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Saia do celular. Agora, enquanto há tempo. Ou pelo menos diminua a frequência. Estabeleça horários. Crie hábitos mais saudáveis. Fuja para as montanhas.
Todo vício é um problema. Desagua numa dependência tóxica que mina e contamina o lençol freático do cérebro, transformando a abundância de estímulos em aridez. O desespero nos faz implorar por gotas de uma água que provoca ainda mais sede. Suponho que seja assim com drogas e jogos. E também com o celular, uma droga que vive jogando com a gente.
Saia do celular. Agora, mas talvez não dê mais tempo. Sua bateria está mais viciada que a do aparelho. Sua energia se dilui e escorre pela tela, que rachou.
Você pode ir para a cama sem escovar os dentes, mas já deitado ainda terá tempo de passar pelas últimas atualizações nas redes sociais. Pode até esquecer o filho na escola, mas com certeza não deixará passar em branco o aniversário do Drácula, seu cachorrinho de estimação, postando uma linda foto no Instagram. Assim, com o tempo, sua vida se condensa numa nuvem passageira que cada vez mais o afasta de você mesmo.
Saia do celular. Agora, ou eu desisto. Leia um livro. Vá ao cinema. Visite uma igreja. Faça exercícios. Aprecie a natureza e a cultura que estão pelas esquinas. E, de repente, faça sexo... Sim, SEXO! Pois até isso anda com os dias contados diante da onipresença da tecnologia...
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Estudos mundo afora mostram que as pessoas estão transando cada vez menos, o que parece contraditório em tempos mais liberais. Dados do National Opinion Research Center, da Universidade de Chicago, nos EUA, revelam que 23% dos participantes declararam não ter feito sexo nos últimos 12 meses – quase o dobro do número registrado há 10 anos, em 2008.
Os pesquisadores ficaram surpresos com a proporção “muito maior do que o esperado” de homens com menos de 30 anos que disseram estar sem fazer sexo há pelo menos um ano: 28%, o triplo do registrado em 2008. As mulheres mais jovens também estão fazendo menos sexo, mas o aumento nesse segmento foi de 8% na última década. A pesquisa ainda identificou que mais da metade dos adultos entre 18 e 34 anos (51%) não está numa relação longa com o parceiro.
Especialistas citam entre as causas do crescente desinteresse o fato de os mais jovens continuarem dependentes das famílias, morando com os pais ou dependendo do dinheiro deles; a falta de relacionamentos duradouros e o grande consumo de pornografia online.
Aliás, a combinação de internet e smartphones é um potencial agravante, na visão de Jean Twenge, professora de psicologia da Universidade San Diego State. “Tem muito mais coisas para fazer às 10h da noite hoje do que havia há 20 anos. A hora do sexo agora tem que competir com vídeos, rede social, vídeo games e tudo mais”, declarou Jean, em entrevista ao jornal Washington Post.
Rapidinha 1
Casal jovem, comemorando dois anos de namoro. A noite promete. Passaram o dia trocando mensagens picantes. Inundaram suas redes sociais com declarações apaixonadas. Ela postou foto deles em uma viagem para uma praia fora do país. Ele, a de um fim de semana de inverno na Serra, com vinho, fondue e lareira.
Saem para jantar, brindam com espumante, fazem dezenas de selfies e stories. Em casa, voam pra cama. Ela tem orgasmos múltiplos ao ver o número de curtidas que a foto dos dois teve no Instagram. Ele se acaba de rir com um daqueles vídeos idiotas do grupo do futebol.
Rapidinha 2
Falando em futebol, Renato virou estátua no Grêmio, e pelo jeito a estátua foi parar na beira do campo. Só isso explica o time ainda não ter saído do lugar. Por sorte, há tempo para salvar a temporada. Mas será preciso uma dose generosa de humildade...
(Publicado na edição de 24 de maio de 2019)