Por Alan Caldas (De Fethiye -Turquia)
A Turquia tem história. Por exemplo:
A cidade Fethiye primeiro foi Telmesso. Depois tornou-se Anastasioupolis. Em seguida a chamaram Makri. E logo mais, Beskaza. Só em 1.934 é que se chamou Fethiye. A cidade está sob uma falha na placa tectônica e isso lhe rende terremotos. O terremoto de 1957, por exemplo, destruiu 90% dos edifícios aqui da cidade. E ela teve outros, não tão graves. Porém não tão longe daqui teve-se aquele último terremoto, lembra? Aquele que ano passado arrasou parte da Turquia e da Síria, sua vizinha.
A vida, porém, segue sempre alegre e esperançosa aqui em Fethiye. Os 170 mil habitantes da cidade no verão se transformam em 2 milhões ou mais. São turistas que vêm atrás do sol, que Fethyei tem de sobra, e do seu coloridíssimo mar, praias e das muitas ilhas que existem nesta geografia e encantam os visitantes. Ontem, durante 8 horas fizemos um passeio de barco visitando pelo mar as 12 ilhas. Almoço no barco. E 4 brevíssimas paradas afim de uma caminhadinha ou mergulho rápido nas águas de azul cobalto profundo do mar Mediterrâneo. Na última ilha a âncora do Fulya prendeu-se nas pedras e assistimos o real trabalho dos marinheiros para soltá-la a muque.
O Alih, grumete do navio, um jovem de 20 anos se muito, saltou na água e em mergulhos de apneia ia ao fundo amarrar cordas para, então, a equipe tentar soltar a âncora com apoio do motor do barco. Ficamos 40 minutos com o Alih na água, indo e voltando no braço e no pulmão, fazendo pequenos progressos em cada mergulho. No convés, o capitão no leme e quatro outros marinheiros aos gritos iam instruindo o Alih sobre como estava indo o trabalho. A cena era incrível. Sobretudo porque em nenhum momento houve irritação. Era um trabalho tenso, porque poderiam perder a âncora, e duríssimo, porque a água vai rapidamente esfriando o corpo e o Alih, lá embaixo, no mergulha e sobe, poderia ter alguma hipotermia. Mas todos trabalhavam sorrindo. O Alih inclusive. E cada vez que o víamos colocar a cabeça para fora d'água aparecia o sorriso.
Por fim, já quase 40 minutos depois de trabalho intenso e gritos, a pedra lá embaixo cedeu e a âncora subiu, sendo, então, travada no barco e substituída por outra, esta manual, presa a uma grossíssima corda cheia de nós de marinheiro. Quando o Alih subiu já estava ficando roxo, mas sorria satisfeito por ter vencido a batalha aquática contra as pedras. O aplaudimos, e brinquei com ele dizendo que poderia ser astronauta. O Alih ficou feliz e sorriu aquele riso tímido que caracteriza os turcos. Me agradeceu, dizendo: “techêculér”, que é o “muito obrigado” na língua deles.
O capitão mandou abrir uma imensa vela e seguimos zingrando e flutuando no azul intenso das águas do Mediterrâneo. Ora indo a barlavento e ora a sotavento, de mansinho fomos nos aproximando da costa. Na volta, o sol já desmaiando atrás das montanhas Taurus, avistamos a Marina de Fethiye, para a qual centenas de barcos voltavam naquele mesmo momento. Era uma cena digna de filme.
Atrás da Marina, lá do mar víamos a cidade. Seus muitos bares, restaurantes e praças. As luzes já estavam sendo ligadas. E, num burburinho, todos começavam o corre-corre do preparar mesas e cadeiras para o vai e vem da noite, que aqui é uma festa nesta época do ano.