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Quando os filhos nascem, muita coisa muda.
Ficamos diferentes. Somos submetidos a um estranhamento natural em meio a uma ordem nem sempre tão natural assim da vida. Sentimentos ganham novos sentidos, assumem novas tonalidades. Algumas certezas se diluem em soluções duvidosas, outras apenas ficam mais nítidas. É um despertar nada simples, ainda que de início a emoção simplifique as coisas e não nos permita alcançar a complexidade do momento. Incrível perceber, aos poucos, na urgência de pressa nenhuma, como o instante de um choro, de um gemido, de um suspiro é capaz de conter significado tão imenso, tão intenso.
Somos um antes, outro depois.
A essência que nos sustenta permanece, não se desfaz como bolha de sabão. Mas é o toque de uma criança que transforma de forma instantânea as percepções que orbitam essa essência e faz estourar a bolha solitária do próprio umbigo. Continuamos os mesmos, mas não somos mais da mesma forma. O caminho à frente se incumbirá de mostrar – e desatar – o que foi feito de nós.
Quando os filhos nascem, pouca coisa muda.
De início, não queremos que eles sejam (muito) diferentes da gente. Na condição de estreantes, absorvemos conceitos e táticas de nossos pais, que por sua vez miraram exemplos de nossos avós... É verdade que não existe fórmula pronta, mas que bom que ninguém começa do zero. As referências estão aí para isso – e para o bem e para o mal também.
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Por falar em influência...
O Brasil é o país em que os pais mais tentam influenciar o gosto musical dos filhos, segundo pesquisa feita pelo serviço de streaming de áudio Deezer. Um grupo de 10 mil pais com filhos menores de 18 anos em cinco países (Brasil, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos) foi submetido a uma análise bibliográfica feita pelo Dr. Hauke Egermann, do Departamento de Música da Universidade de York. Na pesquisa, 73% deles relatam que seus filhos reagem positivamente ao ouvir suas músicas favoritas antes dos 10 anos. Depois disso, eles se tornam menos receptivas.
O estudo comprova que a grande maioria dos pais deseja influenciar o gosto musical de seus filhos. Sete em cada dez entrevistados (72%) tentam fazer seus filhos curtirem suas músicas favoritas, enquanto 89% dos pais pesquisados acreditam que é importante ampliar os horizontes musicais dos pequenos. Quase um terço dos entrevistados (28%) colocou seus filhos para ouvir músicas que consideram culturalmente importantes. De acordo com o Dr. Egermann, isso pode ser benéfico para as crianças, já que a exposição a uma variedade maior de músicas está ligada, por meio de estudos acadêmicos anteriores, a resultados sociais positivos e maior aceitação à diversidade na vida adulta. A propósito, a ordem de maior influência dos pais na pesquisa ficou assim: Brasil 85%, Estados Unidos 75%, Reino Unido 72%, França 68% e Alemanha 59%.
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Eu entendo esses pais.
É preciso admitir que dá certo orgulho se ver no outro, ainda mais quando esse outro é parte de você. Tem pai (quem nunca?) que acha graça até quando o filho imita seus defeitos... No entanto, são as diferenças que dão sentido ao que se sente. Pais e mães querem que seus filhos sejam mais e além deles próprios. O que dá orgulho, de verdade, é ver que eles têm sua própria visão de mundo e podem ser melhores, não no sentido da competição individual, mas no sentido da cooperação como indivíduos.