Por Rafael Sauthier*
A sociedade gaúcha assistiu, neste último domingo, dia 26 de janeiro de 2020, em Porto Alegre, um fato perturbador. Um jovem de 24 anos, sem antecedentes criminais, em razão de uma discussão causada por um acidente de trânsito, puxou uma arma de fogo calibre 9mm e assassinou não apenas uma pessoa, mas três pessoas. Foram mortos com tiros na cabeça e pescoço o pai, a mãe e o filho, respectivamente com 46, 44 e 20 anos de idade. Outro filho do casal e um parente assistiram tudo dentro do veículo da família. Ao que tudo indica, o jovem de 24 anos, que também acabou com a própria vida, não tinha porte ou registro da arma de fogo utilizada nos referidos crimes.
Este fato serve para muitas reflexões. A primeira delas, é claro, refere-se à questão do armamento da população. Episódios como este nos fazem pensar se realmente a política do atual governo federal no sentido de flexibilizar regras e facilitar o porte e o registro de armas de fogo, inclusive de calibres mais potentes, não está redondamente equivocada. Outra reflexão que logo vem à nossa mente é a violência absurda que subjaz à população. Como um jovem, sem antecedentes criminais, foi capaz de dizimar uma família inteira por um motivo tão banal? Neste momento vem logo à nossa mente a cultura da violência, que como fenômeno histórico e cultural, assola o nosso país e, também, toda a humanidade. A violência, nas palavras de Luiz Flávio Gomes, não é um acidente histórico, um acontecimento raro e imprevisível, ou ainda uma mera fatalidade. Ao contrário, é um dos elementos intrínsecos que infelizmente melhor caracteriza a nossa cultura e a nossa realidade.
Quais as suas causas? As mais variadas possíveis. As consequências? Como se viu, são muito nefastas.
Cumpre então questionar o que os governos têm feito neste sentido. Se a resposta fosse “nada”, ainda estaríamos no lucro. Mas, parece que os sucessivos governos, das mais variadas formas, acabam ao contrário até mesmo estimulando a violência. Já está na hora de se analisar e tratar este fenômeno de verdade. Antes que a sociedade acabe se autodestruindo.
(*) Rafael Sauthier é Delegado de Polícia há 18 anos e exerce suas atividades no Vale do Sinos. Também é mestre em Ciências Criminais pela PUC RS e professor de Direito Processual Penal na Faccat