Por Alan Caldas – Editor
Alguém da nova geração calçadista ainda sabe o que é isso?
Enviei para meus amigos sapateiros de raiz. Os da antiga. E todos ficaram maravilhados de saber que ainda existe para venda o pé-de-moleque.
Vários industriais, como Sérgio Wirth, por exemplo, me disseram que, 50 anos atrás ou mais, “o primeiro modelo deles foi produzido num desses”. Esse objeto foi o começo de toda essa maravilha industrial calçadista que temos hoje no Brasil e que produzirá, só neste ano de 2022, quase 1 bilhão de pares de sapatos para o mercado brasileiro e internacional.
No meio de tanta alta tecnologia que hoje se vê nas nossas indústrias de sapato, é bom nunca esquecer que nosso começo foi de forma simples. Simples, mas não simplória, porque de uma pequeníssima produção o talento empresarial foi se impondo, foi revolucionando o modo de produzir e gerou, finalmente, essa maravilha industrial que temos em Dois Irmãos hoje. E tudo, absolutamente tudo, começou com alguém sentado num banquinho, com um avental de couro, um martelinho e um pé-de-moleque onde ia conformando o couro e a sola que se transformaria num sapato, nossa maior riqueza regional.
Talles de Mileto disse, dois mil anos atrás, que “o homem é a medida de tudo”, e nossa região (e o desenvolvimento impregnado nela pelos nossos iniciadores das indústrias) confirma isso cabalmente. Hoje estamos muito além do Pé-de-moleque, mas foi com ele que iniciaram tudo que nos deu renda e vida digna.
Nunca nos esqueçamos disso. Isso é nossa esperança.
O princípio de tudo que vemos de bom ao nosso redor começou ali, simplesmente, mas, como disse, não simploriamente, pois os homens, que são a medida de tudo, foram fazendo upgrade e nos trouxeram até aqui.
Uma salva de palmas a esses homens. E uma salva de palmas ao nosso passado de pé-de-moleque, um instrumento tão simples quanto renovadamente poderoso e revolucionário.
Vive-se uma vida para ver isso. E, então, é uma vida bem vivida.