Pa. Cláudia P. S. Pacheco / Paróquia Evangélica de Dois Irmãos - IECLB
“Nada pode nos separar do amor de Deus” (Rm 8.38-39) - foram estas as últimas palavras pronunciadas num sepultamento que fiz recentemente. Diferente de outras vezes, eu as li e escutei internamente com a mente querendo duvidar: “Nada mesmo pode nos separar?” Pensei comigo: Que ironia! O que estou dizendo? Esse vírus devastador está nos separando. Mas, num lampejo, busquei afastar a dúvida que me pareceu ser uma ameaça à fé e segui em frente em minha fala. Disse, mais uma vez: “Do amor de Deus nada pode nos separar”. Reafirmei minha convicção e fé pois, sem esse amor, de fato, estaríamos realmente perdidos. A realidade, subjugada por este vírus e suas consequências, ninguém mais aguenta. Estamos separados entre nós, por este vírus, e pela desigualdade que ele visibilizou. Sim, estamos separados e até divididos em jeitos de pensar. Mas, não estamos separados do amor de Deus! É Deus que une perfeitamente todas as coisas (Cl 3.14), também a diversidade de nossas existências em suas diferentes situações (dor, doença, negação, aceitação, vida, morte, fartura, miséria).
O amor que aprendemos de Jesus nos sensibiliza nas grandes crises e nos faz questionar. E questionar é obra de Deus em nossas vidas. Jesus questionou o jovem rico (Mt 19.16ss), questionou o cego Bartimeu (Lc 18.35ss), questionou os fariseus (Mt 22.15ss), questionou o rigor da lei (Lc 14.1ss). Ao trazer o Evangelho, Jesus se colocou frente à realidade humana provocando questionamentos nas pessoas por seu discurso e por sua prática, ao se mostrar empático e compassivo à dor provocada pelo pecado da humanidade. Por meio de questionamentos, Ele leva as pessoas a darem novas respostas por causa da fé.
Enquanto escrevo esta meditação me dou conta de que faz exatamente um ano que experimentamos o distanciamento e o isolamento físico e social. A mais indicada resposta ao vírus! Muitas pessoas sabem que o amor de Deus permanece em nós, mesmo fora dos templos. As dificuldades na área da saúde e da economia seguem a nos questionar. Mas, isso não deveria nos separar e dividir, e sim nos desafiar a construir coletivamente possibilidades de enfrentamento desta realidade e de superação de toda dor. Só iremos encontrar as respostas se fizermos as perguntas.