a maioria dos adultos pensa que criança é um adulto em miniatura. Desconsideram que existe um “universo infantil”, onde o mundo é mágico. Não levam em conta que tudo que uma criança “pensa”, ela pensa a partir do (pequeno) mundo que conhece na sua tenra idade.
Uma criança não tem vocabulário para entender um adulto. A criança sabe pouquíssimas palavras. E a criança pode até conhecer uma ou outra palavra complexa, mas conhecer a palavra não significa saber o que a palavra significa. Papagaio também fala e não sabe o que está falando.
Para falar com crianças, temos de achar o vocabulário que ela conhece. Temos de falar para ela palavras que ela domine o nome e o “conteúdo”, palavras que ela conheça o significado da palavra. Adultos normalmente se dirigem a crianças como se dirigem a adultos. E adultos esperam que a criança tenha reações que adultos têm.
É fato que muitos adultos têm um vocabulário paupérrimo, e se comunicam com pouquíssimas palavras. Mas, ainda assim é preciso considerar que a criança desconhece a esmagadora maioria dessas poucas palavras.
Se vai falar com criança, fale dentro do “mundo dela”. O mundo mágico, dela. O mundo onde ela pensa que tudo que ela pensar, acontecerá de fato.
Ser pai e ser mãe requer talento de comunicação. Ser pai e ser mãe requer “ver” a criança como criança como um todo, física, psíquica e verbalmente, e ir encaminhando ela com palavras e (principalmente) atos para um crescimento.
O recomendável (e quem tem filho sabe disso) é quando for falar algo sério com a criança, algo que queira que ela realmente entenda, o recomendável é abaixar-se até a altura dela. É ficar de joelhos, se preciso, em frente a ela, e olhá-la na altura dos olhos, como se ela tivesse a mesma altura que você.
Após fazer isso, falar, então, pausadamente, como se fala com alguém que você deseja que entenda o que você está dizendo. E falar não uma, mas 4 vezes. Falar de forma diferente, para que a criança possa “conhecer” o que você está dizendo.
Todas as pesquisas de teorias da comunicação mostram que uma pessoa adulta raramente entende “na primeira explicação” o que está se tentando lhe dizer. Imagine, então, uma criança.
Por isso é preciso dizer o que se quer que ela entenda. Logo a seguir dizer novamente, dando um exemplo bem simples. Falar, depois, uma terceira vez falar com mais um exemplo. E então, na quarta vez ela compreenderá “razoavelmente” o que você está tentando lhe dizer.
A partir da quarta vez, “talvez” ela elabore um conceito sobre o que você lhe disse. Talvez. E se os exemplos que você lhe deu na tentativa de fazer ela compreender foram de fácil acesso ao “pequeno mundo dela”, provavelmente ela compreenderá a conversa. Caso contrário, entrará num ouvido e sairá no outro.
O exemplo de como se comunicar serve para crianças, mas não só para “crianças’. Adolescentes têm pouco vocabulário, também, e os jovens igualmente possuem um arsenal de poucas palavras em seus cérebros. Portanto, se os pais querem se comunicar com os filhos, têm de olhá-los e vê-los como criança ou adolescente, e falar assim com eles, não falar como falam com seus amigos adultos.
(*) Das Memórias do Conselheiro