Por Alan Caldas – Editor / Na foto, Alan Caldas e Delmar Escher
Essa história é incrível. Ontem encontrei meu amigo Delmar Escher no Banrisul e fiquei impressionado com o que ocorreu com ele.
O Delmar, assim como eu, é dois-irmonense de coração e por opção. Ele nasceu em Alecrim, no dia 22 de fevereiro de 1958, filho do seu Claudino, já falecido, e da dona Adela Idalina Escher, que hoje tem 84 anos e mora no bairro Primavera aqui em Dois Irmãos.
Em 1979 e buscando melhorar de vida, Delmar, aos 21 anos, se mudou para Novo Hamburgo, indo morar no bairro Rincão e trabalhou no supermercado Nacional.
Nesse mesmo ano, 1979, casou com dona Delci, que era de Cândido Godói, e no ano seguinte, 1980, chegou a Dois Irmãos para trabalhar “onde desse”. No início até cortou mato. E, depois, trabalhou no seu José Luiz Wittmann como motorista. Nesse período, o casal teve os filhos Adriano, nascido em janeiro de 80 e Carla Adriana, que nasceu em 1981.
Em 1983 Delmar soube que estavam precisando de operador de patrola na prefeitura e foi falar com o então secretário de Obras, Edmundo Lorenz, que na época era o braço direito do então prefeito e nosso amigo Norberto Emílio Rübenich. Depois de duas ou três entrevistas, o seu Lorenz chamou o Delmar e, como ele não sabia dirigir patrola, o empregou como auxiliar e encostou ele em um operador mais experiente, até que aprendesse o ofício.
Nessa época, Delmar tinha 25 anos e em poucos meses já estava operando a patrola. Naquele ano trocou o prefeito, e entrou, então, o lendário prefeito Romeo Benício Wolf. Delmar seguiu na operação de patrola, sob comando do mestre Lorenz. E os anos se passaram.
Veio, então, o prefeito João Arnildo Mallmann. Delmar seguia nas patrolas. E, a seguir, Renato Dexheimer, que era vice de Arnildo Mallmann, foi eleito prefeito e convidou o já então experiente Delmar Escher para ser o seu secretário de Obras. O próprio Renato já havia sido secretário de Obras no governo Mallmann. Um ótimo secretário, aliás. E tendo conhecido o trabalho de Delmar, o convidou para assumir o cargo. Delmar ficou como secretário de Obras os 4 anos do prefeito Renato.
A seguir assumiu a prefeitura o prefeito Juarez Stein, que era vice do Renato e que, conhecendo Delmar, igualmente o convidou para o cargo. No fim da história ficou 12 anos como secretário de Obras de Dois Irmãos e, no segundo mandato de Renato Dexheimer, mais 4 anos como secretário de Serviços Urbanos, porque, naquele governo, Renato nomeou Marcelo Berlitz para as Obras.
Delmar totalizou, assim, 16 anos na Secretaria do município de Dois Irmãos. E com um detalhe quase inacreditável: nunca foi filiado ao partido que estava na prefeitura nesses anos de Secretaria, o MDB, e nem filiado a nenhum outro. Em 2015, e aos 57 anos de idade, Delmar se aposentou.
Até aqui é a história do passado dele. E, agora, a recente.
Em agosto de 2021 Delmar foi para Santa Catarina, visitar o filho Adriano. Numa manhã se acordou, levantou e tomou café normalmente. Então foi acometido de uma dor de cabeça de arrebentar. Tão forte que era de gritar. E a dor persistiu. Ele tomou um remédio e outro e deu uma acalmada.
De noite, porém, aquilo não passava, e Delmar foi levado ao posto de saúde da cidade de Barra Velha. Os que o atenderam não entenderam bem o que estava ocorrendo. Até acharam que ele estava se fazendo. O medicaram para dor e o deixaram em observação.
No dia seguinte, na troca do plantão, um outro médico percebeu que era grave o fato e transferiram Delmar para o hospital de Joinvile. É uma cidade próxima dali e que tem maiores recursos no hospital.
Delmar chegou lá. Foi analisado. Baixaram ele. E a posição do médico que o atendeu foi assustadora. O médico disse para a família:
– Se preparem. É grave. Ele não passa desta noite!
Delmar tinha tido um AVC. Um acidente vascular cerebral hemorrágico na parte direita e na frente do cérebro. A morte, previu o médico, era questão de horas.
A previsão de morte não se confirmou. E, sob procedimentos, Delmar permaneceu por 18 dias no hospital, sempre entre o vai e fica. Mas ficou. Então foi transferido a pedido da família para Porto Alegre, onde ficou no hospital por mais 8 dias, já em melhores condições. Após 8 dias foi liberado para vir para casa, em Dois Irmãos, com o compromisso de voltar várias vezes para exames e controles em Porto Alegre, semanalmente. E assim foi melhorando, dia a dia, semana a semana, mês a mês.
A saúde voltou. Mas teve algo que nunca voltou: a memória daqueles 7 meses entre agosto e fevereiro.
Delmar não lembra nada daquele período. E recorda que a família sofreu muito, porque ele não reconhecia nem mesmo a própria esposa. Ele estava vivo, estava andando e falando, mas não recorda nem mesmo hoje, dois anos depois, do que fazia naquele período. Era como se estivesse ali em corpo, mas não em mente. Estava não estando. E diz que foi muito duro para esposa e filhos, que tiveram de conviver com isso e que permaneceram firmes, porque o amor familiar, como se sabe, é na alegria e tristeza, na saúde ou na doença.
Os médicos lhe deram vários tratamentos, inclusive para Alzheimer, na tentativa de bloquear o esquecimento e recuperar a memória. Mas só depois de fevereiro de 2022 foi que, aos poucos, bem aos poucos, Delmar foi se dando conta de QUEM ERA e foi voltando a se lembrar do que estava vivendo no dia a dia.
Hoje está bem. Está ótimo. A memória atual voltou. E até está novamente dirigindo. Mas o que ele viveu naqueles 7 meses, entre o dia primeiro de agosto e fevereiro do ano seguinte, ele nada recorda. Nada lembra. “É como se não tivesse acontecido”, diz ele.